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Delírios ideológicos

Dois editais de alguns dos maiores jornais brasileiros chamaram a atenção nos últimos dias. O primeiro, da Folha de São Paulo, publicado no sábado, traz a declaração do Diretor de Redação Otávio Frias Filho sobre o polêmico termo “ditabranda”: “O uso da expressão “ditabranda” em editorial de 17 de fevereiro passado foi um erro. O termo tem uma conotação leviana que não se presta à gravidade do assunto. Todas as […] Leia mais

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Publicado em 9 de março de 2009 às, 18h25.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 13h57.

Dois editais de alguns dos maiores jornais brasileiros chamaram a atenção nos últimos dias. O primeiro, da Folha de São Paulo, publicado no sábado, traz a declaração do Diretor de Redação Otávio Frias Filho sobre o polêmico termo “ditabranda”:

“O uso da expressão “ditabranda” em editorial de 17 de fevereiro passado foi um erro. O termo tem uma conotação leviana que não se presta à gravidade do assunto. Todas as ditaduras são igualmente abomináveis.Do ponto de vista histórico, porém, é um fato que a ditadura militar brasileira, com toda a sua truculência, foi menos repressiva que as congêneres argentina, uruguaia e chilena -ou que a ditadura cubana, de esquerda. A nota publicada juntamente com as mensagens dos professores Comparato e Benevides na edição de 20 de fevereiro reagiu com rispidez a uma imprecação ríspida: que os responsáveis pelo editorial fossem forçados, “de joelhos”, a uma autocrítica em praça pública. Para se arvorar em tutores do comportamento democrático alheio, falta a esses democratas de fachada mostrar que repudiam, com o mesmo furor inquisitorial, os métodos das ditaduras de esquerda com as quais simpatizam.”

Já o editorial de hoje do jornal O Globo – “Delírio Ideológico” – comenta o tratamento heterodoxo que a Vale e a Embraer vêm recebendo depois que foram atingidas de forma direta pelos efeitos da crise mundial. Segue na íntegra:

“TEMA EM DISCUSSÃO: Caso Embraer

Pelo que representam, por já terem sido estatais e devido ao tamanho, Embraer e Vale têm sido alvo de várias incompreensões depois que foram atingidas de forma direta pelos efeitos da crise mundial. Grandes exportadoras, inevitável que o choque de crédito provocado pela quebra de instituições financeiras americanas, e seus efeitos em todas as economias, as vitimasse de maneira grave.

Num primeiro momento, as exportações de minério chegaram a cair 40%, enquanto a carteira de encomendas da Embraer encolheu de uma hora para outra, a ponto de fazer desaparecerem 30% do faturamento do terceiro fabricante de aviões do mundo. Nada de diferente aconteceu no exterior, mas, no Brasil, por força de especificidades ideológicas, o caso das duas empresas, obrigadas a fazer demissões, como qualquer outra, tem recebido um tratamento heterodoxo.

A Embraer, especificamente, foi obrigada a afastar 4.200 funcionários, muitos de alta qualificação, o equivalente a 20% da sua força de trabalho. Talvez acostumados aos tempos em que a fábrica era estatal, uma empresa que não se preocupava com os custos – pois o contribuinte arcava com os prejuízos -, sindicatos e representantes do governo reagiram como se a Embraer usasse a crise para demitir mão-de-obra qualificada. Algo sem sentido no setor privado.

A visão autárquica anticapitalista não existe apenas na esfera sindical ou encastelada no governo Lula. Ela também está infiltrada no Poder Judiciário, haja vista a decisão do Tribunal Regional do Trabalho, da 15ªRegião, de suspender as demissões com base em argumentos filosóficos, encharcados de ideologia, pelos quais, em síntese, nenhuma empresa pode demitir em nome do bem social. Quer dizer, na crise, decreta-se a falência de todos os empregadores – ou a mudança para um regime econômico centralizado, estatal, como os que naufragaram na década de 80.

Aplicada a visão da Justiça do Trabalho, todos os milhões de empregos na área privada da economia brasileira estão em risco. Mesmo que a interpretação seja revogada mais à frente, é grave existir na Justiça magistrados com essa cultura. A Embraer só se tornou um dos grandes fabricantes de aviões porque passou para a administração privada. Não é mais possível tratá-la como uma paquidérmica estatal. A não ser que o desejo seja destruí-la. Será um serviço executado sob aplausos da canadense Bombardier.”