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Cuba e a dúbia e errática diplomacia brasileira

Recomendo fortemente a leitura do artigo de Marcos Nobre – Cuba – publicado nesta terça-feira, dia 16 de março, na “Folha de SP”, onde o autor comenta a lamentável posição da atual política externa brasileira em relação aos direitos humanos. Confira abaixo: Cuba Por Marcos Nobre A maneira mais eficaz de evitar uma discussão de verdade é embolar os seus termos. É exatamente isso o que está acontecendo a propósito […] Leia mais

DR

Da Redação

Publicado em 16 de março de 2010 às 19h56.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 12h09.

Recomendo fortemente a leitura do artigo de Marcos Nobr e – Cuba – publicado nesta terça-feira, dia 16 de março, na “Folha de SP”, onde o autor comenta a lamentável posição da atual política externa brasileira em relação aos direitos humanos. Confira abaixo:

Cuba

Por Marcos Nobre

A maneira mais eficaz de evitar uma discussão de verdade é embolar os seus termos. É exatamente isso o que está acontecendo a propósito da situação em Cuba.
O que mais se vê é atribuição de intenções ocultas. Uns dizem que o governo devota um amor secreto pela ditadura stalinista da ilha. Outros pensam que é uma maneira de Lula dar conforto ideológico à militância petista em momento eleitoral. Há ainda quem veja confronto com os EUA e desejo de afirmação da diplomacia brasileira.
Em nenhum desses casos o que está em causa é de fato a situação cubana, mas a sucessão presidencial no Brasil. E a oportunidade de dar sobrevida artificial tanto a um anticomunismo decrépito quanto a um esquerdismo mumificado.
O primeiro requisito para um debate real seria separar diplomacia, eleição e ideologia. Ou, se não for para separar, que pelo menos quem entra no debate esclareça os seus objetivos.
Em seguida, seria bom saber se o que está em causa é a situação em Cuba ou a posição que o governo brasileiro deveria assumir em relação a ela. Se o caso for este último, fica difícil acrescentar algo ao excelente artigo que Claudia Antunes publicou no último sábado nesta Folha. O fundamental, segundo ela, é que, no “plano global, o Brasil precisa ser mais transparente sobre suas posições, sobretudo no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, no qual a diplomacia brasileira com frequência argumenta que negociar com os acusados de violações é mais produtivo do que sanções ou condenações rígidas”.
A manifestação de Lula, negando o caráter de legítima desobediência civil aos atos dos opositores do regime cubano, é simples ignomínia. Não há outra qualificação possível para tamanha barbaridade.
Mas a instrumentalização eleitoral e ideológica do caso cubano significa hoje manter tudo como está.
Serve à ditadura na ilha e à polarização eleitoral brasileira. E, já que tudo é ideologia, dispensa a dúbia e errática diplomacia brasileira de apresentar uma posição sobre direitos humanos no plano global que seja transparente e coerente. E esse é o ponto essencial.
Cuba é uma ilha miserável. É uma ditadura igualitarista à qual está vedado o caminho da China para alguma forma de capitalismo.
Nem está à vista ali um colapso sistêmico e político como se viu no Leste Europeu a partir de 1989.
Na discussão internacional, é uma ditadura que sobrevive da memória da Guerra Fria. Se o objetivo for promover os direitos humanos e a democracia, a primeira coisa a fazer é deixar de lado intenções ocultas e fantasmas de um outro século.

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Recomendo fortemente a leitura do artigo de Marcos Nobr e – Cuba – publicado nesta terça-feira, dia 16 de março, na “Folha de SP”, onde o autor comenta a lamentável posição da atual política externa brasileira em relação aos direitos humanos. Confira abaixo:

Cuba

Por Marcos Nobre

A maneira mais eficaz de evitar uma discussão de verdade é embolar os seus termos. É exatamente isso o que está acontecendo a propósito da situação em Cuba.
O que mais se vê é atribuição de intenções ocultas. Uns dizem que o governo devota um amor secreto pela ditadura stalinista da ilha. Outros pensam que é uma maneira de Lula dar conforto ideológico à militância petista em momento eleitoral. Há ainda quem veja confronto com os EUA e desejo de afirmação da diplomacia brasileira.
Em nenhum desses casos o que está em causa é de fato a situação cubana, mas a sucessão presidencial no Brasil. E a oportunidade de dar sobrevida artificial tanto a um anticomunismo decrépito quanto a um esquerdismo mumificado.
O primeiro requisito para um debate real seria separar diplomacia, eleição e ideologia. Ou, se não for para separar, que pelo menos quem entra no debate esclareça os seus objetivos.
Em seguida, seria bom saber se o que está em causa é a situação em Cuba ou a posição que o governo brasileiro deveria assumir em relação a ela. Se o caso for este último, fica difícil acrescentar algo ao excelente artigo que Claudia Antunes publicou no último sábado nesta Folha. O fundamental, segundo ela, é que, no “plano global, o Brasil precisa ser mais transparente sobre suas posições, sobretudo no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, no qual a diplomacia brasileira com frequência argumenta que negociar com os acusados de violações é mais produtivo do que sanções ou condenações rígidas”.
A manifestação de Lula, negando o caráter de legítima desobediência civil aos atos dos opositores do regime cubano, é simples ignomínia. Não há outra qualificação possível para tamanha barbaridade.
Mas a instrumentalização eleitoral e ideológica do caso cubano significa hoje manter tudo como está.
Serve à ditadura na ilha e à polarização eleitoral brasileira. E, já que tudo é ideologia, dispensa a dúbia e errática diplomacia brasileira de apresentar uma posição sobre direitos humanos no plano global que seja transparente e coerente. E esse é o ponto essencial.
Cuba é uma ilha miserável. É uma ditadura igualitarista à qual está vedado o caminho da China para alguma forma de capitalismo.
Nem está à vista ali um colapso sistêmico e político como se viu no Leste Europeu a partir de 1989.
Na discussão internacional, é uma ditadura que sobrevive da memória da Guerra Fria. Se o objetivo for promover os direitos humanos e a democracia, a primeira coisa a fazer é deixar de lado intenções ocultas e fantasmas de um outro século.

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