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“Consumo e representatividade estão cada vez mais ligados”

Michel Alcoforado, da Consumoteca, e Priscila Pereira Pinto, CEO do Imil, analisam o novo comportamento do consumidor

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Instituto Millenium

Publicado em 23 de janeiro de 2018 às, 13h10.

Não é de hoje que o perfil do consumidor brasileiro está mudando. Cada vez mais, as pessoas buscam responsabilidade das marcas que ofertam seus produtos e serviços, fortalecendo a consciência sobre as posições sociais e políticas das empresas com as quais se relacionam. Relacionamento, aliás, que ultrapassa os limites de compra e venda, alcançando o desejo de ser ver representado, seja nos setores público e privado, ou até no terceiro setor. O Instituto Millenium conversou com especialistas que analisaram a crescente ligação entre representatividade e o consumo. Ouça!

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O especialista em antropologia do consumo e sócio-diretor da Consumoteca, Michel Alcoforado, acredita que esse processo de representatividade vai se intensificar nos próximos anos. Isso se deve, segundo Michel, ao esvaziamento das formas antigas de representação, o que também acontece na política:

“Vemos os partidos políticos, a política e as arenas de debate na sociedade cada vez com menos valor, e os consumidores estão se valendo da forma como eles compram e do poder de seu dinheiro para poder referendar essas posições. Aplicativos e movimentos que vemos nas redes sociais, onde as pessoas deixam de comprar determinados produtos por conta das suas posições políticas e identidades nos seus pleitos, vão se fortalecer nos próximos anos”.

A CEO do Instituto Millenium, Priscila Pereira Pinto, também acredita que o consumidor passou a se responsabilizar mais com as suas escolhas. Agora, ele quer saber de onde vem o produto ou serviço que é prestado, que tipo de tratamento a empresa dá aos seus funcionários, ao meio ambiente etc. Um processo que também é influenciado pelo terceiro setor, explica a CEO:

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“O terceiro setor acaba alimentando com pesquisas, possibilidades de eventos com debates sobre o que é democracia, responsabilidade, voto consciente… Tudo isso afeta a economia e o bolso do consumidor. O brasileiro, principalmente nessa faixa etária dos 20 aos 30 e poucos anos, começa a entender que se ele pode optar por algo que represente sua imagem no setor privado, também deve escolher quem vai representá-lo no campo político e como ele pode se identificar e cobrar essa pessoa”.

Michel pontua que as redes sociais têm papel importante neste contexto, já que se tornaram novas arenas para o debate:

“As novas formas de representatividade estão atreladas ao surgimento de outras pautas de disputa. Antes, há 20 ou 30 anos, o debate político estava baseado em dois lados muito claros: ou você era progressista e conservador ou era de esquerda ou direita. Hoje, a cada dia novas pautas vem surgindo. Do meu ponto de vista, essa é a grande transformação que vemos atualmente. A cada dia surgem minorias dentro das minorias, pontuando suas maneiras de pensar e enxergar o mundo, e querendo também representatividade dentro desse cenário”, acrescenta.