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Conscientização não paga a conta de energia

Há uma predisposição dos brasileiros a mudar hábitos de consumo para ajudar na luta contra o aquecimento global, apontou Datafolha

Ao longo de mais de três décadas a PSR vem oferecendo, desde sua sede no Rio de Janeiro, serviços de tecnologia e consultoria na indústria de energia em mais de 70 países. (zhengzaishuru/Getty Images)
Ao longo de mais de três décadas a PSR vem oferecendo, desde sua sede no Rio de Janeiro, serviços de tecnologia e consultoria na indústria de energia em mais de 70 países. (zhengzaishuru/Getty Images)

Uma pesquisa do Datafolha divulgada no início de julho apontou uma predisposição dos brasileiros a mudar hábitos de consumo para ajudar na luta contra o aquecimento global. Entre os achados estão desde ações mais simples, como trocar as lâmpadas de casa por modelos mais econômicos (99%), até mudanças que demandam um esforço ou investimento maior, como pagar mais caro por um carro elétrico (63%), colocar painéis solares em casa (89%) e reduzir o consumo de carne para proteger o meio ambiente (68%). 

Os resultados da pesquisa trazem uma sinalização positiva de que já há uma ampla consciência da população em relação à necessidade de proteger o meio ambiente e de combater as mudanças climáticas. O que a pesquisa deixa de lado, no entanto, são as barreiras para que essa consciência se traduza em mudanças reais.  

No livro "The righteous mind", o psicólogo social Jonathan Haidt fala sobre o predomínio da intuição sobre a racionalidade e sobre como usamos a razão para justificar ações e decisões que tomamos a partir de nossos valores e visões de mundo. Segundo o autor, se quisermos mudar a forma como as pessoas se comportam, precisamos ou alterar suas visões de mundo, que é algo que leva tempo, ou, fazendo menção às ideias do livro Switch, de Chip e Dan Heath, produzir mudanças no meio em que as pessoas estão inseridas.  

Sendo assim, como gerar mudanças reais rumo a um futuro mais sustentável para o Brasil e que considere a realidade dos brasileiros, seus valores e o meio em que estão inseridos? Políticas públicas que destravem mecanismos de incentivo e que promovam a participação das pessoas para que se vejam como agentes da mudança.  

Tomemos como exemplo a adoção de painéis solares. De acordo com a pesquisa Energy Consumer Survey, realizada pela consultoria EY em 2023, 84% dos brasileiros priorizam decisões com foco na redução dos custos com energia.  

No mês de julho, a conta de energia vai subir em decorrência da previsão da falta de chuvas. Independentemente de qual a fonte de energia, então, é a conta de luz que estará no centro da preocupação dos brasileiros quando se trata de energia.  

Painéis solares já são vistos como solução para que energia pese menos no bolso. No primeiro trimestre de 2024, os consumidores da classe C responderam por 45% do total de pedidos de crédito para a instalação de painéis solares nos telhados. De acordo com o levantamento da plataforma Meu Financiamento Solar, a motivação foi a redução dos preços dos kits solares e um desejo do consumidor de se blindar das aplicações das bandeiras tarifárias amarela e vermelha.  

E podem, também, ser um caminho para aliviar o cenário de pobreza energética. Hoje, segundo o IPEC (2022), 46% dos brasileiros dizem gastar mais do que a metade do orçamento familiar com despesas energéticas. O Programa Renda Básica Energética (Rebe), que está em discussão no Senado, visa a instalação de painéis de energia solar em residências de famílias de baixa renda que são beneficiárias da Tarifa Social de Energia Elétrica (TSEE). A proposta do programa é substituir gradativamente o subsídio destinado à TSEE pela energia gerada nessas centrais de energia solar fotovoltaica, beneficiando os consumidores de baixa renda com consumo até 220 kWh/mês. 

Projetos como a Revolusolar, além de garantirem a adoção de painéis solares por famílias de baixa renda, também trazem a população como parte da mudança. A metodologia desenvolvida pela organização, que hoje atua em favelas no Rio de Janeiro, no Amazonas, em São Paulo e no Espírito Santo, prevê três eixos de atuação: instalação de painéis solares, formação profissional para capacitar moradores para serem eletricistas, instaladores e técnicos de manutenção, e atividades educativas para que a comunidade assuma a autogestão das atividades.  

A conscientização é importante, mas, no final do mês, o que os brasileiros querem é ter a certeza de que a luz acenderá ao apertar o interruptor de que a conta de energia vai caber no orçamento familiar.