Com regras de 1930, Brasil começa a discutir uma reforma cambial
Para Roberto Luis Troster, mudanças ao longo das décadas fizeram com que regras ficassem anacrônicas. Entenda!
institutomillenium
Publicado em 19 de setembro de 2019 às 12h49.
Imagine a situação de um país que tenta se consolidar entre as principais economias do mundo, mas possui regras cambiais dos anos 1930: este é um dos principais obstáculos que o Brasil enfrenta atualmente. Para se inserir no cenário internacional, cada vez mais globalizado, o Banco Central está estudando medidas para flexibilizar as regras e adequá-las ao momento atual do mercado.
Em entrevista ao Instituto Millenium, o economista Roberto Luís Troster traçou um panorama sobre as regras atuais e ressaltou que o contexto de décadas atrás era completamente diferente. “A lei cambial em vigor no Brasil foi sancionada em 1933 por Oswaldo Aranha e Getúlio Vargas. Neste período, fazia sentido haver restrição cambial, uma vez que o Brasil importava de tudo e só exportava commodities”, lembrou.
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No entanto, de lá para cá houve diversas transformações: a economia do Brasil cresceu e se tornou grande exportadora. Ao mesmo tempo, o mundo passou a ficar cada vez mais globalizado, intensificando as relações internacionais. Isso fez com que as atuais regras ficassem anacrônicas. “Por exemplo: se eu quiser mandar € 100 para o meu filho, terei que fazer cadastro em banco e assinar procuração. Além disso, provavelmente cerca de € 20 ficarão no caminho, por conta de taxas como o IOF. Se eu fizer a mesma transação por bitcoins, perco apenas € 5”, disse.
Na visão de Troster, um cenário de incertezas é o pior dos mundos. “Quando o real está desvalorizado, o exportador ganha. Quando a nossa moeda está valorizada, o importador ganha. Mas quando há volatilidade, todo mundo perde, e essa incerteza é ruim para todos”.
Leia mais de Roberto Luis Troster
Pontos cegos no debate sobre crédito
Jubileu de prata do real
O economista defende uma grande flexibilização, que seria mais adequada para o atual momento do mercado. “Deveria ser permitido ter conta em real, dólar, qualquer moeda. Isso resolveria vários problemas, especialmente para os pequenos importadores e exportadores. Hoje, os grandes têm vantagem, porque possuem bons relacionamentos com os bancos e conseguem fazer o câmbio quase no limite do mercado. Enquanto isso, os pequenos sofrem, assim como usuários de cartão de crédito e quem usa a moeda estrangeira para o turismo”, disse, deixando claro que não há risco de dolarização da economia com a medida.
O economista destacou que a desregulamentação faria com que novos investimentos chegassem ao país. “Quanto mais aberta a economia, mais fácil entrar dinheiro. Quanto mais fácil, melhor funciona. Uma porta estreita sempre dá problemas, tanto para entrar quanto para sair”, disse.
As mudanças que estão sendo planejadas
Recentemente, o presidente do BC falou sobre as alterações que estão sendo planejadas, em um conjunto de mudanças que ganhou o nome de BC# (hashtag). As mais de 450 regras para as transações em moeda estrangeira devem se tornar apenas uma lei, mais simples. Para o cidadão comum, pouca coisa muda, mas uma questão será perceptível: o brasileiro poderá abrir contas correntes em dólares.
O objetivo, além de modernizar o sistema cambial brasileiro, é aumentar a competitividade do país e reduzir custos para empresas que possuem negócios no exterior. Outra consequência do conjunto de medidas será a facilitação da atuação de fintechs internacionais.
A importância da política cambial para a economia
A política cambial do Brasil é regulada pelo Banco Central, com um conjunto de ações que estipula as taxas e regulamenta as operações de câmbio no país, definindo as relações financeiras internacionais, a forma de atuação no mercado de câmbio, as regras para a movimentação de capitais e de moeda, além da gestão das reservas internacionais. Isso parece distante, mas afeta todos os preços de produtos exportados e importados, ou seja: o consumidor sente, no bolso, os reflexos desta política.
Imagine a situação de um país que tenta se consolidar entre as principais economias do mundo, mas possui regras cambiais dos anos 1930: este é um dos principais obstáculos que o Brasil enfrenta atualmente. Para se inserir no cenário internacional, cada vez mais globalizado, o Banco Central está estudando medidas para flexibilizar as regras e adequá-las ao momento atual do mercado.
Em entrevista ao Instituto Millenium, o economista Roberto Luís Troster traçou um panorama sobre as regras atuais e ressaltou que o contexto de décadas atrás era completamente diferente. “A lei cambial em vigor no Brasil foi sancionada em 1933 por Oswaldo Aranha e Getúlio Vargas. Neste período, fazia sentido haver restrição cambial, uma vez que o Brasil importava de tudo e só exportava commodities”, lembrou.
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No entanto, de lá para cá houve diversas transformações: a economia do Brasil cresceu e se tornou grande exportadora. Ao mesmo tempo, o mundo passou a ficar cada vez mais globalizado, intensificando as relações internacionais. Isso fez com que as atuais regras ficassem anacrônicas. “Por exemplo: se eu quiser mandar € 100 para o meu filho, terei que fazer cadastro em banco e assinar procuração. Além disso, provavelmente cerca de € 20 ficarão no caminho, por conta de taxas como o IOF. Se eu fizer a mesma transação por bitcoins, perco apenas € 5”, disse.
Na visão de Troster, um cenário de incertezas é o pior dos mundos. “Quando o real está desvalorizado, o exportador ganha. Quando a nossa moeda está valorizada, o importador ganha. Mas quando há volatilidade, todo mundo perde, e essa incerteza é ruim para todos”.
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Pontos cegos no debate sobre crédito
Jubileu de prata do real
O economista defende uma grande flexibilização, que seria mais adequada para o atual momento do mercado. “Deveria ser permitido ter conta em real, dólar, qualquer moeda. Isso resolveria vários problemas, especialmente para os pequenos importadores e exportadores. Hoje, os grandes têm vantagem, porque possuem bons relacionamentos com os bancos e conseguem fazer o câmbio quase no limite do mercado. Enquanto isso, os pequenos sofrem, assim como usuários de cartão de crédito e quem usa a moeda estrangeira para o turismo”, disse, deixando claro que não há risco de dolarização da economia com a medida.
O economista destacou que a desregulamentação faria com que novos investimentos chegassem ao país. “Quanto mais aberta a economia, mais fácil entrar dinheiro. Quanto mais fácil, melhor funciona. Uma porta estreita sempre dá problemas, tanto para entrar quanto para sair”, disse.
As mudanças que estão sendo planejadas
Recentemente, o presidente do BC falou sobre as alterações que estão sendo planejadas, em um conjunto de mudanças que ganhou o nome de BC# (hashtag). As mais de 450 regras para as transações em moeda estrangeira devem se tornar apenas uma lei, mais simples. Para o cidadão comum, pouca coisa muda, mas uma questão será perceptível: o brasileiro poderá abrir contas correntes em dólares.
O objetivo, além de modernizar o sistema cambial brasileiro, é aumentar a competitividade do país e reduzir custos para empresas que possuem negócios no exterior. Outra consequência do conjunto de medidas será a facilitação da atuação de fintechs internacionais.
A importância da política cambial para a economia
A política cambial do Brasil é regulada pelo Banco Central, com um conjunto de ações que estipula as taxas e regulamenta as operações de câmbio no país, definindo as relações financeiras internacionais, a forma de atuação no mercado de câmbio, as regras para a movimentação de capitais e de moeda, além da gestão das reservas internacionais. Isso parece distante, mas afeta todos os preços de produtos exportados e importados, ou seja: o consumidor sente, no bolso, os reflexos desta política.