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Cenário de incerteza deve trazer mudanças no comércio exterior

Em entrevista exclusiva ao Millenium, Rubens Barbosa analisa impactos da pandemia na economia global

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institutomillenium

Publicado em 11 de maio de 2020 às 14h55.

As incertezas que assolam o mundo em tempos de pandemia do novo Coronavírus devem gerar mudanças nas relações comerciais entre os países após o período mais grave da crise. A análise foi feita pelo diplomata Rubens Barbosa. Em entrevista exclusiva ao Instituto Millenium, o ex-embaixador do Brasil em Washington analisou os impactos da pandemia nas relações de comércio e como nós podemos ser afetados por isso. Ouça!

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Barbosa destacou que é difícil fazer previsões neste momento, pois há mais incógnitas do que convicções. O principal ponto de interrogação é sobre a relação – sempre turbulenta – entre China e EUA, que deve se agudizar após o pico da Covid-19. A falta de previsibilidade sobre o grau das divergências entre as duas potências econômicas gera um cenário de incerteza. No entanto, é possível analisar algumas mudanças, como uma descentralização na produção industrial. “Hoje, a China engloba ou contém cadeias de valor agregado, porque se tornou o grande produtor industrial global. Deve haver uma tendência de descentralização. Mas como vai ser feito isso? É possível ser feito isso?”, questionou.

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Outra ação que pode acontecer é a adoção de medidas restritivas, tanto na oferta quanto na demanda. Rubens Barbosa citou o corte de suprimento de trigo, por parte da Rússia e da Ucrânia, para o exterior. Por outro lado, países que consomem estes produtos devem impor condições sanitárias muito mais rígidas do que as atuais. Outro ponto de incerteza é o papel da Organização Mundial do Comércio (OMC), que foi desarticulada.

São questões que jogam gasolina em um incêndio de grandes proporções, provocado pela própria queda da atividade econômica, que, por conta da pandemia, ocorre em um grau nunca visto no que se refere ao comércio exterior. “As projeções feitas pelo Banco Mundial, OCDE e OMC mostram que o comércio internacional vai cair de 3% a 4%. Isso é mais do que a produção global, sendo que antes o comércio crescia mais do que a produção global. O cenário internacional é complicado para países como o Brasil, que possuem posição de destaque na exportação de bens primários. Pode haver tensão nessa área”, analisou.

Rubens Barbosa destacou, no entanto, que ainda é muito cedo para realizar uma projeção em linha com a realidade, uma vez que ainda não está claro qual impacto a crise sanitária provocará nas principais economias e nas nações em desenvolvimento. “O mundo inteiro está na segunda fase, que é a tentativa de saída das restrições de circulação. Somente na terceira etapa, que é a da recuperação econômica, é que será possível observar as tendências futuras”, disse, acrescentando:“Todos os países estão experimentando uma queda brutal do crescimento. A situação global vai ficar difícil, pois todos estão aumento os gastos públicos para auxiliar os mais pobres, com renda mínima; e também para apoiar as empresas”.

O especialista lembrou ainda que os países que estão se saindo melhor desta crise foram os que tomaram medidas adequadas para a reconstrução.

Disputa por hegemonia

A crise em torno do novo Coronavírus surge em um momento de forte disputa: os EUA lutam para manter a hegemonia sobre a China, que avançou muito nos últimos anos. “Essa rivalidade geopolítica está aí para ficar. Não é apenas uma disputa comercial, mas também tecnológica, que se vê na própria pandemia, pela hegemonia dos países no século XXI. Os EUA procuram conter o crescimento e o poderio da China. Era diferente da Guerra Fria com a União Soviética, quando havia componentes bélicos, armados”, disse.

Rubens Barbosa, por outro lado, não acredita que haverá grandes prejuízos ao conceito de globalização que existia antes desta crise – no entanto, alguns ajustes deverão acontecer. “Não acredito que vai haver grandes modificações. A globalização financeira e comercial já está aí. Vamos assistir a pequenas mudanças. Se os democratas ganharem as eleições, os EUA voltariam a participar dos assuntos globais, porque hoje, com Trump, o país se isolou, esvaziando a OMC e preferindo as relações bilaterais. Com isso, houve uma perda desse importante ângulo que é o multilateralismo”, disse.

Setor no Brasil tem bons resultados

Apesar da forte retração no comércio global, dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia mostram que o Brasil ainda não sentiu os efeitos da pandemia nas transações internacionais. O total da corrente comercial nacional teve uma pequena oscilação para baixo, mas praticamente manteve os números de 2019: US$ 123,4 bilhões neste ano, contra US$ 126,2 bilhões do ano passado. A corrente de comércio no primeiro quadrimestre foi 2% inferior à de 2019 – uma das menores variações entre as economias do G20. Além disso, mesmo a China sendo o epicentro do coronavírus, as exportações para o país cresceram 11,3% nos primeiros quatro meses de 2020.

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As incertezas que assolam o mundo em tempos de pandemia do novo Coronavírus devem gerar mudanças nas relações comerciais entre os países após o período mais grave da crise. A análise foi feita pelo diplomata Rubens Barbosa. Em entrevista exclusiva ao Instituto Millenium, o ex-embaixador do Brasil em Washington analisou os impactos da pandemia nas relações de comércio e como nós podemos ser afetados por isso. Ouça!

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Barbosa destacou que é difícil fazer previsões neste momento, pois há mais incógnitas do que convicções. O principal ponto de interrogação é sobre a relação – sempre turbulenta – entre China e EUA, que deve se agudizar após o pico da Covid-19. A falta de previsibilidade sobre o grau das divergências entre as duas potências econômicas gera um cenário de incerteza. No entanto, é possível analisar algumas mudanças, como uma descentralização na produção industrial. “Hoje, a China engloba ou contém cadeias de valor agregado, porque se tornou o grande produtor industrial global. Deve haver uma tendência de descentralização. Mas como vai ser feito isso? É possível ser feito isso?”, questionou.

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Outra ação que pode acontecer é a adoção de medidas restritivas, tanto na oferta quanto na demanda. Rubens Barbosa citou o corte de suprimento de trigo, por parte da Rússia e da Ucrânia, para o exterior. Por outro lado, países que consomem estes produtos devem impor condições sanitárias muito mais rígidas do que as atuais. Outro ponto de incerteza é o papel da Organização Mundial do Comércio (OMC), que foi desarticulada.

São questões que jogam gasolina em um incêndio de grandes proporções, provocado pela própria queda da atividade econômica, que, por conta da pandemia, ocorre em um grau nunca visto no que se refere ao comércio exterior. “As projeções feitas pelo Banco Mundial, OCDE e OMC mostram que o comércio internacional vai cair de 3% a 4%. Isso é mais do que a produção global, sendo que antes o comércio crescia mais do que a produção global. O cenário internacional é complicado para países como o Brasil, que possuem posição de destaque na exportação de bens primários. Pode haver tensão nessa área”, analisou.

Rubens Barbosa destacou, no entanto, que ainda é muito cedo para realizar uma projeção em linha com a realidade, uma vez que ainda não está claro qual impacto a crise sanitária provocará nas principais economias e nas nações em desenvolvimento. “O mundo inteiro está na segunda fase, que é a tentativa de saída das restrições de circulação. Somente na terceira etapa, que é a da recuperação econômica, é que será possível observar as tendências futuras”, disse, acrescentando:“Todos os países estão experimentando uma queda brutal do crescimento. A situação global vai ficar difícil, pois todos estão aumento os gastos públicos para auxiliar os mais pobres, com renda mínima; e também para apoiar as empresas”.

O especialista lembrou ainda que os países que estão se saindo melhor desta crise foram os que tomaram medidas adequadas para a reconstrução.

Disputa por hegemonia

A crise em torno do novo Coronavírus surge em um momento de forte disputa: os EUA lutam para manter a hegemonia sobre a China, que avançou muito nos últimos anos. “Essa rivalidade geopolítica está aí para ficar. Não é apenas uma disputa comercial, mas também tecnológica, que se vê na própria pandemia, pela hegemonia dos países no século XXI. Os EUA procuram conter o crescimento e o poderio da China. Era diferente da Guerra Fria com a União Soviética, quando havia componentes bélicos, armados”, disse.

Rubens Barbosa, por outro lado, não acredita que haverá grandes prejuízos ao conceito de globalização que existia antes desta crise – no entanto, alguns ajustes deverão acontecer. “Não acredito que vai haver grandes modificações. A globalização financeira e comercial já está aí. Vamos assistir a pequenas mudanças. Se os democratas ganharem as eleições, os EUA voltariam a participar dos assuntos globais, porque hoje, com Trump, o país se isolou, esvaziando a OMC e preferindo as relações bilaterais. Com isso, houve uma perda desse importante ângulo que é o multilateralismo”, disse.

Setor no Brasil tem bons resultados

Apesar da forte retração no comércio global, dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia mostram que o Brasil ainda não sentiu os efeitos da pandemia nas transações internacionais. O total da corrente comercial nacional teve uma pequena oscilação para baixo, mas praticamente manteve os números de 2019: US$ 123,4 bilhões neste ano, contra US$ 126,2 bilhões do ano passado. A corrente de comércio no primeiro quadrimestre foi 2% inferior à de 2019 – uma das menores variações entre as economias do G20. Além disso, mesmo a China sendo o epicentro do coronavírus, as exportações para o país cresceram 11,3% nos primeiros quatro meses de 2020.

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