Cai o homem que falou demais, para o governo
Depois de extensa entrevista ao Valor Econômico (comentada aqui), caiu o diretor de política monetária do Banco Central, Mário Torós. As ditas “fontes do governo” dizem que a situação do economista ficou insustentável, que ele teria revelado detalhes de estratégia que deveria ter permanecido em segredo etc. Há até quem diga (em off, nas matérias já publicadas) que foi uma forma dele vender sua competência para voltar à iniciativa privada. […] Leia mais
Publicado em 17 de novembro de 2009 às, 00h23.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 12h48.
Depois de extensa entrevista ao Valor Econômico (comentada aqui), caiu o diretor de política monetária do Banco Central, Mário Torós. As ditas “fontes do governo” dizem que a situação do economista ficou insustentável, que ele teria revelado detalhes de estratégia que deveria ter permanecido em segredo etc. Há até quem diga (em off, nas matérias já publicadas) que foi uma forma dele vender sua competência para voltar à iniciativa privada. Besteira. Chega-se lá já com competência e sai-se com mais experiência.
É, de fato ele abriu a boca, mas não sua queda não pode ser atribuída por dizer quanto o BC tinha de reserva, quanto queria usar, como atuou no dia-a-dia na ponta do câmbio, quanto migrou de bancos pequenos e médios para grandes. Isso é efetivamente informação passada, que refletia a tensão do momento e como ela foi gerenciada. Mais séria – e ruim para o governo – é a imagem de bobo que ficou de Guido Mantega na matéria, como aquele que nada fazia de certo e quando falava ainda dizia besteira, como revelar a estratégia de preservação das reservas.
Mas há outra lição nesse episódio. Um lado bom é que um diretor do BC pode revelar as entranhas do poder e nada acontecer com “o mercado” (vai entre aspas porque mercado é muito mais do que apenas o índice da Bolsa e do dólar no fechamento do dia anterior). Outra é que já passou do tempo de garantir a independência formal do BC.