Os cientistas finalmente vão conseguir reconstituir o big bang. Dizem que vai dar para saber como tudo começou, e até qual foi a participação de Deus nessa história toda.
Lula deve estar preocupado. A colisão dos feixes de prótons pode ser distorcida pelos jornais. E a imprensa burguesa vai querer editar a aparição dele, algum tempo depois de Adão e Eva.
O pessoal que lê os jornais para o presidente deve estar de sobreaviso. A história da criação não pode ser manipulada pelas elites. Se bobear, a imprensa golpista suprime a passagem em que Lula se mete entre Moisés e Maomé para pacificar Jerusalém.
O superacelerador de partículas vai trazer toda a verdade à tona. Ficaremos sabendo, por exemplo, que o pai do Plano Real não foi nem Fernando Henrique, nem Itamar Franco. Foi Lula quem domou a inflação, domesticou o FMI e pôs a economia nos eixos.
O choque de prótons há de mostrar o DNA do ex-operário no Proer, que fortaleceu o sistema financeiro contra a crise global que viria.
A simulação do big bang mostrará também que os anos de 1500, 1808 e 1822 têm muita imprensa – mas o Brasil começou a ser Brasil mesmo em 2003. Os papers do Ipea e da FGV estão aí para não deixar as partículas subatômicas mentirem.
Garanhuns finalmente será vizinha de Jerusalém na mitologia, com a história siamesa de seus rebentos pobres que saíram da manjedoura para mudar tudo.
Resta saber se a experiência dos cientistas alcançará o ponto em que Lula, também por milagre, põe no mundo a predestinada Dilma. E se a imprensa herege vai conspurcar essa passagem do Novo Gênesis.
(Publicado em “Época”)