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Atração de investimentos deve acompanhar pacote de privatizações

Adriano Pires analisa medida anunciada pelo governo federal e reflexos na economia

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Instituto Millenium

Publicado em 21 de agosto de 2019 às, 16h18.

O governo federal anunciou nesta quarta-feira (21) um grande pacote de privatizações, que inclui estruturas como a Eletrobras, os Correios, a Casa da Moeda, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). Ao todo, são 17 empresas que deixarão de ser estatais. Entrevistado pelo Instituto Millenium, o economista Adriano Pires disse que esta é uma “excelente notícia”, mas fez um alerta: o governo precisa atrair investimentos para retomar a economia. Ouça!

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“Acho que esta é uma excelente notícia. O presidente Jair Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes estão cumprindo o que foi prometido durante a campanha eleitoral. Me parece que as privatizações são boas, pois o governo irá recolher mais impostos e haverá menos corrupção. Então, é um processo de ganha-ganha”, destacou.

Pires alertou, no entanto, que, além de privatizar, o governo federal tem o desafio de atrair novos investimentos. Isso porque os efeitos na economia deverão ser sentidos apenas em médio e longo prazos, uma vez que, logo após a conclusão dos processos de privatização, a tendência é de que as novas empresas enxuguem as suas estruturas, geralmente inchadas pelo excesso de funcionários sem a devida eficiência.

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“Uma das características que tornam a empresa estatal ineficiente é o grande número de empregados, porque muitos concursos públicos são feitos, há pessoas contratadas para atender os pedidos de deputados e senadores, então as estatais são inchadas. Quando se privatiza, o novo dono vai correr atrás de buscar maior eficiência, e uma das primeiras medidas é cortar o número de funcionários”, lembrou Adriano Pires, ressaltando, no entanto, que a médio prazo o processo de privatização é bom para o país, pois gera maior eficiência e arrecadação.

A aceleração da economia acontece, de acordo com o economista, a partir da geração de novos empregos, e isso só será possível com a retomada dos investimentos. “O desafio, além de privatizar, é atrair investidores para projetos novos. É preciso trazer gente que construa novas refinarias, novas estradas, novos aeroportos, porque aí sim geramos emprego diretamente. Precisamos atrair estas pessoas, e isso hoje não acontece da maneira que todos nós desejamos, por conta da regulação ruim e da simetria tributária, que não atraem o investidor de qualidade”, ponderou.

Impactos da privatização

Entre os bons impactos que o processo de privatizações deve gerar na gestão pública e no ambiente de negócios do país, está a melhoria na eficiência e na qualidade dos serviços. Um dos exemplos é com relação aos Correios: o que antes era um símbolo nacional se transformou em um sinônimo de ineficiência e irritação para os consumidores. “Correio hoje em dia é uma palavra até velha, porque as mudanças tecnológicas geraram um impacto brutal sobre esse tipo de atividade. Então, quem vai comprar dará um ‘banho de loja’ e o serviço será de maior qualidade em relação ao que acontece atualmente”, destacou.

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Pires lembrou, ainda, que a tendência é a corrupção nas estatais acabar, já que haverá menor interferência dos governos. “Com a gestão nas mãos da iniciativa privada, vamos acabar com as indicações políticas e a corrupção. Nos últimos anos, lemos, por exemplo, notícias sobre o fundo Postalis, envolvido em operações fraudulentas de todos os tipos”, lembrou, provocando uma reflexão: “Imagina se o sistema de telefonia fosse estatal, qual seria o tamanho da Operação Lava-Jato, que já é grande?”

Entenda a privatização da Eletrobras

Adriano Pires também explicou como funciona a proposta de privatização da Eletrobras. Caso o projeto seja aprovado, a empresa se tornará uma corporação, com um acionista controlador e acionistas relevantes – hoje, o governo é acionista majoritário da empresa do setor elétrico. Com isso, o Conselho de Administração, formado pelos acionistas, irá designar uma diretoria executiva. “Na minha opinião, esta proposta é inteligente e moderna. Esse modelo não é muito comum e foi adotado recentemente com a BR Distribuidora. A vantagem é criar empresas com capacidade de investimento”, disse, lembrando que as dez maiores investidoras são organizações do tipo.

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Pires afirmou que tem uma boa expectativa para a privatização, mas alertou: o governo precisa se movimentar para aprovar a proposta. “Não há uma base governista muito unida e com pensamento em linha reta. Você vê que a reforma da Previdência passou graças ao deputado Rodrigo Maia, que conduziu e conseguiu aprovar o projeto. Quem tem que trabalhar e conduzir este processo, conversar com a base, é o governo. Tenho a preocupação se vão conseguir criar uma unidade, permitindo a privatização”, disse.

Quais são as estatais privatizadas

No pacote anunciado pelo presidente Jair Bolsonaro, estão, além das empresas já citadas, as Companhias Docas dos Estados de São Paulo (Codesp) e do Espírito Santo (Codesa), a Loteria Instantânea Exclusiva (Lotex), o Centro de Excelência em Tecnologia Avançada (Celtec), as Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (Ceasaminas), a Companhia de Entrepostos e Armazéns de São Paulo (Ceagesp), a Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias (ABGF), a Empresa Gestora de Ativos (Emgea), o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) e a Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (Datprev).