Anestesia ética
Editorial da Zero Hora de hoje fala sobre os contínuos escândalos de Senado: “A falta de disposição do Senado de tomar alguma atitude objetiva diante do impasse criado pelas denúncias relacionadas ao seu presidente, José Sarney (PMDB-AP), e a absolvição em definitivo do deputado Edmar Moreira (sem partido, MG) pelo Conselho de Ética da Câmara revelam o descompromisso de integrantes do Congresso com a moralidade na política. Quando até mesmo […] Leia mais
Publicado em 10 de julho de 2009 às, 14h10.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 13h28.
Editorial da Zero Hora de hoje fala sobre os contínuos escândalos de Senado:
“A falta de disposição do Senado de tomar alguma atitude objetiva diante do impasse criado pelas denúncias relacionadas ao seu presidente, José Sarney (PMDB-AP), e a absolvição em definitivo do deputado Edmar Moreira (sem partido, MG) pelo Conselho de Ética da Câmara revelam o descompromisso de integrantes do Congresso com a moralidade na política. Quando até mesmo líderes do Legislativo, que deveriam dar o exemplo e cumprir à risca a atribuição de zelar pela retidão dos atos do Executivo, parecem se aproveitar de uma espécie de letargia nacional para acobertar seus pares e fingir que nada está ocorrendo de irregular, a sociedade tem ainda mais razões para se preocupar. A particularidade de serem tantas as denúncias e tão corriqueiros os sinais de despreocupação em relação a elas não pode servir para reforçar uma espécie de cansaço entre a população, nem para passar a ideia de que a corrupção está em todo lugar e que é difícil vencê-la, pois não está e deve, sim, ser derrotada.
Alguns dos casos mais recentes na esfera dos desvios na política são particularmente ilustrativos de até onde podem chegar os desmandos e a impunidade nessa área. Um deles é a absolvição, pelo Conselho de Ética da Câmara, do deputado Edmar Moreira. O parlamentar, mais conhecido por ser dono de um prédio em forma de castelo avaliado em R$ 25 milhões, é acusado pelo uso de recursos da chamada verba de representação de seu gabinete na contratação de serviços de segurança de empresas de sua propriedade. O outro episódio envolve o próprio presidente do Senado, contra o qual as acusações surgidas a cada dia reforçam o perfil de quem fez da política uma plataforma para a privatização dos espaços públicos em benefício próprio, de familiares e de um círculo de amigos, sem que nenhuma das tantas denúncias pareça capaz de abalar sua reputação, muito menos colocar seu cargo em risco. A mais recente de uma rotina de novas irregularidades é a denúncia de desvio de verbas da Petrobras para a Fundação José Sarney, por meio de empresas-fantasmas e outras da família em nome de um projeto que nunca saiu do papel.
De alguma forma, essa situação em que as acusações se sucedem, sem merecer reações à altura por parte de quem deveria apurá-las para posterior punição, também se repete no Estado e se mantém por ser conveniente para quem aposta no tempo e na saturação como estratégia de relegar os fatos ao esquecimento. No caso específico envolvendo integrantes do governo gaúcho, a quantidade de fatos, de pessoas envolvidas, de versões, de investigações e de processos em diferentes instâncias têm se revelado tão grande, que ao final tudo parece se confundir e se mostrar mais do mesmo, perdendo força, quando não há razões para isso.
Em qualquer dessas situações, o conformismo será sempre a pior atitude. A sociedade precisa reagir aos maus políticos, a um Senado que não pune e a uma Câmara disposta a desmoralizar até mesmo seu Conselho de Ética, pois essa é a forma de contribuir para o fortalecimento da democracia.”