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A influência do governo na estratégia das empresas

A forma como o Estado está interagindo com as empresas no Brasil cria incertezas sobre o retorno dos investimentos e abre as portas para que alguns grupos sejam beneficiados e protegidos. A avaliação é do economista Sérgio Lazzarini, professor titular do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), que nesta sexta-feira, dia 5 de dezembro, debate com os jornalistas da revista “Exame” o tema “A influência do governo na estratégia das […] Leia mais

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Instituto Millenium

Publicado em 2 de dezembro de 2014 às, 15h09.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 08h12.

A forma como o Estado está interagindo com as empresas no Brasil cria incertezas sobre o retorno dos investimentos e abre as portas para que alguns grupos sejam beneficiados e protegidos. A avaliação é do economista Sérgio Lazzarini, professor titular do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), que nesta sexta-feira, dia 5 de dezembro, debate com os jornalistas da revista “Exame” o tema “A influência do governo na estratégia das empresas”. O encontro faz parte da 21ª edição do “Millenium nas redações”, cujo objetivo é promover o diálogo entre especialistas da rede do Instituto Millenium e jornalistas de todo Brasil.

Segundo Lazzarini, as ações do governo têm interferido na estratégia das empresas principalmente nos últimos oito anos. Em um primeiro momento, de acordo com o economista, a interferência do Estado ocorreu na forma de benefícios concedidos a alguns grupos por meio de empréstimos de bancos públicos e, nos últimos quatro anos, a prática se estendeu à utilização das estatais para controlar preços. “Quando você tem um governo que coloca mais ênfase no uso de instrumentos como o BNDES para criar campeões nacionais e reforçar grandes empresas, o que acontece é que se gera um cenário onde aumentam os benefícios e se cria incertezas sobre o retorno dos investimentos”, explicou, acrescentando que o principal problema está na forma como o governo interfere — mais do que na intervenção em si. “Toda intervenção que é discricionária, sem critérios, regras, parâmetros conhecidos, afasta investidores”.

A falta de critérios bem definidos gera, além de incertezas nos negócios, outras consequências. “Exige dos empresários que eles, de alguma forma, estejam sintonizados com o que está acontecendo com o governo, para obter algum tipo de informação sobre o que vai acontecer e até, eventualmente, benefícios, proteção, crédito. O setor empresarial acaba sendo direcionado para esse tipo de ação”, explica Lazzarini.

Para o economista, o mais importante é garantir a previsibilidade das ações do governo com a adoção de parâmetros técnicos. “Tem que haver critérios que todos consigam entender e não precisem dispender tempo e recursos viajando para Brasília para tentar saber o que vai acontecer”, explicou Lazzarini, autor do livro “Capitalismo de Laços – os donos do Brasil e suas conexões” (Campus-Elsevier, 2010), no qual explica que o capitalismo brasileiro se caracteriza pelo apadrinhamento. “Os laços começam a ficar disfuncionais quando detectamos o efeito de conexões políticas, como financiar um determinado partido ou certos políticos, que, em troca, vão fazer força para a empresa obter mais recursos e ser selecionada como um campeã nacional ou participar de determinados projetos do governo”, criticou.

O caminho para reduzir os danos causados por esse tipo de intervenção estatal depende do fortalecimento das agências reguladoras, segundo Lazzarini. “O que foi feito nos últimos anos foi o enfraquecimento das agências, que poderiam criar parâmetros, definidos por técnicos. A intervenção tem que passar de uma forma menos discricionária para uma forma mais baseada em critérios técnicos e definida por agências e órgãos independentes, que também avaliem essas políticas”, explicou o economista.