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Ao ler meu artigo “O falacioso sucesso do Bolsa Família“, compartilhado no Facebook, um leitor do Instituto Millenium me questionou sobre diversos pontos de supostos êxitos dos (des)governos que estão atualmente no comando do país. O leitor apontou itens nos quais, segundo ele, o governo estaria tendo sucesso e me perguntou se tais itens não “contavam”. Contariam caso o sucesso fosse real, mas, infelizmente não é, como pretendo provar em […] Leia mais

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Instituto Millenium

Publicado em 29 de maio de 2013 às, 13h35.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 09h00.

Sandro Schmitz

Ao ler meu artigo “O falacioso sucesso do Bolsa Família“, compartilhado no Facebook, um leitor do Instituto Millenium me questionou sobre diversos pontos de supostos êxitos dos (des)governos que estão atualmente no comando do país. O leitor apontou itens nos quais, segundo ele, o governo estaria tendo sucesso e me perguntou se tais itens não “contavam”. Contariam caso o sucesso fosse real, mas, infelizmente não é, como pretendo provar em uma série de artigos, que inicio por esse, sobre o pleno emprego.

Conforme afirma a propagada oficial, nosso país está muito próximo de atingir o nível de pleno emprego dado a manutenção de baixos níveis da taxa de desemprego nos últimos meses. Será a realidade tão satisfatória assim? Como de praxe, não. Em linguagem econômica, pleno emprego é “o emprego de todos os fatores de produção, o que em termos de força de trabalho poderia significar a igualdade entre a população economicamente ativa e a população ocupada ou empregada” (GREMAUD, VASCONCELOS, TONETO JR. Economia Brasileira Contemporânea, p. 91). Os dados a seguir deixarão claro que estamos bem longe disso.

De acordo com informações oficiais do IBGE, a taxa de desemprego do país em abril deste ano foi de 5.8%, a mais baixa da história até então. Número suficiente para diversas instâncias governamentais e partidárias saírem afirmando a revolução, como gostam do termo, provocada na criação de empregos no país. No entanto, foram desatentos a um estudo publicado simultaneamente pelo IPEA, também órgão do governo, que afirmou categoricamente que estamos bem distantes da situação de pleno emprego, por algumas conjunturas bem específicas, a saber.

De acordo com dados do IPEA a média de recuo na produção industrial em 2012 no Brasil foi de 0.65%, sendo que no mês passado esse índice atingiu 0.90%, muito acima da média. Além disso, apesar do aumento de trabalhadores com carteira assinada, esse número ainda é pequeno se comparado com o enorme contingente que se encontra na informalidade. Outro fator que colabora para dificultar que se alcance o pleno emprego é o alto nível de oscilações nas atividades produtivas em nosso país, fazendo com que grande parte da população tenha sua capacidade subutilizada.

Não bastasse esses dados, o MDS, órgão do governo que gerencia os programas sociais, e o Ministério do Trabalho, estão buscando descobrir fraudes em dois dos principais programas de transferência de renda do governo: o Bolsa Família e o Seguro-Desemprego, tendo em vista que em ambos os casos tem sido descobertas situações em que as pessoas não querem formalizar suas relações de emprego/trabalho para não perderem os benefícios governamentais.

Temos a situação ainda da ausência de preparo dos trabalhadores, tendo em vista que diversos setores não podem admitir pois falta pessoal qualificado para seus postos de trabalho, tais como a indústria do petróleo e a da tecnologia da informação, nesse caso atingindo o setor de educação, extremamente frágil em nosso país. A realidade se impõe novamente para mostrar o quão ilusório são os fatos noticiados pelo governo. Mas acredita quem quiser ou não souber interpretar. No final das contas, ficamos com a pergunta que não quer calar: se estamos atingindo o pleno emprego, por que tanta gente está buscando fazer concurso público?

 

Sandro Schmitz é analista e consultor internacional. Sócio-diretor da Dealers Negócios Internacionais, coordenador de Direito Internacional, Econômico e Tributário da Junqueira Schacker Advogados. Graduado em Direito, especialista em Gestão de Conflitos e Negociação pela Organização de Estados Americanos (OEA), e Aprofundamento de Estudos também pela OEA. Doutorando em Economia pela Universidad de La Matanza, em Buenos Aires, com concentração de estudos em Direito Econômico. Professor de Direito do Comércio Internacional, Direito Internacional e diretor de Relações Internacionais na Câmara de Comércio Brasil Argentina do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.