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Sinais que você pode estar vivenciando o teatro da inovação corporativa

Se você realmente está buscando inovação em sua empresa, tome cuidado para não deixar o teatro da inovação entrar em cena.

 (Divulgação/Divulgação)
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Inovação na prática

Publicado em 27 de outubro de 2021 às, 11h35.

Felizmente a inovação tem sido um tema cada vez mais presente nas empresas brasileiras. Muito já foi falado sobre os benefícios gerados por aqueles que realmente conseguem transformar suas empresas em inovadores seriais. Esses benefícios impactam diretamente na sobrevivência e crescimento dessas empresas.

Os inovadores conseguem entregar mais valor para seus clientes, obtendo assim melhores margens, maiores taxas de crescimento, maior valor de mercado, mais fidelidade e diversos outros índices comparativamente em relação a seus pares/concorrentes nos mercados que atua.

A promessa dos ganhos extraordinários que o inovador pode obter caso esteja disposto a percorrer o caminho empreendedor pela busca e execução de projetos inéditos nem sempre é suficiente para colocar as empresas em uma jornada genuína em busca desse objetivo.

Um fenômeno bastante recorrente que pode ser percebido em muitas empresas é o chamado teatro da inovação. Nessas empresas, a aparência vem antes da essência. Elas fazem de tudo para parecer que são inovadoras, mas não realidade há pouco interesse genuíno de modificar algo na realidade vigente. Apesar de fazer muito barulho sobre inovação, o impacto real no negócio nessas empresas é muito baixo.

Trabalhar em uma empresa que esteja praticando o teatro da inovação pode ser muito frustrante para aqueles que nela estão. Nem sempre é fácil reconhecer essa situação, portanto abaixo você encontra algumas características comuns de empresas que estão “atuando” ao invés de inovando.

 

1. A inovação está descolada da estratégia.

Esse é um ponto sútil, porém importante nesses casos. Algumas empresas tratam a inovação como se fosse uma entidade apartada, que não precisasse ser devidamente conectada com a estratégia do negócio. Na prática é mais ou menos assim: a liderança formula e delibera a estratégia pensando na continuidade do negócio existente e não há nenhuma referência sobre a inovação. Depois, cria uma área de inovação basicamente para não ficar para trás em relação aos concorrentes que também já possuem estruturas semelhantes.

Na prática, essa área e o time que vai trabalhar nela não tem direcionamento ou relevância pois suas entregas não são parte da estratégia. Quando chego em uma empresa sempre peço para ter acesso à estratégia ou o mapa estratégico para poder fazer essa verificação. Não é incomum encontrar casos em que há bastante “barulho” de inovação seja para o público interno ou externo, mas na prática, na estratégia não há nenhuma menção ao tema.

 

2. Não há comprometimento de recursos para executar os projetos.

Bastante esforço para geração de oportunidades, porém pouco ou nada para executar os projetos. Esse é outro sinal claro do teatro da inovação em muitas empresas. Em alguns casos, os times até conseguem avançar as fases iniciais dos projetos com poucos recursos, entretanto, para testar e escalar projetos de inovação usualmente precisa-se de recursos humanos e financeiros.

Existe uma fábula conhecida que contextualiza a diferença entre envolvimento e comprometimento pode servir como exemplo nesses casos. Resumidamente, o porco e a galinha foram convidados para preparar o café da manhã. Nesse cenário, a galinha estava apenas envolvida pois ao botar o ovo já iria cumprir sua missão. Já o porco, por sua vez, estaria bastante comprometido pois sua contribuição no cardápio seria o bacon, ou seja, parte dele mesmo. Para inovar precisamos de comprometimento e uma forma de mostrar isso é investindo recursos para testar e executar novas ideias.

 

3. Há mais preocupação com a imagem e reputação do que com os resultados dos projetos de inovação.

Nada mais emblemático no teatro da inovação que eventos ou programas que não resultam em nada para a organização. Vale ressaltar que o problema não está nos eventos em si, mas a motivação em fazê-los. Hackathons, programas de conexão com startups, labs de inovação e outros são ótimas formas de executar a inovação quando realizados com esse propósito. O problema acontece quando os mesmos são pensados apenas como instrumentos de marketing corporativo.

Vale ressaltar, não há problema nenhum querer vincular a marca da empresa com atividades que promovam a inovação, mas não deveria ser só isso. A inovação e a transformação vêm dos resultados dos projetos que acontecem nessas iniciativas.

 

4. Inovação é uma agenda pessoal de um executivo

A liderança estimulando a inovação é muito bom para transformação da cultura do negócio. O problema acontece quando os interesses pessoais de imagem sobrepõem os objetivos da empresa. Nesse tipo de situação, as decisões são tomadas baseadas na agenda pessoal de um executivo que busca somente maximizar os dividendos das iniciativas de inovação para si mesmo ao invés da efetiva transformação da cultura da empresa. É o chamado conflito de agência, onde o executivo é motivado por seus interesses próprios na tomada das decisões, muitas vezes penalizando a sustentabilidade da empresa no longo prazo.

 

5. Projetos de maior grau de inovação não são permitidos.

É o famoso discurso utilizado por dirigentes de clubes de futebol: para melhorar nossa situação nós vamos mudar não mudando. Nas empresas onde isso ocorre, todo projeto é bem vindo desde que não mude o produto, o processo, o modelo de negócio ou qualquer outra dimensão da atuação da empresa. Nesses casos, somente projetos de baixo grau de inovação são admitidos, mesmo que o discurso vigente seja que é preciso mudar, trazer ideias novas e transformar a companhia.

Nessas empresas, workshops são feitos para capturar novas ideias e até mesmo são criados programas de inovação aberta para identificar tecnologias exponenciais que pode mudar o setor. O problema começa quando essas ideias disruptivas precisam ser testadas. Como elas trazem conceitos que desconstrõem o negócio existente, não ganham tração pois representam uma ameaça ao modelo vigente.

 

6. As políticas de recrutamento e seleção, avaliação de desempenho e promoção não dizem nada sobre inovação.

Inovação corporativa é realizada pelas pessoas que trabalham nela. Uma boa estratégia e processos organizados criam melhores condições para a inovação ocorrer, porém, no final do dia, são os colaboradores que idealizam, refinam, testam e escalam os projetos de inovação. Seguindo essa lógica, nada mais natural que valorizar competências para realizar essas atividades e ao mesmo tempo, desenvolve-las para que possam dominar as ferramentas e mentalidade necessárias para colocar a inovação em prática.

Em empresas em que o teatro da inovação está em cena, apesar de haver um estimulo informal para as pessoas inovar, não há conexão com a inovação nos processos de seleção, desenvolvimento, avaliação de desempenho das pessoas. O discurso é: queremos que você inove, porém na prática não se leva em consideração isso na hora de contratar, de recompensar desempenho ou realizar promoções.

 

7. A política determina quais projetos serão executados.

Há ambientes corporativos extremamente politizados que mais parecem um jogo de xadrez. Nesses casos, valoriza-se mais quem trouxe a oportunidade do que ela em si. Esse é um terreno fértil para o teatro da inovação entrar em cena.

O jogo começa com uma falsa sensação de participação e colaboração para criar novos caminhos. A falta de autonomia para as diferentes áreas é um indício de baixa predisposição à incerteza e risco dos projetos de inovação. Visando controlar tudo e, assim, evitar que projetos que tragam mudanças reais sejam executados, a empresa centraliza toda tomada de decisão.

Se você realmente está buscando inovação em sua empresa, tome cuidado para não deixar o teatro da inovação entrar em cena.