Inovações e novas tecnologias em rodovias e ferrovias
O crescimento exponencial das novas tecnologias gera oportunidades únicas nos modais viários e ferroviários, mas precisa de modernizações regulatórias
Publicado em 25 de outubro de 2023 às 06h00.
Seguindo nossa serie sobre os benefícios das tecnologias no setor de infraestrutura ( Infratech ), neste artigo vamos falar do setor transporte, mais especificamente de rodovias e ferrovias.
As ferrovias nascem e iniciam um processo de grande expansão no século XIX, enquanto as rodovias se expandiram fortemente a partir da década de 50. Mas a evolução tecnológica nesses setores levou décadas para deslanchar, a partir dos anos 80, no caso das ferrovias, com a introdução de controle e sinalizações computadorizadas e a partir dos anos 2000 para as rodovias, com a introdução por exemplo, dos pedágios eletrônicos.
No entanto, nos últimos 5 a 10 anos vivemos um crescimento exponencial das tecnologias com potencial de transformação desses modais, como os aplicativos GPS e a utilização de inteligência artificial, ou o Magnetic Railway Onboard Sensor (MAROS) no caso de ferrovias.
O Pavimentados, do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, é um excelente exemplo. Trata-se de uma ferramenta que usa inteligência artificial e que permite geolocalizar, identificar e tipificar falhas em rodovias a partir de vídeos gravados por câmeras instaladas em veículos comuns. A partir destes dados, pode-se realizar o planejamento de manutenção. Estima-se que o Pavimentado reduza o custo do processo em 53 vezes e o tempo para realizar esse inventario em 39 vezes.
Não se trata de iniciativa isolada. Há notícia de startups desenvolvendo tecnologias similares de mapeamento. Estes serviços podem ter outros focos, como alertar usuários sobre condições de vias e incidentes em tempo real.
Avanços tecnológicos também oferecem grande potencial para incremento de segurança. Vale destacar o VíaSegura, outra iniciativa do BID. Trata-se de usar a mesma tecnologia, reconhecimento de imagens e inteligência artificiais para avaliar características de segurança de vias, como sinalização, calçadas, iluminação, entre outros. Em conjunto com outras fontes de dados, geram-se informações relevantes para avaliar segurança viária e orientar prioridades de investimento.
Ferrovias também passam por transformações na questão da segurança e eficiência. Para se permitir que trens transitem em segurança, sem risco de colisão, deve-se saber com precisão onde está cada trem, no entanto, os sistemas de GPS não funcionam em túneis e podem não ser suficientemente precisos em trechos com várias linhas em paralelo.
Nesse contexto, o Magnetic Railway Onboard Sensor (MAROS) [5] permite a identificação do trecho em que um trem se encontra a partir da permeabilidade magnética dos trilhos sobre os quais passa. O sistema ainda se encontra em fase de teste e há expectativa de ser colocado no mercado em 2025.
Inovações em métodos de cobrança também oferecem vantagens para a experiência do usuário e para redução de custos de sistemas. Desde 2000, o Sem Parar oferece comodidade e agilidade para pedágios e estacionamentos com o uso detags. Sistemas de leitura automática de números de placas podem oferecer conveniências similares.
Nessa linha, vale destacar que além da tecnologia, que está crescendo exponencialmente, e da necessidade de empresas e empreendedores que as desenvolvam, é fundamental a modernização dos marcos regulatórios.
No caso de rodovias, por exemplo, a Lei nº 14.157/21 prevê a possibilidade de instituição de sistemas de livre passagem, com cobranças de pedágios por identificação automática de usuários. Outra alteração legislativa com grande potencial para Infratech é a Lei de Ferrovias, Lei nº 14.273/21. Essa norma permite a autorização para exploração de ferrovias sob regime privado, a custo e risco do autorizatário. Esse regime pode oferecer maior liberdade para desenvolvimento de tecnologias e inovações, já que as decisões de teste, os riscos e os benefícios podem ser tomados e capturados de modo ágil pelo empreendedor.
Em síntese, nota-se que Infratech cria uma série de possibilidades para rodovias e ferrovias, incluindo avanços em manutenção, segurança e experiência de usuário, e que além da tecnologia, que vem avançando a passos largos, é fundamental a preparação e harmonização dos marcos jurídicos que irão permitir a aplicação da tecnologia e também irão alavancar os benefícios geradas por ela.
No setor de saneamento, também é possível enxergar uma miríade de oportunidades. É o que abordaremos em nosso próximo post.
Reinaldo Fioravanti, é especialista principal na Divisão de Transportes do BID, responsável pela estruturação de grandes projetos de infraestrutura e assessoria a governos no desenho e implementação de políticas públicas. Lidera grupos de trabalho nas áreas de logística, infratech, aviação e mobilidade urbana, entre outros. Possui mestrado em Políticas Públicas pela Universidade de Harvard e em Supply Chain Management pelo Massachusetts Institute of Technology/ZLC Espanha; e doutorado em Engenharia de Transportes pela Universidade Estadual de Campinas.
Breno Zaban, CFA, é advogado. Doutor em direito (UnB), mestre em administração de negócios (INSEAD) e mestre em administração pública (Harvard)
O grupo Infra 2038 é um movimento sem fins lucrativos iniciado em 2017, formado por mais de 100 pessoas físicas com grande experiência no setor de infraestrutura. O grupo é movido pela crença que o país precisa avançar fortemente em sua infraestrutura para garantir um aumento de produtividade que, por sua vez, trará ao Brasil uma maior competitividade internacional. Saiba mais aqui
Seguindo nossa serie sobre os benefícios das tecnologias no setor de infraestrutura ( Infratech ), neste artigo vamos falar do setor transporte, mais especificamente de rodovias e ferrovias.
As ferrovias nascem e iniciam um processo de grande expansão no século XIX, enquanto as rodovias se expandiram fortemente a partir da década de 50. Mas a evolução tecnológica nesses setores levou décadas para deslanchar, a partir dos anos 80, no caso das ferrovias, com a introdução de controle e sinalizações computadorizadas e a partir dos anos 2000 para as rodovias, com a introdução por exemplo, dos pedágios eletrônicos.
No entanto, nos últimos 5 a 10 anos vivemos um crescimento exponencial das tecnologias com potencial de transformação desses modais, como os aplicativos GPS e a utilização de inteligência artificial, ou o Magnetic Railway Onboard Sensor (MAROS) no caso de ferrovias.
O Pavimentados, do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, é um excelente exemplo. Trata-se de uma ferramenta que usa inteligência artificial e que permite geolocalizar, identificar e tipificar falhas em rodovias a partir de vídeos gravados por câmeras instaladas em veículos comuns. A partir destes dados, pode-se realizar o planejamento de manutenção. Estima-se que o Pavimentado reduza o custo do processo em 53 vezes e o tempo para realizar esse inventario em 39 vezes.
Não se trata de iniciativa isolada. Há notícia de startups desenvolvendo tecnologias similares de mapeamento. Estes serviços podem ter outros focos, como alertar usuários sobre condições de vias e incidentes em tempo real.
Avanços tecnológicos também oferecem grande potencial para incremento de segurança. Vale destacar o VíaSegura, outra iniciativa do BID. Trata-se de usar a mesma tecnologia, reconhecimento de imagens e inteligência artificiais para avaliar características de segurança de vias, como sinalização, calçadas, iluminação, entre outros. Em conjunto com outras fontes de dados, geram-se informações relevantes para avaliar segurança viária e orientar prioridades de investimento.
Ferrovias também passam por transformações na questão da segurança e eficiência. Para se permitir que trens transitem em segurança, sem risco de colisão, deve-se saber com precisão onde está cada trem, no entanto, os sistemas de GPS não funcionam em túneis e podem não ser suficientemente precisos em trechos com várias linhas em paralelo.
Nesse contexto, o Magnetic Railway Onboard Sensor (MAROS) [5] permite a identificação do trecho em que um trem se encontra a partir da permeabilidade magnética dos trilhos sobre os quais passa. O sistema ainda se encontra em fase de teste e há expectativa de ser colocado no mercado em 2025.
Inovações em métodos de cobrança também oferecem vantagens para a experiência do usuário e para redução de custos de sistemas. Desde 2000, o Sem Parar oferece comodidade e agilidade para pedágios e estacionamentos com o uso detags. Sistemas de leitura automática de números de placas podem oferecer conveniências similares.
Nessa linha, vale destacar que além da tecnologia, que está crescendo exponencialmente, e da necessidade de empresas e empreendedores que as desenvolvam, é fundamental a modernização dos marcos regulatórios.
No caso de rodovias, por exemplo, a Lei nº 14.157/21 prevê a possibilidade de instituição de sistemas de livre passagem, com cobranças de pedágios por identificação automática de usuários. Outra alteração legislativa com grande potencial para Infratech é a Lei de Ferrovias, Lei nº 14.273/21. Essa norma permite a autorização para exploração de ferrovias sob regime privado, a custo e risco do autorizatário. Esse regime pode oferecer maior liberdade para desenvolvimento de tecnologias e inovações, já que as decisões de teste, os riscos e os benefícios podem ser tomados e capturados de modo ágil pelo empreendedor.
Em síntese, nota-se que Infratech cria uma série de possibilidades para rodovias e ferrovias, incluindo avanços em manutenção, segurança e experiência de usuário, e que além da tecnologia, que vem avançando a passos largos, é fundamental a preparação e harmonização dos marcos jurídicos que irão permitir a aplicação da tecnologia e também irão alavancar os benefícios geradas por ela.
No setor de saneamento, também é possível enxergar uma miríade de oportunidades. É o que abordaremos em nosso próximo post.
Reinaldo Fioravanti, é especialista principal na Divisão de Transportes do BID, responsável pela estruturação de grandes projetos de infraestrutura e assessoria a governos no desenho e implementação de políticas públicas. Lidera grupos de trabalho nas áreas de logística, infratech, aviação e mobilidade urbana, entre outros. Possui mestrado em Políticas Públicas pela Universidade de Harvard e em Supply Chain Management pelo Massachusetts Institute of Technology/ZLC Espanha; e doutorado em Engenharia de Transportes pela Universidade Estadual de Campinas.
Breno Zaban, CFA, é advogado. Doutor em direito (UnB), mestre em administração de negócios (INSEAD) e mestre em administração pública (Harvard)
O grupo Infra 2038 é um movimento sem fins lucrativos iniciado em 2017, formado por mais de 100 pessoas físicas com grande experiência no setor de infraestrutura. O grupo é movido pela crença que o país precisa avançar fortemente em sua infraestrutura para garantir um aumento de produtividade que, por sua vez, trará ao Brasil uma maior competitividade internacional. Saiba mais aqui