Por que alguns países são mais desenvolvidos do que outros?
Como verificar o real impacto das instituições no desenvolvimento?
Publicado em 14 de julho de 2022 às, 09h00.
O conteúdo desse blog é gerenciado pelo Insper Metricis, o núcleo do Insper especializado em realizar estudos sobre estratégias organizacionais e práticas de gestão envolvendo projetos com potencial de gerar alto impacto socioambiental.
Por Leandro S. Pongeluppe*
Desde Adam Smith, com seu famoso livro “A Riqueza das Nações”, pensadores têm procurado a resposta para esse questionamento. Mais recentemente, o prêmio Nobel de Economia, Douglass North, mostrou a importância das instituições para o desenvolvimento econômico. Contudo, como verificar o real impacto das instituições no desenvolvimento?
Essa foi a pergunta que motivou três pesquisadores, Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson. Um dos principais problemas encontrados por eles durante a investigação é a chamada “causalidade reversa”, questão esta que intuitivamente segue a mesma lógica do dito popular “quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?”. Ou seja, se por um lado instituições são importantes para o desenvolvimento econômico, por outro, um maior nível de desenvolvimento econômico também pode levar à construção de instituições mais robustas. Dessa forma, como saber o que causa o quê?
Para resolver esse problema, os pesquisadores fazem uso de uma variável instrumental como técnica de avaliação de impacto. Para isso, eles buscaram algo (instrumento) que tivesse afetado a construção das instituições, mas que não fosse relacionado com o nível de desempenho econômico, a não ser por meio do desenvolvimento institucional. Para tanto, os pesquisadores buscaram dados históricos referentes às taxas de mortalidade por doenças entre colonizadores em diferentes países.
Os resultados mostram que quanto menor o número de colonizadores mortos, maiores seriam os assentamentos coloniais do passado. Esses assentamentos teriam afetado a construção de instituições mais inclusivas no período colonial, as quais teriam moldado positivamente as instituições correntes e, consequentemente, impactado o desempenho econômico. Em outras palavras, raízes coloniais explicariam o desempenho econômico atual.
Os pesquisadores verificam que essa relação se mantém mesmo considerando diferentes características geográficas e climáticas e que ela está presente independentemente da cultura dos colonizadores originais, isto é, se eles eram de cultura inglesa, portuguesa, espanhola ou francesa.
Os autores concluem o trabalho mostrando que, ainda que o passado colonial tenha um impacto determinante no desempenho econômico atual, é possível influenciar positivamente esse desenvolvimento ainda hoje. Isso é possível por meio do fortalecimento das instituições, como a garantia dos direitos de propriedade, manutenção das regras democráticas e combate à insegurança jurídica. Em outras palavras, embora o desenvolvimento econômico dependa da história, é fundamental recordar que esta é escrita todos os dias por nós.
*Leandro S. Pongeluppe é especialista em avaliação de impacto socioambiental. Ph.D. pelo departamento de gestão estratégica da Rotman School of Management, University of Toronto. Leandro é recém-contratado professor assistente da Wharton School, University of Pennsylvania. Seus principais interesses de pesquisa são compreender como a gestão de organizações pode contribuir com o avanço dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU.