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Para além da inclusão financeira: a disrupção nos empréstimos via fintechs

Mesmo com tantos avanços no setor de serviços financeiros, a mudança apenas começou

 (zf L/Getty Images)
(zf L/Getty Images)
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Impacto Social

Publicado em 3 de junho de 2022 às, 09h00.

O conteúdo desse blog é gerenciado pelo Insper Metricis, o núcleo do Insper especializado em realizar estudos sobre estratégias organizacionais e práticas de gestão envolvendo projetos com potencial de gerar alto impacto socioambiental. 

Por Angélica Rotondaro*

Os serviços financeiros passam por uma transformação fundamental no Brasil tanto de acesso como de custo. A regulamentação de fintechs possibilitou soluções de serviços financeiros totalmente digitais e o isolamento provocado pela pandemia acelerou a adoção dessas soluções pela maior parte da população.

Um exemplo é o pagamento via PIX, que nos últimos dois anos já superou o volume de pagamentos via cartão de débito ou crédito e tende a se tornar mais popular do que o pagamento em dinheiro. Há também o surgimento dos bancos integralmente digitais e com tarifa zero, que possibilitaram reduzir em 16,6 milhões o número de brasileiros desbancarizados. Nesse mesmo período, a taxa média de juros para empréstimos bancários sem garantia foi reduzida em 15%.

Mesmo com esses avanços, a mudança apenas começou. É sabido que o Brasil ainda é um dos países com os maiores custos de serviços financeiros. A taxa de juros média para um empréstimo pessoal sem garantia segue astronômica, com média de 85% ao ano, e os juros do cartão de crédito mantêm sua ‘tradição’ de cobrar em média 300% ao ano.

Porém, com a nova regulamentação de open banking, que permite o compartilhamento de dados bancários (caso autorizado pelo mutuário), é possível combinar os dados brutos entre contas da uma mesma pessoa e, assim, gerar um perfil mais completo e atualizado da capacidade de pagamento. Isso permite o refinamento da análise de risco de crédito e, por consequência, oferecer crédito a custos menores e de acordo com a capacidade de pagamento de cada um.

Esse modelo já se provou em outros países com exemplos como o Zopa na Inglaterra, que já emprestou cerca de £ 6 bilhões para mais de 500 mil mutuários, e da CrediKudos, que desenvolve análises avançadas de risco de crédito para além dos dados bancários e que recentemente foi adquirida pela Apple por USD 150 milhões. No Brasil, exemplos incluem a fintech EmpreX, com um sistema de análise de crédito que usa algoritmos via machine learning para construir o perfil do potencial mutuário, a Divibank, que financia campanhas digitais, e a Weel, que antecipa recebíveis. Entre os resultados estão, por exemplo, taxas de refinanciamento com juros na média 30% mais baratas que o empréstimo original.

A transformação via regulamentação, novos modelos de análise de risco e maior conhecimento sobre as soluções ofertadas pelas fintechs será efetivamente o que irá mudar o jogo das altíssimas taxas de juros. No final das contas, a inclusão financeira não deve ser simplesmente prover o ‘acesso’ a serviços financeiros, mas sim a serviços financeiros possíveis de serem pagos.

*Angélica Rotondaro é cofundadora da Alimi Impact Ventures, diretora executiva do Climate Smart Institute e membro do conselho do Insper Metricis.