Gestão escolar impulsionando aprendizado: o caso do Programa MMR
Especialistas argumentam que assistiremos a um aumento dos níveis de abandono escolar e de atraso na aprendizagem
Publicado em 15 de junho de 2021 às, 09h00.
Última atualização em 15 de junho de 2021 às, 11h35.
Por Breno Salomon Reis*
Apesar do início da vacinação de professores em alguns estados, a maior parte das escolas de educação básica segue operando no modelo remoto ou híbrido e sem uma real perspectiva para retornar à normalidade. Como resultado, especialistas argumentam que assistiremos a um aumento dos níveis de abandono escolar e de atraso na aprendizagem. Consequentemente, é importante que as Secretarias de Educação e agentes privados desenvolvam programas para mitigar os efeitos da pandemia. Porém, como fazê-lo? As características particulares das escolas podem tornar difícil a implementação de medidas bem-sucedidas. Afinal, as escolas não estão localizadas nos mesmos bairros, não atendem famílias com o mesmo background e não possuem estudantes com mesmo perfil. Dessa forma, é essencial conceber programas que sejam eficazes considerando essas diferenças.
Uma iniciativa que cumpre esse requisito é o Programa Gestão em Foco – Método de Melhoria de Resultados (ou MMR), concebido pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. A avaliação do MMR revelou que este proporciona uma melhora na taxa de estudantes aprovados e redução da taxa de reprovados. Portanto, o programa foi capaz de transformar reprovação em aprovação. Em particular, quando comparadas escolas com estudantes de nível socioeconômico distinto, esse efeito positivo foi mais acentuado nas escolas com alunos de menor nível socioeconômico.
Esses resultados são bem interessantes porque, tendo em vista a evidência internacional sobre o impacto de intervenções de gestão, não é óbvio que o sistema educacional se beneficiaria com o programa. O diferencial do MMR é qualificar a direção da escola para utilizar um método de gestão chamado problem-driven approach. Por meio desta metodologia, incorpora-se à tomada de decisão o hábito de solucionar o problema priorizado identificando suas causas raízes antes de alocar recursos para solução. Assim, o problem-driven approach provoca a quebra do ciclo de tomada de decisão instintiva, muito presente no cotidiano das escolas e que pode resultar na concepção de soluções inadequadas. Para que esse conceito fosse incorporado pelas escolas estaduais de São Paulo foram organizados treinamentos das lideranças e entrega de ferramentas digitais de gestão ao longo de três anos. Essas ações não são intensivas em recursos, o que sugere que o programa e, consequentemente, o problem-driven approach podem ser replicados para outros contextos sem grandes restrições.
Tendo em vista as várias dificuldades que as lideranças educacionais enfrentarão nos próximos meses (e anos), é importante que bons exemplos como o MMR sejam aprendidos e adaptados. Não há uma bala de prata que resolva todos os problemas nas escolas, entretanto, o caminho será menos tortuoso se o ponto de partida for o conhecimento das evidências disponíveis.
*Breno Salomon Reis é pesquisador no EvEx, um centro vinculado à Enap, que se dedica a ajudar o governo a incorporar evidências na tomada de decisão em políticas públicas. É também Mestre em Políticas Públicas pelo Insper. Sua dissertação avaliou o impacto do programa MMR.