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Como considerar o contexto na hora de construir uma teoria da mudança

Escolher quando e como a teoria da mudança será elaborada pode influenciar a qualidade dos resultados esperados com a ferramenta de gestão

Apresentar uma empresa no mercado para uma venda bem-sucedida demanda bastante trabalho antes da elaboração dos materiais sobre a empresa. (PM Images/Getty Images)
Apresentar uma empresa no mercado para uma venda bem-sucedida demanda bastante trabalho antes da elaboração dos materiais sobre a empresa. (PM Images/Getty Images)
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Impacto Social

Publicado em 1 de novembro de 2022 às, 10h00.

O conteúdo desse blog é gerenciado pelo Insper Metricis, o núcleo do Insper especializado em realizar estudos sobre estratégias organizacionais e práticas de gestão envolvendo projetos com potencial de gerar alto impacto socioambiental. 

Por Marina Ribeiro*

A teoria da mudança se disseminou em projetos de impacto social e políticas públicas por ser uma ferramenta que funciona como um mapa demonstrando como os recursos disponíveis serão insumos para que as ações da intervenção possam ser executadas, gerando produtos que poderão resultar em mudanças valorizadas pela população-alvo. Com isso, a teoria da mudança pode ajudar a criar indicadores mais realistas, esclarecer responsabilidades entre os atores-chave e estabelecer um entendimento comum das estratégias a serem usadas para atingir os objetivos do projeto.

Contudo, para que a ferramenta possa contribuir para atingir tais finalidades, é preciso que ela seja bem construída, de modo a representar as relações de causa e efeito existentes no projeto. Ou seja, a teoria da mudança precisa demonstrar como, a partir de uma atividade (por exemplo, oferecer cursos profissionalizantes), pode resultar nos resultados almejados (no exemplo hipotético, aumento da taxa de empregabilidade).

Apesar das dicas existentes sobre como conduzir a elaboração de uma teoria da mudança, há pouco material mostrando como o processo e contexto afetam a construção. Por essa razão, em minha dissertação de mestrado em Políticas Públicas no Insper, me debrucei sobre os fatores processuais e contextuais presentes em tal elaboração. A identificação e explicação de tais fatores podem ajudar gestores a escolher quando e como a teoria da mudança será elaborada, potencialmente influenciando a qualidade dos resultados esperados com ela.  O Guia Metricis propõe um processo de forma detalhada, em linha com os fatores processuais identificados em minha pesquisa. Por isso, apresento abaixo algumas ideias de como considerar o contexto na hora de construir uma teoria da mudança. Dada a relevância e a profundidade necessária para o assunto, essas ideias serão apresentadas em dois textos. Este primeiro possui como foco o papel dos stakeholders e a complexidade da conjuntura na qual a teoria da mudança está inserida.

  1. O fator mais importante a ser considerado é qual a percepção que a liderança tem sobre o processo. O apoio ou oposição da gestão influencia os mecanismos para sensibilizar, articular e engajar os stakeholders relevantes para o processo. Além disso, ela é central para identificar qual papel a teoria da mudança terá: ela será utilizada para formular um novo projeto ou política? Contribuirá na reformulação de um programa existente ou será base para elaborar uma avaliação de impacto? Decisões estratégicas, portanto, em que a liderança tem papel central.
  2. Observar o conteúdo que será detalhado na teoria da mudança ditará a complexidade de elaborá-la tanto do ponto de vista técnico (há evidências disponíveis para embasá-la? É preciso considerar diversos problemas entrelaçados?), quanto de um ponto de vista político (é um tema sensível que pode gerar oposição da população?), o que influencia o esforço necessário em seu processo de construção. Analisar ou antever a implementação do projeto pode gerar aprendizados para sua reformulação ou criação de projetos similares, especialmente na identificação de riscos e efeitos não-intencionais em curso ou potenciais por meio da exposição ao mundo real.

Além disso é importante considerar o contexto político, os fatores socioeconômicos e possíveis imprevistos. Esses itens serão abordados na próxima coluna. Não perca!

*Marina Ribeiro é pesquisadora do Centro de Estudos em Microeconomia Aplicada da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas. Lá, trabalha no Projeto Rio Paraopeba, que faz auditoria independente por meio de monitoramento e avaliações dos projetos detalhados pela Vale relacionados ao rompimento das barragens em Brumadinho (MG). É também mestra em Políticas Públicas pelo Insper. Sua dissertação fez um estudo de caso do programa estadual Primeira Infância Melhor do Rio Grande do Sul para observar fatores contextuais e processuais na elaboração da teoria da mudança.