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Eles vendiam as árvores. Agora vendem os frutos

Como a Ekilibre Amazônia, uma empresa de cosméticos naturais do Pará, ajuda comunidades ribeirinhas a valorizar a floresta em pé

 (Ekilibre/Divulgação)
(Ekilibre/Divulgação)
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Ideias renováveis

Publicado em 31 de março de 2023 às, 15h01.

Última atualização em 31 de março de 2023 às, 16h04.

Alexandre Mansur* 

Por volta de 2009, insatisfeito com os rumos da própria vida, o até então advogado Kairós Kanavarro decidiu que passaria um tempo viajando pela América do Sul. O que era para ser uma experiência de poucos meses se transformou em uma expedição de três anos por, praticamente, todos os países latinos. Foi nessa época que ele passou a ter contato intenso com os costumes de diversas comunidades tradicionais e percebeu que tinha uma habilidade especial com plantas medicinais. O conhecimento, adquirido a partir da convivência com com povos originários, mudou a vida de Kairós. Ao voltar para o Brasil, em 2011, ele começou a produzir cosméticos à base de plantas, no quintal de sua casa, em Alter do Chão, no Pará, e deu vida à Ekilibre Amazônia.

Todos os ingredientes utilizados nos sabonetes, cremes para o rosto e corpo, desodorantes, e outros produtos da marca, são comprados de quem vive na floresta amazônica. Exemplo disso é a andiroba, cujo óleo vem diretamente da Floresta Nacional do Tapajós, uma importante reserva extrativista localizada às margens do Rio Tapajós. Cerca de 30 famílias são beneficiadas pelo trabalho da Ekilibre, um impacto direto em aproximadamente 130 pessoas. “O mundo está olhando para a Amazônia, mas pouca gente está de fato com o pé na Amazônia. Por isso, entendemos que a Ekilibre não precisa buscar uma causa, ela faz parte da causa”, afirma Kairós, CEO da Ekilibre Amazônia

A empresa, que conta com 10 funcionários diretos e cinco indiretos, recebeu este ano um aporte de R$ 200 mil da AMAZ, aceleradora e investidora de negócios de impacto no Norte do Brasil. O investimento possibilitará à Ekilibre abrir sua segunda loja física no Pará, impulsionar as vendas digitais e lançar novos produtos. Para ele, a aceleração simboliza o reconhecimento de toda a trajetória da empresa até aqui. “Além do reconhecimento, é também um estímulo para enxergarmos a bioeconomia como um segmento que vai continuar crescendo mais e mais, especialmente na Amazônia”. Além da Ekilibre, a AMAZ selecionou outros quatro negócios para receber investimento e serem acelerados em 2023: Cumbaru, Simbiótica Finance, Manawara e Mazô Maná.

Mais de dez anos depois, a empresa de cosméticos naturais impacta não só a vida de quem consome seus produtos de alta performance, mas também a de quem vive na região. “Quando nós chegamos aqui, algumas comunidades vendiam árvores para madeireiras e pararam de fazer isso porque perceberam que podiam vender os frutos que essas árvores dão, gerando renda para toda família. Então, o trabalho da Ekilibre ao mesmo tempo conserva e estimula, de forma direta, a plantação de espécies nativas da Amazônia pelas comunidades ribeirinhas”, conta o fundador da Ekilibre Amazônia. Para Kairós, a solução para a Amazônia é gerar mais oportunidades de trabalho que sustentem a floresta em pé. “A preservação da floresta começa com as pessoas. Se elas não têm renda, ficam suscetíveis a situações difíceis. As pessoas que vivem na floresta são as pessoas que preservem e elas precisam de oportunidades para trabalhar”, completa.

*Alexandre Mansur é diretor de projetos do Instituto O Mundo Que Queremos.