Como deixar o país à prova de apagão
Se Brasil diversificar suas fontes renováveis de energia, investindo em eólicas e solares, teremos contas mais baratas e mais segurança
Maria Clara Dias
Publicado em 30 de junho de 2021 às 13h45.
Última atualização em 2 de julho de 2021 às 09h39.
Estamos vivendo uma crise hídrica grave. A Agência Nacional de Águas declarou situação crítica em pelo menos cinco estados. O problema fica mais sério porque algumas grandes hidrelétricas ficam nesse local, o que coloca o país todo em risco de apagão. A crise é provocada por uma redução nas chuvas. Como todo mundo sabe (ou deveria saber), as chuvas que caem sobre o Brasil são geradas pelas florestas.
Só em maio, a destruição da cobertura vegetal - que presta o serviço insubstituível de tirar água do solo e lançar na atmosfera - foi quase do tamanho da cidade do Rio de Janeiro, segundo dados do Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD), levantamento feito pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Não é a primeira vez que estamos vivendo risco de racionamento de energia. Esses episódios são agravados pelas mudanças climáticas, cada vez mais presentes.O desmatamento age duplamente: acentuando os efeitos do aquecimento global e prejudicando o regime de chuvas. A falta de água fica ainda mais grave porque o Brasil tem uma matriz energética muito dependente das hidrelétricas — mais de 60% da nossa energia vem delas. Por isso, fica ainda mais suscetível a essas alterações. Se dependemos de hidrelétricas, as árvores deveriam ser consideradas infraestrutura básica.
Além de parar de destruir as florestas que geram as chuvas, outra medida importante para evitar novas crises energéticas poderia ser rever o planejamento do modelo brasileiro. É o que defendem alguns especialistas. O 13º episódio do podcast Infraestrutura Sustentável, do GT Infraestrutura, convidou Ricardo Baitelo, do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), para falar sobre a questão.
Ele acredita que a atual crise poderia ter sido evitada se tivéssemos tomado decisões energéticas diferentes no passado, com uma diversificação maior da matriz energética. “Quando vivemos um momento emergencial, a margem de tomada de decisões é muito menor. A solução tem que se iniciar antes, para que a gente possa colher os frutos a tempo”, afirma Baitelo.
Uma das saídas, segundo ele, é investir em outras fontes ambientalmente favoráveis e socialmente justas. E o Brasil é um país continental privilegiado nesse sentido, com território continental que nos garante opções múltiplas de fontes renováveis. Baitelo acredita que, com um planejamento adequado, poderíamos ter uma participação maior das fontes eólica e solar, por exemplo.
Além de ser mais sustentável, o investimento nesse tipo de fonte evitaria o acionamento das térmicas, que são poluentes e caras, pesando no bolso do consumidor e para agravar os problemas ambientais do planeta. “Elas podem cobrir essa lacuna de demanda em momentos emergenciais, mas não devemos fazer um planejamento baseado nelas”
O Brasil precisa dar condições básicas para que as indústrias que investem em fontes renováveis diversificadas de energia, para além das hidrelétricas, continuem se desenvolvendo. Regras claras para que elas sejam competitivas e possam atender a matriz de forma crescente são algumas delas, segundo Baitelo. “Com esse caminho e com outras discussões regulatórias é possível o Brasil continuar caminhando para uma descarbonização, que é necessária. Estamos ficando para trás, mas temos condições de chegar lá também.”
*com Angélica Queiroz
Estamos vivendo uma crise hídrica grave. A Agência Nacional de Águas declarou situação crítica em pelo menos cinco estados. O problema fica mais sério porque algumas grandes hidrelétricas ficam nesse local, o que coloca o país todo em risco de apagão. A crise é provocada por uma redução nas chuvas. Como todo mundo sabe (ou deveria saber), as chuvas que caem sobre o Brasil são geradas pelas florestas.
Só em maio, a destruição da cobertura vegetal - que presta o serviço insubstituível de tirar água do solo e lançar na atmosfera - foi quase do tamanho da cidade do Rio de Janeiro, segundo dados do Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD), levantamento feito pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Não é a primeira vez que estamos vivendo risco de racionamento de energia. Esses episódios são agravados pelas mudanças climáticas, cada vez mais presentes.O desmatamento age duplamente: acentuando os efeitos do aquecimento global e prejudicando o regime de chuvas. A falta de água fica ainda mais grave porque o Brasil tem uma matriz energética muito dependente das hidrelétricas — mais de 60% da nossa energia vem delas. Por isso, fica ainda mais suscetível a essas alterações. Se dependemos de hidrelétricas, as árvores deveriam ser consideradas infraestrutura básica.
Além de parar de destruir as florestas que geram as chuvas, outra medida importante para evitar novas crises energéticas poderia ser rever o planejamento do modelo brasileiro. É o que defendem alguns especialistas. O 13º episódio do podcast Infraestrutura Sustentável, do GT Infraestrutura, convidou Ricardo Baitelo, do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), para falar sobre a questão.
Ele acredita que a atual crise poderia ter sido evitada se tivéssemos tomado decisões energéticas diferentes no passado, com uma diversificação maior da matriz energética. “Quando vivemos um momento emergencial, a margem de tomada de decisões é muito menor. A solução tem que se iniciar antes, para que a gente possa colher os frutos a tempo”, afirma Baitelo.
Uma das saídas, segundo ele, é investir em outras fontes ambientalmente favoráveis e socialmente justas. E o Brasil é um país continental privilegiado nesse sentido, com território continental que nos garante opções múltiplas de fontes renováveis. Baitelo acredita que, com um planejamento adequado, poderíamos ter uma participação maior das fontes eólica e solar, por exemplo.
Além de ser mais sustentável, o investimento nesse tipo de fonte evitaria o acionamento das térmicas, que são poluentes e caras, pesando no bolso do consumidor e para agravar os problemas ambientais do planeta. “Elas podem cobrir essa lacuna de demanda em momentos emergenciais, mas não devemos fazer um planejamento baseado nelas”
O Brasil precisa dar condições básicas para que as indústrias que investem em fontes renováveis diversificadas de energia, para além das hidrelétricas, continuem se desenvolvendo. Regras claras para que elas sejam competitivas e possam atender a matriz de forma crescente são algumas delas, segundo Baitelo. “Com esse caminho e com outras discussões regulatórias é possível o Brasil continuar caminhando para uma descarbonização, que é necessária. Estamos ficando para trás, mas temos condições de chegar lá também.”
*com Angélica Queiroz