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Trabalho bem feito não tem fronteiras; trabalho ruim não tem futuro, afirma Pablo Antoja

Na coluna desta semana conheça a história de Pablo Antoja, presidente de vendas da TP para América Latina

Pablo Antoja: "Trabalho bem feito não tem fronteiras; trabalho ruim não tem futuro"
Pablo Antoja: "Trabalho bem feito não tem fronteiras; trabalho ruim não tem futuro"

Desde muito jovem aprendi a assumir responsabilidades e a me envolver ativamente na resolução das questões. Prefiro ser parte da solução ao invés de ser vítima das circunstâncias. Esta habilidade deve-se em parte à minha ascendência. Sou de Barcelona, na Espanha, e trago comigo a influência dos catalães, uma cultura arraigada no respeito pelo trabalho, pelas pessoas e pelo dinheiro. Na Catalunha, era comum que os pais fornecessem apenas o essencial aos filhos, incentivando-os a buscar oportunidades de forma independente. 

Por conta deste pensamento, comecei a trabalhar aos 13 anos, programando uma base de dados para um amigo da família. Aos 16, o trabalho era durante os verões. Nessa época, recebia mesada, é verdade, mas era um valor irrisório. E agora, olhando para trás, constato que este movimento foi muito bom para mim, para que eu pudesse aprender e valorizar a cultura do trabalho.  

Meu pai, Eduardo, engenheiro especializado em computação, era um importante executivo internacional. E essa presença constante da tecnologia no ambiente familiar proporcionou uma educação diferenciada e enriquecedora.  

A ausência frequente dele devido às viagens a trabalho me levou a encontrar conforto na leitura. A ausência da internet fez com que consumisse bastante conteúdo empresarial; como o de Edward de Bono, psicólogo da Universidade de Oxford que estudava a disciplina de pensamento. Este conhecimento diferenciado expandiu minhas habilidades exploratórias e a minha forma de raciocinar. 

Desbrave caminhos, enriqueça o networking e explore pontos fortes  

Como adorava informática e tinha afinidade com lógica, pesquisa e argumentação, pensei que seria advogado. No entanto, no decorrer das aulas, me frustrei com o desenrolar do curso e optei por mudar de rota. Conclusão: me graduei em Administração de Empresas, em 1994. 

Quando terminei a faculdade, achei um bom trabalho dentro de uma empresa de software de gestão financeira multinacional. Nessa época, já tinha experiência em determinadas competências e trazia comigo habilidades como idiomas e informática a meu favor. Fiquei lá um ano e meio.  

Mas a grande oportunidade surgiu em 1997, quando entrei para a Pricewaterhouse, como consultor. Meu salário era menor do que o da empresa anterior, mas a oportunidade se mostrou irresistível. Estar ali era quase como fazer um master de tudo o que ia aprender, dos clientes com quem ia atuar, do tipo de trabalho que ia desenvolver.  

Nesse período, fui aprendendo, aprimorando o currículo e, ao mesmo tempo, construindo uma valiosa rede de contatos e amizades no meio executivo. Aproveitei o momento promissor para investir em uma grande paixão: o estudo de Engenharia de Sistemas.  

Aceitar desafios é impulsionar crescimento 

Em 2002, mais experiente, a IBM comprou o negócio de consultoria da PWC. A IBM é uma multinacional que proporciona uma vasta gama de recursos e perspectivas para quem está disposto a aproveitá-las. E este era o meu caso. Nesse ponto, eu já era diretor de projetos, e progressivamente continuei avançando na hierarquia profissional, passando em pouco tempo a liderar áreas funcionais e equipes de grande porte. 

Em 2007, a IBM me deu a oportunidade de realizar o MBA, Business Administration and Management General na Henley Business School, na Inglaterra, que é reconhecida há anos como a melhor escola do mundo em desenvolvimento pessoal pelo Financial Times. 

Ao todo, foram 15 anos de IBM, em que alcancei o cargo de executivo, equivalente à posição de sócio, e tive vivências incríveis.  

Dos desafios que tive neste tempo, destaco um em especial, quando me deram a responsabilidade de uma área funcional inteira, ainda estando na Espanha. Para entregar o resultado esperado, tive de fazer uma transformação um pouco disruptiva. Nessa época, estava na consultoria e tudo era organizado por projetos. Para poder ser mais competitivo e mirar na visão de futuro, tive que mudar isso e edificar algo novo. Não foi fácil, porque desafiei as estruturas e os processos existentes para poder construir essa unidade. Mas a estratégia deu certo e devolvi com juros a aposta que fizeram em mim. 

Mudei de país por cinco vezes neste percurso, e a última empreitada foi liderar a aquisição da empresa de backoffice da Telefônica, a T-Gestiona, permanecendo como CEO da subsidiária por dois anos. 

Cada conquista exige dedicação e disposição para aprender novidades 

A trajetória continuou, no cargo de CEO e Strategic Advisor em outras empresas. Até que, em 2018, a Teleperformance fez um convite para me juntar à equipe. Fiquei encantado com a oportunidade que se apresentava. E de algo tenho certeza: se não fosse pela experiência na América Latina, eu, como espanhol e executivo da IBM, teria provavelmente permanecido ali pelo resto da carreira, acomodando-me aos valores e às crenças empresariais da Espanha. No entanto, viver na América Latina acendeu em mim uma chama de entusiasmo pela mudança, ensinando-me a abraçar os desafios e a assumir riscos calculados. 

Entrei como Presidente de Vendas para a Ibéria e a América Latina no Comitê de Direção Global, um grande desafio que me permitiu trabalhar diretamente com o fundador e CEO da empresa, Daniel Julien. Essa conquista faz parte de um conjunto de fatores, e um deles é estar constantemente me aprimorando e utilizando as mais recentes tecnologias disponíveis. Cada avanço na carreira exige disposição para aprender coisas novas e abdicar das antigas, adaptando-se às exigências. Estar pronto para assumir desafios e se adequar às mudanças é fundamental para atingir êxito na carreira. 

Inteligência emocional é ferramenta da liderança moderna 

A inteligência emocional desempenha um papel fundamental, não apenas no gerenciamento do nosso próprio estado de espírito, mas também no alcance de metas. Hoje, ocupando posições de liderança, mantenho esse respeito por todos, baseado na compreensão do esforço e do sacrifício diário. Lembro muito do esforço e sacrifício tendo trabalhado, desde novo, o respeito devido a todos os profissionais. É algo que observo também em países como Brasil e Argentina, onde as pessoas trabalham e estudam desde muito cedo, o  que contribui para o sucesso de muitos executivos dessas nações em escala global. 

A liderança moderna requer não apenas habilidades técnicas, mas também um alto grau de inteligência emocional. Requer um envolvimento ativo no desenvolvimento de cada membro da equipe, independentemente de sua posição hierárquica, seja liderando pelo exemplo, seja facilitando o processo. O importante é assumir um papel proativo nessa jornada.  

Essa abordagem não apenas fortalece os vínculos dentro da equipe, mas também promove um ambiente de trabalho acolhedor, impactando diretamente na produtividade e no sucesso geral da organização. 

Uma ferramenta valiosa chamada mentor 

Não tive exatamente um mentor. Acredito que se tivesse tido, teria potencializado ainda mais o meu sucesso, porque o papel dele é te ajudar a romper paradigmas, dar uma visão muito mais completa, devido à experiência de muitos anos à sua frente, e te auxiliar a encontrar o rumo correto dentro das diferentes alternativas que se abrem para qualquer pessoa, à medida que a carreira avança. É um profissional necessário, sem dúvida. 

Contudo, fui orientado por líderes excepcionais. Maite González MacDowell e Amparo Moraleda, na Espanha, foram fundamentais para a escalada como diretor na IBM, apesar de eu não ser o tipo mais politicamente habilidoso. Minha dedicação ao trabalho e ao relacionamento com os clientes superava qualquer jogo político. Maite reconheceu isso, assumiu o risco e retribuí essa confiança com resultados extraordinários, já no primeiro ano. Além disso, ambas me apoiaram, junto de Pierre Lamagnère, um coach excepcional, durante a transição para a América Latina.  

Após as experiências na Argentina e Irlanda, fui conduzido por Jesus Mantas de volta à América Latina, desta vez como Managing Partner de Consultoria na Colômbia. Ele se tornou o mentor mais próximo que já tive, devido ao nível de confiança e à franqueza e honestidade das nossas conversas, bem como dos desafios que enfrentamos juntos. 

Inspire e inspire-se! 

Como resultado deste processo de aprendizado contínuo, posso citar alguns cases de sucesso de grande prestígio. O primeiro foi na IBM, quando me foi confiada a gestão dos serviços de gerenciamento de aplicações, e optei por uma abordagem completamente inovadora. Introduzi um modelo revolucionário, estabelecendo uma fábrica dedicada ao desenvolvimento e à manutenção de ERPs dentro da estrutura da consultoria. Naquela época, há 20 anos, essa ideia era considerada radical. No entanto, revelou-se um enorme sucesso, não apenas devido à satisfação dos clientes, à qualidade dos serviços prestados, às ferramentas e metodologias utilizadas, mas também por se tornar uma verdadeira incubadora de talentos, e, é claro, pelos resultados financeiros excepcionais que gerou. 

O segundo foi mais recente, na Teleperformance, durante os três primeiros anos, quando testemunhamos um crescimento exponencial na região, tornando-nos líderes da indústria de BPO tanto em âmbito regional quanto global. O primeiro ano foi desafiador, com a introdução de um novo modelo de vendas e a incorporação de conceitos de consultoria. No entanto, após conquistarmos vendas importantes e experimentarmos um crescimento sólido, tudo fluiu com mais naturalidade. 

Como presidente de Vendas, me orgulho das conquistas alcançadas e da equipe que lidero. A contribuição da América Latina para os resultados financeiros e o portfólio de clientes da Teleperformance, é claramente evidente em nossos relatórios anuais, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos. 

Além disso, a oportunidade de trabalhar diretamente com Daniel Julien, CEO da empresa, representa, para mim, um verdadeiro teste de minhas habilidades, capacidades e adaptabilidades rápidas a uma cultura corporativa intensa e direta. Tive a sorte de contar com o apoio de colegas e líderes excepcionais, que continuam a me inspirar todos os dias. 

A importância da escuta ativa dentro da organização 

Existem lições que sempre carrego comigo. A primeira é a importância da escuta atenta e genuína. Muitas vezes, as pessoas não ouvem o suficiente. O ego se intromete e impede a absorção do que verdadeiramente é dito. Estamos constantemente envolvidos em nossos próprios pensamentos e narrativas. Mas essa narrativa, com todos os nossos padrões, crenças e medos, pode nos limitar. 

Em muitos desafios que enfrento, questiono-me: “Se fosse outra pessoa, como resolveria esse problema?”. Isso me ajuda a quebrar padrões e encontrar novas soluções. 

Com este cenário em mente, penso que quando se refere aos níveis gerenciais, por exemplo, uma armadilha frequente pode ser justamente essa situação, e a dificuldade em trabalhar em equipe com colegas do mesmo nível, entre diferentes departamentos ou unidades. O medo da competição interna pode limitar a produtividade tanto individual quanto da empresa. O receio em ouvir outras ideias, e talvez admitir que elas têm um potencial alto, pode gerar insegurança em muitos profissionais.  

É bastante comum também confundir o trabalho árduo com o trabalho focado nos resultados. São distintos, tanto em quantidade quanto em propósito. Não são mutuamente exclusivos, mas é primordial manter sempre o foco nos resultados. 

Outro desafio importante para ressaltar, é saber lidar com o desconforto e o risco. Ter uma posição de liderança, especialmente como diretor, significa traçar o rumo, sendo você quem define o caminho. Isso é um compromisso e implica riscos. Faz parte disso ter um bom equilíbrio para conseguir lidar com a pressão de forma saudável. 

Esteja aberto a novos aprendizados 

Acredito que a disposição para aprender, aliada à humildade de reconhecer que sempre há algo novo a ser absorvido, é crucial. Uma pessoa que não é humilde ou que não consegue admitir seus erros, dificilmente conseguirá progredir. Além disso, duas habilidades adicionais se destacam: gestão do tempo e pensamento crítico.  

Ao entrevistar pessoas, costumo indagar sobre um sucesso e um erro que tiveram em suas trajetórias profissionais. Essas respostas oferecem uma visão valiosa sobre como essas pessoas agem, pensam e colaboram em equipe. Outra pergunta que adotei, especialmente agora que estou envolvido em vendas, é saber o que eles costumavam vender quando eram crianças. Essa última questão revela muito sobre criatividade, habilidade de comunicação e até mesmo espírito empreendedor de cada indivíduo, fornecendo insights valiosos sobre suas experiências passadas e sua mentalidade atual. 

Um caminho rumo ao sucesso com paixão, integridade e desafios 

 Ao iniciar no mundo corporativo, busque algo que genuinamente te apaixone. A partir disso, aprenda e se aprofunde cada vez mais, para se tornar um profissional cada vez melhor e atualizado. Além disso, é de suma importância ser íntegro e cultivar uma conexão leal com as pessoas ao nosso redor. Estes dois fatores, sem exceção, caminham juntos.  

Acredite: líderes mais desafiadores nos ensinam muito, pois nos impulsionam a crescer e a nos desenvolver. Embora lidar com essas demandas não seja fácil, a longo prazo, isso nos leva ao melhor caminho e ao reconhecimento, já que conseguimos entregar resultados excepcionais.  

Vale ressaltar que não necessariamente os caminhos serão fáceis. Sempre existirão obstáculos, mas estes nos dão a oportunidade de crescer de forma contínua. Aliás, ao comentar isso, me recordo de uma frase de meu pai. Ele dizia que se estivéssemos felizes todos os dias no trabalho, algo não estaria certo, pois não estaríamos sendo desafiados o suficiente. 

Por fim, não importa o quão talentoso seja: o verdadeiro potencial só é realizado em equipe. Sem uma equipe, você é apenas um bom profissional. Em determinado ponto da carreira, não se trata mais apenas de si, mas sim das pessoas com quem trabalha. Conectamo-nos como seres humanos, não apenas como colegas de trabalho.