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Pense o bem e faça o bem. E não aceite imposição de limites, afirma Francisco Chang

Na coluna desta semana, conheça a história de Francisco Chang - VP Sênior para a América Latina da Kore.ai

Na coluna desta semana, conheça a história de Francisco Chang  - VP Sênior para a América Latina da Kore.ai  (Editora Global Partners/Reprodução)
Na coluna desta semana, conheça a história de Francisco Chang - VP Sênior para a América Latina da Kore.ai (Editora Global Partners/Reprodução)

Desde jovem, a curiosidade tem me impulsionado na edificação dessa jornada. Ao manter o foco em estruturar princípios e propósitos genuínos – além de investir em relacionamentos sadios –, obtive enorme êxito para me destacar no segmento de tecnologia de informação, com experiências marcantes em organizações proeminentes do mercado. Dessa forma, honrosamente ocupo a posição de vice-presidente sênior para a América Latina da Kore.ai 

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Nasci em 1968, dentro de uma comunidade de taiwaneses no estado de Minas Gerais, mas cresci em Foz do Iguaçu (PR), uma cidade situada na tríplice fronteira e com forte presença de imigrantes europeus e asiáticos, ou seja, um caldeirão de raças e culturas diferentes. Isso fez com que eu tivesse uma mente aberta e respeitosa a novos conhecimentos e culturas.   

Naquela época, Foz do Iguaçu não tinha universidades, e para que eu pudesse continuar os estudos era necessário mudar para uma cidade que oferecesse tal condição. A decisão foi mudar para a cidade de São Paulo, a fim de tentar entrar numa universidade.  

Quando cheguei a São Paulo, enfrentei inúmeros questionamentos, diziam que um “bicho do Paraná” não iria ter sucesso em São Paulo, que em questão de meses fracassaria e voltaria a Foz. Recebi questionamentos não como condenação, mas como desafios para me esforçar e trabalhar mais. E fui recompensado por ser aceito nas mais prestigiadas faculdades do país: Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). No fim, decidi pela Escola Politécnica da USP, onde me graduei em Engenharia Eletrônica, em 1992.  

A curiosidade e o propósito são essenciais na constituição da jornada 

Sempre fui uma pessoa bem curiosa – tudo o que é desconhecido me fascina. Essa característica, que me acompanha desde infância, é essencial na formatação da minha personalidade, pois me encanta o desconhecido, o novo. E foi por isso que a computação ganhou minha atenção desde o meu primeiro dia da faculdade.   

Logo no segundo ano de faculdade, já estava realizando monitoria no Centro de Computação da USP. Marcou como o meu primeiro estágio, algo bastante significativo para entrar em contato com a prática do que assimilava em sala de aula. Cada vez mais, tive a convicção de que havia escolhido a profissão certa a seguir. Mantive o ritmo, o planejamento, e no último ano concluí um estágio na própria Poli, em um projeto de computação envolvendo a USP e a IBM, dentro do Laboratório de Sistemas Digitais. Esse processo foi fundamental para alcançar o sonho de ingressar na IBM, em 1992, significando como o início da minha carreira profissional.  

Depois de três anos na IBM, senti a necessidade de buscar mais conhecimentos, e desta vez resolvi buscar uma vaga de mestrado em Administração de empresas (MBA) numa universidade top 50 do mundo. Mais uma vez fui questionado se tinha capacidade para ingressar à uma universidade de elite mundial. E mais uma vez consegui provar para os incrédulos a minha capacidade: Fui aceito pela prestigiada Universidade do Sul da California (University of Southern California) e recebi o título de MBA em 1997.   

Ao longo da minha história pude vivenciar várias experiências marcantes, aprendendo algo novo a cada dia, algo que segue ocorrendo. Dessa maneira, jamais permaneço estagnado – fator essencial em minha profissão, haja vista como preciso estar constantemente atento às inovações.  

Penso como fator preponderante em minha vida o fato de jamais esquecer do meu propósito; o propósito do ser humano Francisco Chang. Simplesmente, parto do princípio de que tenho como missão trazer o bem para o mundo, contribuindo da melhor forma possível – mesmo que seja ínfimo –, porém, dentro das minhas possibilidades. Assim, consigo impactar as pessoas, a sociedade e, por conseguinte, a empresa, os negócios. 

A liderança por exemplo é alicerçada com respeito e engajamento  

Pondero como um dos maiores desafios na trajetória de quem se encontra à frente dos processos é o de conseguir tornar-se um líder e não um chefe. Saber cativar as equipes se servindo de exemplo. Esse perfil é o oposto de quem permanece atrás da mesa dando ordens. O líder deve se integrar e interagir com os colaboradores, entendendo suas dificuldades e estar sempre disposto a oferecer ajuda, para que a equipe sinta amparada. 

Ainda sobre a pauta do engajamento, costumo afirmar: Nunca se dê por satisfeito com o que se tem hoje – sempre haverá espaço para melhorar. Obviamente, é um pouco subjetivo, mas não se trata de buscar a perfeição, mas sim de ir se aprimorando gradualmente dela. Tal conceito possui muitas bases na filosofia oriental: “Hoje vou tentar ser melhor do ontem, e amanhã, melhor do que hoje”.  

Tudo está relacionado com o meu jeito de liderar pelo exemplo, de buscar refinar os processos. Ao agir assim, ajudo também a incentivar os colaboradores, engajando-os nas tarefas propostas. Não é para pressionar a equipe e sim pensar como posso ajudar um pouco a mais, e faço isso com o objetivo de estimular quem está ao meu lado.  

Liderar por exemplo exige estar atento a sempre fazer o bem, para o bem dos outros, da equipe ou da sociedade. Transmitindo esse princípio para a minha equipe, as pessoas entenderão que fazem parte de um objetivo maior, assim, se sentirão mais motivados. Enfim, sempre peço ao time para pensar em agir coletivamente e entender o contexto maior, não olhando apenas para questões individuais. 

Outro ponto diz respeito à importância de compreender como cada indivíduo se difere de outro – tanto no aspecto pessoal quanto no profissional. É a questão de observar e respeitar a diversidade, fomentando fatores multiculturais em prol do trabalho coletivo. E, pautado nisso, extrair o melhor de cada um para alcançar os resultados estabelecidos. 

Com o advento do home office, do trabalho remoto, cabe ao líder moderno desenvolver essa capacidade de aglutinar as pessoas, motivar as equipes de uma maneira diferente do que era antes. Antigamente, realizavam-se reuniões motivacionais, olho no olho. Hoje, com as ferramentas de teleconferência, nem sequer sabemos se o profissional está prestando a devida atenção.  

Portanto, a liderança precisa desenvolver capacidades e habilidades específicas nestes âmbitos. Às vezes, realizo algum trabalho ou relatório e compartilho com a equipe. E o faço não somente com coisas bem-sucedidas, mas também com os erros, para demonstrar como quem está à frente também é suscetível a falhas. Isso evidencia como cometer equívocos é parte do ser humano e integra o aprendizado. Em contrapartida, esconder o erro, ou mesmo se omitir, constitui uma atitude errônea.  

Outro aspecto diz respeito à ambição, sempre de orientação positiva, de buscar motivar a equipe nesse sentido. Requer pensar em como ajudar a pessoa a se enxergar daqui a cinco anos, por exemplo, como e de qual maneira ela quer ser reconhecida. Eu exercito essa provocação, ao incentivar os profissionais a terem esse plano de cinco anos. E se alcançaram suas respectivas metas precocemente, melhor ainda!     

Mente aberta e visão de 360º norteiam o desenvolvimento 

O novo líder é aquele que nunca se dá por satisfeito diante de quaisquer situações. É preciso observar como o mundo está evoluindo velozmente, enfim, todos os envolvidos precisam manter-se atualizados.  

Menciono como exemplo a Inteligência Artificial. Há cinco anos, ninguém falava tanto sobre IA, e o mesmo ocorreu com os smartphones tempos atrás, ou com a própria internet no final do século XX.  

Os líderes atuais devem manter a mente aberta e estarem dispostos a aprender constantemente. No entanto, achar que precisam saber sobre tudo é um enorme engano. A todo momento podemos (e necessitamos) assimilar novos conhecimentos, o que engloba diversos aspectos, especialmente junto às pessoas. Engloba a visão de 360º, vislumbrando como cada indivíduo pode agregar ao todo. Ou seja, amealhar novos ensinamentos é fundamental para se aprimorar na vida pessoal e espiritual. 

Acredito que posso aprender com cada uma das pessoas que eu convivo, que todas elas em algum momento da vida foram meus mentores. Pessoas que me guarneceram aprendizados valiosos, imprescindíveis para sedimentar minha personalidade e carreira. Meu primeiro gestor no meu primeiro trabalho atua como mentor até hoje, e aprendi muito sobre o respeito pelo indivíduo ao lado. Outros mentores, que foram meus chefes, colegas, subordinados ou amigos e mestres, detinham o viés bastante humano, de como lidar com situações profissionais e pessoais. 

Reitero como indivíduos não necessariamente exercem cargos de liderança, mas sim providenciam aprendizados singulares de outras formas. Basta saber assimilar os inúmeros conhecimentos à disposição, guarnecidos por outras pessoas, e deter essa visão ampla, ao olhar para todos os lados.  

Costumam dizer que sou adepto do ócio criativo, por ter o hábito de parar durante 15 minutos, para ler notícias aleatórias, de assuntos diversos. Na verdade, é uma forma de conseguir entrar em contato com fatos curiosos, que podem ser válidos em diversos contextos, ao pensar fora da caixa. E esse é um diferencial extraordinário! 

Quando estava com mais de 40 anos, já estabelecido no mercado de tecnologia e software, fui convidado pela Salesforce, empresa recém-chegada ao Brasil, para atuar num novo segmento de mercado, com foco em computação na nuvem e relacionamento com clientes. Nem sequer tinha ideia do que se tratava, mas fiz questão de aprender, me dedicando com afinco para dominar o assunto. Sem dúvida, foi uma das melhores decisões que tomei na vida.  

Portanto, ao expandir o repertório continuadamente, pude vislumbrar outras oportunidades, tornei-me mais reconhecido ao mercado. Assim, mais recentemente, no final de 2021, recebi o convite para ser o SVP da Kore.ai, empresa norte-americana de Inteligência Artificial. É algo ainda relativamente desconhecido do grande público, mas certamente gera um grande fascínio, muito por conta do seu potencial. Pelas circunstâncias, ingressei nesse atraente e promissor mercado, três anos antes de ele estar em voga.  

A Inteligência Artificial detém a capacidade de melhorar o mundo  

Sou realmente um entusiasta da Inteligência Artificial. A IA é uma inovação que vai mudar a nossa vida para melhor. Não raro, vejo muita gente ficar receosa, considerando que seremos dominados por essa tecnologia. A IA, no entanto, é apenas uma tecnologia para aprimorar nossas vidas; cabe às pessoas decidirem onde e como vão empregá-la. 

Evidentemente, deve-se levar em conta como toda inovação pode ser utilizada para o bem ou para o mal. Todavia, reitero como muitas coisas boas vão acontecer com a utilização adequada das ferramentas, em diversos campos, como na aplicação dos carros inteligentes e dentro da medicina – ao desvendar a causa de doenças e, consequentemente, as suas curas. Ou então, falando de coisas mais banais, como a checagem de dados, diminuindo erros humanos.  

A Inteligência Artificial é uma tecnologia que pode ser bem ou mal utilizada pelo ser humano responsável, jamais pela ferramenta em si. Ou seja, demandará das pessoas alinhadas ao segmento colocar em prática as habilidades positivas intrínsecas do ser humano para tornar o mundo melhor. É isso que eu enfatizo: pensar o bem e fazer o bem. 

Respeite as individualidades e foque em princípios para vencer 

Cada pessoa é um ser humano com pensamentos e emoções distintos. Respeitar as características de cada indivíduo é um ato inegociável. Ao perceber a existência de um conflito, trato de explicar a visão de cada um, pois é preciso encontrar o equilíbrio, haja vista como ninguém é o dono da verdade.  

Basta analisar como algumas pessoas possuem conhecimentos mais técnicos, ao passo que outras são mais voltadas para interações e relacionamentos. Ao deixar isso claro aos envolvidos, todos passam a compreender os seus respectivos papéis, o que acarreta o trabalho coletivo bem realizado em sua plenitude. De qualquer forma, sem o diálogo aberto e assertivo a missão fica bem mais complicada, porque existe a necessidade de se interpretar o que está sendo proposto.  

Com tanto tempo de carreira, nem sequer hesito ao apontar como as principais armadilhas do mundo corporativo são a ganância e o sentimento de querer conseguir alcançar o objetivo a qualquer custo, podendo infligir o mal para as outras pessoas. É preciso pensar como há outras formas de atingir os objetivos, com planejamentos adequados, sem prejudicar os outros indivíduos em seu entorno.  

Obviamente, nos encontramos em um mercado altamente competitivo, mas nada justifica agir sem se pautar em valores robustos. Logo, a linha de raciocínio deve englobar como as outras empresas são concorrentes, nunca inimigas – inclusive, elas poderão ser parceiras futuramente.   

Enfim, basta que cada pessoa mantenha o foco em seus princípios, sabendo como contribuir genuinamente. De forma geral, torna-se viável sentir o que foi conquistado, contemplando o orgulho do que foi alicerçado. 

Mantenho o hábito de conversar com novos indivíduos, de conhecer assuntos diversos. Sou budista, frequento o Templo Zu Lai, em Cotia (SP), desde pequeno – considero um refúgio para tudo. Vou até o templo sem agenda fixa, somente para me reenergizar, encontrar respostas. Assim, volto mais tranquilo para lidar com os desafios do cotidiano. 

Jamais aceite a imposição de limites: busque o seu melhor! 

Durante a minha vida, várias pessoas me disseram que sou diferente dos outros, no bom sentido. Justamente pelo fato de que, apesar da posição que ocupo, não ajo com prepotência ou arrogância, defeitos que fecham nossa mente para novos aprendizados e afastam seus potenciais mentores. Costumo dizer que estou junto aos outros para aprender.  

Portanto, considero imprescindível adquirir conhecimentos com os outros, mas sem jamais esquecer quem você é. Evidentemente, sou um profissional competitivo, mas trato de equilibrar isso sempre, contemplando fazer o bem para os outros em prol da sociedade. É uma fórmula simples para evoluir em todos os aspectos.  

Outro ensinamento primordial no qual acredito bastante é sobre nunca aceitar um não. Quando jovem, vim para São Paulo repleto de receios. Nessa condição, precisei perseverar para vencer, atingir os objetivos, e obtive êxito ao longo da trajetória ao me dedicar, com o olhar curioso e focado.  

Definitivamente, trata-se de não aceitar os limites que outras pessoas colocam em você, mas transformar os obstáculos e desafios em motivação, tanto na vida pessoal quanto na profissional. Com isso, cria-se a identidade, imbuída de confiança e valores.  

Já sobre a estabilidade financeira, considero-a uma consequência do esforço e algo subjetivo, pois cada um tem um conceito sobre ela. Para mim, a estabilidade emocional é muito mais importante. A felicidade interna não tem preço – há muita gente que possui enorme poder material, mas não tem qualquer paz interior. Portanto, sigo outra linha de pensamento, investindo no equilíbrio para vencer em todas as frentes nas quais me proponho a vivenciar.  

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Jamais aceitem que lhe coloquem limites; conheçam quem são vocês! Por fim, busquem as suas próprias identidades e orientem os seus esforços, tendo em vista proverem coisas boas para o mundo!