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Aprendizado contínuo, prática e boas relações constituem uma trajetória vitoriosa

Na coluna desta semana, conheça a história de Tiago Lacassagne Mattos, CEO na Sarandi Alimentos – MOTRISA

Tiago Lacassagne Mattos, CEO na Sarandi Alimentos. (Histórias de Sucesso/Reprodução)
Tiago Lacassagne Mattos, CEO na Sarandi Alimentos. (Histórias de Sucesso/Reprodução)
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Histórias de sucesso

Publicado em 19 de agosto de 2022 às, 15h53.

Por Fabiana Monteiro

Natural de Porto Alegre, nascido em 1982, sou oriundo de uma família humilde. Meu pai, já aposentado, edificou toda a sua carreira dentro de gráficas, ao passo que minha mãe é dona de casa.   Minha avó materna, Zélia Lacassagne, exerceu uma influência significativa, pois como educadora, professora de Educação Física e Pedagoga, sempre me incentivou a estudar, a ser uma pessoa de caráter sólido, de “bom coração”, sério e justo. Minha avó sempre esteve à frente do seu tempo. Além disso, detenho a sorte por ter convivido muitos anos ao seu lado e, em 2002, com o seu apoio irrestrito – inclusive com ajuda financeira –, inscrevi-me na Associação Cristã de Moços (ACM) para realizar o curso Técnico em Contabilidade.

Essa iniciativa abriu várias “portas” para o mercado de trabalho, inclusive proporcionando o meu primeiro e único estágio na Junior Achievement RS, depois de receber o apoio de uma professora do SENAC, onde realizei cursos de informática. Assim, permaneci como estagiário durante um ano e, depois de efetivado, atuei como auxiliar administrativo por seis meses. Foi um período deveras importante, pois o meu potencial foi aproveitado para ministrar cursos para alguns alunos, profissionais com experiência e, por conseguinte, impulsionou-me a desenvolver habilidades comportamentais, aprimorando a dicção, a oratória e a me tornar menos desinibido. Novos desafios surgiram, tais como realizar auditorias e participações em eventos, conduzindo-me à efetivação.

Dedicação na aprendizagem teórica e prática  

Após esse período de aprendizado, recebi um convite do Grupo Évora, que na época era a Petropar, para atuar como auxiliar contábil. Foi uma indicação de uma das minhas gestoras e disputei o processo seletivo com cerca de cinco candidatos que já se encontravam no sexto semestre da faculdade. Os líderes gostaram do meu perfil e ingressei em outubro de 2003 – inclusive, a empresa era uma das mantenedoras da Junior Achievement. Foi uma experiência marcante, haja vista que permaneci durante sete anos na companhia, amealhando seguidas promoções, passando pelas funções de analista contábil júnior, até atingir o posto de analista pleno.

Neste período, cursei Ciências Contábeis na PUC-RS e formei em 2007. Apesar de terem me aconselhado a optar por Administração de Empresas, estava decidido e ciente de que minha escolha proporcionaria mais oportunidades. Além disso, gostava de números e fui o primeiro da família a enveredar por esse setor acadêmico. Certamente, foi uma das melhores resoluções da minha vida. De dia aprendia a prática e à noite me dedicava à teoria. Considero o Grupo Évora como uma segunda universidade, e durante esta fase aproveitei para cursar uma pós-graduação, especialização em gestão financeira e tributária na FAPA. O aprendizado contínuo sempre norteou as minhas decisões.

“Conciliar os estudos com o trabalho, a teoria com a prática, significou toda a diferença em minha carreira

Tudo o que estava absorvendo no currículo acadêmico eu já conhecia, por ter erigido uma base sólida, e também pelos conhecimentos adquiridos ao atuar dentro de uma multinacional, de capital aberto, que prestava contas para a CVM, conselho de administração e acionistas. Além disso, reitero a importância de sempre ter o respaldo de bons gestores. Esses profissionais passaram a me incumbir com mais desafios e me dediquei com enorme afinco, obtendo vasto crescimento pessoal.

Encerrei esse ciclo no Grupo Évora porque tinha outras metas predeterminadas. A principal, era de me estabelecer em um cargo de coordenação, antes dos 30 anos de idade. Um colega da pós-graduação, ciente de que eu era um bom aluno e profissional, indicou-me para trabalhar em uma concorrente da empresa a qual estou hoje. Mas não acertamos, pois queriam que eu trocasse de companhia abruptamente.

A guinada rumo ao auge

A MOTRISA, a qual viria a me consagrar, necessitava de um analista contábil e, assim, participei de alguns processos, incluindo testes de habilidades específicas, até entrevistas com diretores. Devidamente aprovado, iniciei a minha jornada na corporação em março de 2011. Desde então, cursei mais uma especialização, desta vez, em operações societárias e planejamento tributário no INEJE, desfrutei de diversas oportunidades de crescimento com grandes desafios, e galguei inúmeros degraus, até alcançar o cargo máximo como CEO .

Vale ressaltar que entrei em uma empresa consolidada, com 88 anos de história, como analista contábil, logo fui para contador júnior, contador, gerente contábil e tributário, diretor adjunto, diretor executivo, antes de me consolidar como o principal líder. Nesse período de onze anos, diversos projetos passaram por mim, então o conselho de administração, os acionistas majoritários, e até os diretores anteriores me viabilizaram perspectivas de crescimento.

Esses profissionais notaram que eu lidava bem com a pressão, cumpria os prazos e metas, abarcando não somente a minha área, mas também provendo um conhecimento mais genérico de cada setor da empresa. Pouco antes da pandemia ganhar força, fui promovido a CEO, em janeiro de 2020.

Houve uma operação interna em que me dediquei muito por um período de um ano e meio, aproximadamente. Esse processo envolvia outra empresa, por fim não logrando êxito na transação, mas o meu desempenho foi bem avaliado e a partir de então começaram as sondagens, a análise se eu estava preparado para assumir um cargo que envolvia maiores responsabilidades. Entre os conselheiros de administração obtive aprovação unânime.

Sendo bem franco, já vinha me preparando para dar esse passo e esperava que o momento chegaria quando estivesse próximo a completar 40 anos de idade – na época, estava prestes a completar 37 anos. As ascensões dentro da companhia sucederam rapidamente, até em questão de meses recebia constantes promoções. De diretor-executivo para CEO se tratou de uma etapa efetuada em um mês, apenas para contemplar o estatuto social da empresa.

Credibilidade e respeito conduzem ao sucesso

Compreendo que nesses 20 anos de carreira não tive um “pulo do gato”. Na verdade, esse sucesso foi constituído ao longo da jornada, transmitindo credibilidade, respeito – não somente no aspecto profissional, como no pessoal também, e aqui ressalto a importância do caráter. Considero que tudo ocorreu naturalmente, pautado em muito trabalho, dedicação e seriedade, conquistando a confiança de todos. Comecei como estagiário e, antes dos 40 anos, assumi como CEO, desempenhando funções exigentes, permeadas por desafios complexos.

Além disso, posso considerar como cases de sucesso alguns fatores como a gestão focada sempre nas pessoas e nos resultados, renegociações de endividamentos, êxitos nos pleitos de incentivos fiscais, reestruturação de operações e viabilização de novos negócios, buscando o equilíbrio econômico-financeiro. Assim, ensejando o crescimento gradual da companhia em um período adverso, causado pela pandemia e pelo conflito armamentista entre a Rússia e a Ucrânia. Ambos os acontecimentos atingiram, e ainda causam danos aos resultados das empresas. Mesmo diante de tais cenários, estamos vivenciando um crescimento gradativo, abaixo do que se esperava antes da pandemia, mas em função dos acontecimentos supracitados, considero que estamos nos saindo bem.

O valor de transmitir confiança e liderar com sensatez

Ressalto que o grande momento de minha jornada até o presente momento foi quando fui nomeado CEO - Diretor Superintendente, após 17 anos no mercado, sendo oito deles dedicados à minha atual empresa. Inclusive, algumas pessoas com bastante tempo de casa, confidenciaram que nunca haviam presenciado alguém conseguir uma ascensão tão rápida dentro de uma organização de caráter familiar. Após mais de oito décadas, marcou como a primeira vez que a organização, finalmente, aderiu ao modelo de gestão 100% profissional e de carreira. Trata-se de algo inédito.

Considero somente um desafio que envolve internamente outros desafios complexos, ou seja, o processo de reerguer a corporação após anos, obtendo resultados insatisfatórios em pouco tempo à frente dos negócios. Posteriormente, quando estávamos passando pelo período mais agudo da crise sanitária global, como principal executivo, precisei transmitir segurança e tranquilidade para os stakeholders. Portanto, aposto na resiliência, sendo realista, diante do cenário turbulento, com o propósito de dirimir os impactos negativos nas operações.

Obviamente, tive o respaldo de inúmeras pessoas, que me apoiaram e me influenciaram demais. Durante o percurso profissional, adquiri admiração por profissionais como a Ana Beatriz Franzoni, a Marilene Melero Ignácio, o Edson Pacheco Alves, a Lavínia Fraga Leite, o Sérgio Laurimar Fioravanti, o João Verner Juenemann, o Ivo Darci Pierdoná – In memoriam, além do professor João Carlos Meroni Miranda que foi meu orientador na graduação e continua sendo um grande amigo. São profissionais que me ensinaram muito, não apenas no âmbito técnico, mas também para me transformar em um bom gestor, em um líder capacitado, de como saber escutar, propor o feedback adequado, nos momentos certos, enfim atitudes comportamentais adequadas para manter o engajamento da equipe em equilíbrio. Isso inclui a relevância de ser um indivíduo sensato, especialmente nos momentos de crise.

Aposte na seriedade e demonstre competência

No momento atual, existe uma armadilha que atinge principalmente as novas gerações. Muitos profissionais ingressam na empresa acreditando que serão promovidos rapidamente, saltando etapas importantes em suas respectivas formações. Tais posturas atrapalham o crescimento dessas pessoas, pois isso acarretará em desmotivação, em desinteresse, logo desencadeando uma disruptura em busca de conquistar oportunidades no futuro.

A melhor maneira de se evitar essa falha é investir no trabalho, atuando com seriedade, demonstrando competência, assim as chances surgirão no seu devido tempo. Os jovens devem estar preparados para essas ocasiões dentro de qualquer instituição, pois as adversidades devem ser tratadas de forma equilibrada. Essa postura de querer algo de imediato, considerar tudo fácil de se conseguir, é algo que observo bastante em quem está ingressando no mercado de trabalho.

Grande parte sequer detêm a experiência necessária e já almejam cargos de gestão. Tudo tem o seu o tempo e sou um exemplo disso, por ter sido considerado para uma promoção que não se consolidou. Nesse momento, é preciso fazer uma reflexão, pensar qual a melhor decisão a ser tomada, se vale a pena esperar mais um pouco, se a tática adequada é arriscar.

Insisto em explicar esse tema, especialmente para as gerações vindouras, de como o equilíbrio emocional é fundamental para lidar com os momentos de pressão, assim como saber trabalhar em equipe. Outros aspectos que costumo considero englobam a criatividade e a boa comunicação. E não descarto nunca a humildade – independentemente do cargo, da remuneração, a pessoa precisa demonstrar serenidade e respeito. Isso não significa “baixar a cabeça” para tudo, mas possuir a capacidade de escutar, de dialogar, de reconhecer os próprios erros. Tenha mais calma e seja mais resiliente.

Liderança demanda diálogo e aprendizado contínuo

O novo líder precisa ser mais compreensível, acessível e colaborativo, amparado no propósito de solucionar problemas com agilidade, auxiliando as equipes. Desta maneira, o gestor angaria mais credibilidade junto aos liderados. Outro ponto inconteste diz respeito ao conceito do aprendizado contínuo, algo crucial para evitar que tanto o líder quanto os profissionais dos times fiquem estagnados, na zona de conforto. O perfil de um CEO deve ser 10% técnico e 90% comportamental, portanto, a pessoa precisa ter um bom equilíbrio emocional para se adequar ao exigente mundo corporativo, bastante incerto, competitivo e acirrado. Desta forma, é importantíssimo para o profissional se manter atualizado e aprimorar os seus soft skills.

Além disso, considero bastante pertinente que o líder reconheça quando tomou alguma decisão equivocada e aja o mais rápido possível para remediar a situação. Não há mal algum em se amparar em outras opiniões para agregar conhecimento acerca de um assunto a qual não domine plenamente – ou seja, ter uma assessoria competente é vital para efetuar as tarefas com êxito. Estou na empresa para ser um facilitador da equipe, e considero não existir mais espaço para um líder fechado, autoritário – estamos vivenciando um momento de diálogo.

Confesso que fiquei mais tenso após assumir a minha atual posição, por causa da pandemia. Na metade de fevereiro de 2020, início de março de 2020, percebi que algo inédito, em 100 anos, infelizmente, acontecia. Precisamos repensar acerca de algumas questões como a realização de reuniões, de nível gerencial, diretoria, conselho de administração, até assembleia de acionistas. Foi necessário se adaptar à nova realidade, mudar alguns comportamentos e procedimentos, como cercear viagens. Obviamente, um cenário horrível, em contrapartida, algumas coisas vieram para ficar, inclusive a interação virtual, sem perda de tempo e de dinheiro.

A pandemia proveu uma forma eficiente de colaboração, algo que anteriormente a maioria das empresas sequer cogitava. Algumas tarefas não requerem mais o in loco 100% do tempo, haja vista que o home office supri com eficácia o modelo antigo. Creio que a aderência a este formato diminuirá mais adiante, porém a flexibilidade ainda será bastante aproveitada. O presencial, todavia, ainda é importante em determinadas situações e estamos integralmente in loco no momento. Em determinado momento, precisamos realizar uma espécie de rodízio – por ser uma companhia do setor alimentício, trata-se de uma atividade essencial, mas controlamos adequadamente e não houve queda na produção e no setor administrativo.

O legado é construído constantemente

Acertar em todas as decisões tomadas, diante de um cenário instável, com gargalos operacionais, incertezas de mercado e insegurança jurídica são enormes desafios. E, certamente, penso em deixar um legado o qual consiga superar todas as adversidades que, por ventura, possam ocorrer.

Quero ser lembrado por minha persistência no trabalho e na excelência, como um exemplo de conduta no trato interpessoal e na execução dos negócios. Apesar de jovem, pretendo também marcar como um líder que proporcionou a oportunidade de crescimento e de desenvolvimento dos seus liderados.

Minhas futuras metas incluem continuar agregando no crescimento da companhia, ocupando a posição de conselheiro consultivo, de administração ou fiscal em outras corporações, sem que haja conflito de interesse. Inclusive, estou me dedicando aos estudos sobre Governança Corporativa e Formação para Conselheiros com cursos na FGV. Outro sonho que acalento é o de me formar em Direito para me especializar nas áreas pertinentes ao empresarial, societário e tributário. Isso acontecerá mais adiante.

“Os pilares do sucesso são: amar o que se faz; o estudo contínuo conciliado com a aplicação no dia a dia; o aperfeiçoamento das habilidades interpessoais; e possuir uma boa rede de relacionamento profissional”.