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A visão estratégica é fundamental na prevenção de crises, afirma Ana Paula Grings

Na coluna desta semana, conheça a história de Ana Paula Grings CFO & Membro do Conselho na Piccadilly Company

 A visão estratégica é fundamental na prevenção de crises, afirma Ana Paula Grings
A visão estratégica é fundamental na prevenção de crises, afirma Ana Paula Grings

A minha vida sempre foi pautada por diversos desafios, mas jamais esmoreci, pois trato de me empenhar ao máximo, amparada por resiliência, em busca de obter êxito nas empreitadas as quais me dedico. Realizei escolhas responsáveis por conduzirem-me a caminhos que nem sequer imaginava trilhar. Dessa forma, atualmente ocupo a cadeira de CFO da Piccadilly Company, além de ser membro do conselho do prestigioso grupo.  

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Nasci em Taquara (RS), e sou casada com o André Luis Rahde Junior, sendo que temos dois filhos, o Vicente Grings Rahde e o Nicolas Grings Rahde, minhas maiores conquistas. Ressalto como tudo começou de forma diferente da qual imaginava, pois me graduei em Fonoaudiologia na Universidade Luterana do Brasil, em 2005. Cheguei a ter consultório antes de migrar para o nicho de audiologia clínica e ocupacional. Nessa fase, passei por uma significante guinada, ao começar a atender os colaboradores da Piccadilly. 

Naquela época, passamos por uma auditoria do Ministério Público do Trabalho e precisamos realizar várias adequações dos Serviços Especializados em Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT), abarcando toda a parte de segurança e medicina do trabalho. Assim, fui convidada para liderar tais processos na companhia, provendo toda a normatização requerida.  

Devidamente inserida no mundo corporativo, optei por fechar a clínica, e foquei somente na organização. Após ter conseguido arrumar todas as pendências, recebi o convite para integrar a diretoria. Assim, tornei-me diretora de Serviços de Saúde, em um momento no qual tive de lidar com algumas dificuldades por ser a filha do dono, dentro de uma proeminente empresa de calçados. 

Os desafios iniciais na transição como executiva 

Logo considerei outras possibilidades, mas me deparei com uma nova realidade, quando houve uma mudança societária, englobando a gestão da empresa, sendo que alguns parentes saíram do negócio. Naquela ocasião, meu primo ocupava a posição de responsável por toda a gestão administrativa e financeira. Desejando enfrentar novos desafios, ofereci-me para assumir o cargo em seu lugar. Apresentei essa proposta durante uma reunião da diretoria e, posteriormente, fui promovida à posição de diretora de Recursos Humanos. 

Evidentemente, precisava amealhar conhecimentos diversos para contemplar as novas atribuições. Decidida a me desenvolver, passei por processos de mentorias e dediquei-me a cursos adicionais. Com resiliência, galguei meu espaço dentro do grupo, até que, em 2015, assumi efetivamente como CFO.  

Nem sequer hesito em apontar como o início foi bastante desafiador, mas notavelmente gratificante. A princípio, não detinha o desejo de participar do negócio in loco. Todavia, tratei de acreditar, com o propósito de prover continuidade à história da família, já devidamente como empresária.  

Meu avô, Almiro Grings, iniciou a empresa com a finalidade de criar oportunidades de emprego e renda para nossa família e para a sociedade como um todo. Assumi isso como uma missão e, devido à crença nesse legado, optei por realizar uma transição de carreira – esse é o impulso que me motiva até o presente momento. Sinto-me extremamente privilegiada por essa oportunidade e por poder continuar a contribuir para a construção da nossa história. 

A escuta ativa e a proatividade são diferenciais basilares 

O líder atual deve atuar, acima de tudo, com a escuta ativa, porque quando aprendemos a escutar, a interpretar o que está sendo dito de forma madura e consciente, endereçamos a mensagem de forma assertiva. Lidamos com perfis distintos dentro do negócio, e apostar na complementação é essencial para que haja sucesso nos projetos preestabelecidos.  

No meu caso, tenho doze colaboradores que se reportam diretamente a mim, e consigo identificar quem está mais próximo. Observo que a linguagem não verbal desempenha um papel crucial no aprimoramento das interações, pois nem sempre as expressões corporais refletem exatamente o que a pessoa está comunicando verbalmente. 

A parte técnica pode ser aprimorada com o tempo, por meio de cursos e mentoria. Já a questão emocional, comportamental, que engloba todos os segmentos, é muito subjetiva. Enfim, contar com essa sensibilidade é essencial. 

Assevero como a proatividade é uma característica que considero indispensável nas pessoas, em qualquer nível hierárquico. O indivíduo não pode ter medo de falar as coisas, de questionar – desde que saiba se posicionar da maneira correta, no tempo adequado. Aqueles que estão envolvidos no dia a dia do negócio têm uma visão mais abrangente em comparação com os que ocupam cargos de alto nível. 

A visão estratégica é fundamental na prevenção de crises  

Atualmente, não contamos com um time específico de gestão de crise. Mas, principalmente por conta da Pandemia de Covid-19, o investimento na participação em redes sociais aumentou, tornou-se algo automático em todos os negócios – a qualquer sinal de fumaça, já ficamos atentos.  

A pandemia trouxe uma velocidade incrível para a companhia – somos uma organização com mais de 60 anos, que era bastante estruturada, burocrática. Portanto, tratamos de descentralizar as operações. Nos primeiros 30 dias de lockdown, dedicamo-nos a estudar planos para embasar decisões em meio à crise sanitária. Felizmente, sempre fomos uma empresa muito sólida, com boa capitalização e baixo endividamento, o que facilitou a tomada de decisões difíceis.  

Com os aprendizados amealhados durante o período turbulento da pandemia, atualmente conseguimos reverter os períodos de complexidade velozmente, agindo logo que uma complicação se apresenta. Todavia, o planejamento estratégico está bem mais curto, especialmente em termos de metas, por conta da rapidez das mudanças nos cenários mercadológicos.  

Além disso, existe a questão premente acerca das pautas do ESG (Environmental, Social and Governance). A Piccadilly tem uma área específica dedicada à contemplação dos conceitos, algo que foi implementado mais recentemente e na qual nos empenhamos com enorme satisfação. Temos elevado a régua de forma muito forte nesse sentido, abrangendo todo o tripé.  

A questão ambiental é inegociável para a empresa em todos os aspectos – hoje somos animal free, ou seja, nenhum produto tem componentes dessa origem. Nos outros canais, há uma relevância bastante forte em todas as comunidades em que estamos inseridos – temos como o nosso propósito o encorajamento feminino, contemplando a diversidade e a equidade.  

Penso que a mulher pode ser o que ela deseja, desde dona de casa até executiva ou empresária. Já no plano econômico, zelamos pela saúde do negócio, compreendendo como as famílias dependem do nosso trabalho diário.  

O networking robusto e os riscos da autossabotagem 

Considero o aprendizado contínuo como um ponto crucial e entendo que não é necessariamente vinculado a uma experiência acadêmica constante. Acredito que o desenvolvimento também é enriquecido por meio de um networking robusto e pela busca constante de informações, mantendo-se atento ao que acontece ao seu redor. 

Há várias maneiras de se obter informações, e o mercado está tão dinâmico que é imprescindível manter-se em constante atualização. Logo atesto: a Piccadilly quer ser ainda mais ágil, com bastante tecnologia, para ampliar a participação de mercado.  

Ao edificar uma rede sadia de relações, os negócios incrementam naturalmente, algo que faz toda a diferença para se alcançar resultados expressivos. Ou seja, definitivamente não é somente o aprendizado formal o responsável por gerar todas as competências do profissional – é preciso contar com a visão holística. 

A minha carreira é a prova inconteste de que, com dedicação e humildade, torna-se possível chegar longe. Menciono com o maior aprendizado a capacidade de saber lidar com o medo de forma sadia. O medo é bom, mas não pode ser paralisante, e contar com esse equilíbrio me ajudou, porque impede a síndrome de autossabotagem, fortalece a autoconfiança – e esse é o caminho mais adequado.  

O sentimento de autossabotagem induz a pessoa a achar que não terá capacidade de realizar determinada tarefa, por falta de capacidade, sem ao menos tentar. Outro ponto é o de não confiar no próprio feeling – às vezes, muitas pessoas influenciam negativamente.  

A resiliência é a chave na edificação da carreira prolífica 

Nesse aspecto, ressalto como a resiliência é o ponto-chave para escapar de tais armadilhas. Contudo, deter tal princípio não é uma tarefa fácil, porque os conflitos internos e externos estão constantemente se digladiando. É algo que requer habilidade para lidar com nossos gatilhos emocionais, mantendo-nos centrados, com objetivos claros e foco em propósitos definidos. 

Quando temos tudo bem desenhado, formatado na mente, conseguimos lidar efetivamente com as coisas positivas e negativas, entendendo que os problemas existem, inclusive nas posições de liderança. As pessoas atravessam ciclos de vida distintos, cada um com seus desafios intrínsecos a serem enfrentados. Isso demanda atuar com empatia, oferecendo apoio a todos, e requer maturidade emocional. 

Como exemplo pessoal, lembro-me do nascimento do meu primogênito, quando tive a oportunidade de desfrutar da licença-maternidade. Por um momento, cogitei abrir mão de tudo para dedicar-me exclusivamente a cuidar dele. No entanto, surgiu a consciência de que precisaria ter alguma ocupação no futuro. Ao conseguir conciliar de maneira habilidosa a vida pessoal com a profissional, aproveitando o tempo de qualidade com meus filhos, tenho a convicção de que tomei a decisão perfeita.  

Desejo que os meus filhos tenham orgulho, se motivem por conta da minha trajetória, do meu legado. Quando realmente tive a oportunidade de dizer: “Eu quero fazer algo a mais, consigo chegar mais longe”, tratei de abraçar a oportunidade – esse é o diferencial. 

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“O fato de ter cursado uma faculdade em uma área na qual não atuo mais demonstra que o academicismo é muito importante para abrir a cabeça, assimilar conhecimentos diversos, adquirindo outras formas de raciocínio. Isso comprova que nem sempre a primeira opção será o segmento a ser percorrido pelo resto da vida.  

Muitos jovens começam uma graduação considerando que será espetacular, mas acabam desiludidos. A preocupação de que não irá conseguir ser outra coisa no futuro é inverídica, haja vista que a universidade é um marco importante, mas não é o ponto final.  

Independentemente do curso ou da jornada percorrida até o momento, continue estudando, aprendendo e buscando coisas novas. Quanto mais conhecimento acumulamos, com maturidade, as oportunidades se tornam mais claras e viáveis.”