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Um 2018 de muita empatia

A empatia é o principal recurso para a inovação, na medida em que nos coloca no espaço da curiosidade e da escuta genuínas. Vamos praticá-la em 2018?

 (Brian A Jackson/ Shutterstock/Corall Consultoria)
(Brian A Jackson/ Shutterstock/Corall Consultoria)
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Publicado em 15 de janeiro de 2018 às, 12h40.

Última atualização em 15 de janeiro de 2018 às, 14h31.

Nas previsões para 2018 não vi ninguém apostando que teremos um ano marcado pela empatia. Pelo contrário, em ano de eleições a tendência é a ampliação da polarização e do debate que, não raras vezes, passa longe, muito longe de qualquer traço de empatia. É justamente por esse motivo que resolvi colocá-la como tema para este ano, para que ela aconteça a despeito de qualquer expectativa em contrário.

Por que a empatia e não a abundância, a paz ou o amor? Porque nada me parece mais poderoso para a constituição do humano do que a empatia. Imagine, por exemplo, cerca de 5 a 6 milhões de anos atrás, que um grupo de descendentes dos macacos começou a conservar um modo de viver e conviver que os permitisse passar juntos e em comunidades maiores por muito mais tempo do que seus antepassados diretos ou primos mais próximos. O que teria se passado para que esse grupo começasse a praticar uma cultura tão diferente e, por meio de sua conservação ao longo das gerações, evoluísse de tal modo que a linguagem humana pudesse ser desenvolvida?

Sobre a origem do humano, o biólogo chileno Humberto Maturana afirma que “sem uma história de interações suficientemente recorrentes, envolventes e amplas, em que haja aceitação mútua num espaço aberto às coordenações de ações, não podemos esperar que surja a linguagem”1. E sem linguagem, sem ser humano! Quando Maturana fala em aceitação mútua, ele se refere à “emoção que constitui o domínio de condutas em que se dá a operacionalidade da aceitação do outro como legítimo outro na convivência”. Ele chama essa emoção de amor. Eu vou um pouco além trazendo a ideia de empatia, palavra que vem do grego EMPATHEIA, que significa estar com o sentimento (PATHOS) dentro (EN). Uso aqui, portanto, a empatia como o ato consciente de fortalecer nossa humanidade ao cultivar o amor dentro de si, não o amor romântico, normalmente baseado em expectativas de lado a lado, mas esse outro descrito por Maturana e que nos permitiu evoluir como seres humanos – história que, se você prestar atenção, se repete a cada nascimento, no processo de “linguagenzização” (humanização) do bebê. Abandone um bebê na floresta e ele morre. Ou, se tiver a sorte de ser cuidado por uma matilha de lobos, possivelmente se transforme em um lobo, como descrito no mito sobre as “meninas lobo” Amala e Kamala2!

A desumanização, no entanto, não é só um mito ou uma teoria. O historiador israelense Yuval Noah Harari, ao se debruçar sobre nosso passado, identifica outras espécies humanas que teriam desaparecido justamente por sua incapacidade de formar laços sociais mais fortes. Ao contrário do Homus Erectus e dos Neandertais, algumas das espécies humanas que conviveram conosco e acabaram extintas, “os Sapiens puderam desenvolver tipos de cooperação mais sólidos e mais sofisticados”3, numa prova de que a cooperação social foi – e continua sendo – a chave para nossa sobrevivência e reprodução.

Mas como praticar a empatia se praticamente a todo o momento surge um convite quase que irrecusável para tomarmos partido? Porque empatia, nada mais é do que, de alguma forma, também aceitar o lado do outro como legítimo – até mesmo quando não concordamos com ele. Na forma como vejo – e vivo – a empatia, não se trata de um duelo para descobrir a “Verdade”, mas uma conversa – palavra que, em sua origem, significa “trocar palavras com” – para aprender algo sobre o outro e, por meio de seus pontos de vista, sobre o mundo como ele o vê e o vive. Trata-se, portanto, de uma emoção que nos ajuda a ampliar nossa visão de mundo, nos libertando do aprisionamento da “Verdade” para surfar no infinito universo das múltiplas verdades. É desse multiverso que a natureza se alimenta para criar tudo o que existe. Essa é a morada da convivência saudável, que nos permitiu desenvolver a linguagem, nos fez evoluir como um tipo de ser social capaz de se articular em larga escala em torno de um propósito comum.

A empatia é, em última instância, o principal recurso para a inovação, na medida em que nos coloca no espaço da curiosidade e da escuta genuínas, como descreveu o professor do MIT Claus Otto Scharmer em seu livro sobre a Teoria U4, uma obra essencial para quem quer entender porque certos líderes são capazes de transformar suas organizações enquanto outros não. Otto se refere à escuta empática como uma dinâmica que ocorre quando um indivíduo muda o foco de si mesmo – suas próprias crenças – focar o exterior – o mundo – e deste para o outro –o mundo do outro.

A escuta empática pode ser desenvolvida ativando a inteligência do coração. Mas como isso pode soar algo subjetivo e, possivelmente, inalcançável, costumo orientar meus alunos e clientes que a melhor forma de acessar essa inteligência é a respiração. A lógica é simples: você consegue pensar no passado ou no futuro, mas só é possível respirar no presente. A inteligência do coração é algo que emerge no aqui e agora, no momento em que se vive, afinal, o coração só bate no presente. Para se preparar, portanto, para escutar empaticamente, procure ficar alguns minutos em silêncio prestando atenção em sua respiração. A cada ciclo completo inalar-exalar, se desafie a um ciclo mais lento e profundo. Quando estiver na frente da pessoa que quer escutar, mantenha-se atento à respiração, cuidando para que você continue lentificando-a. Esse processo faz com que você conserve seu cérebro bem oxigenado e sua atenção plena para o fenômeno que você e a outra pessoa estão vivendo. Você também pode ajudar a pessoa a ir para esse estado mais empático, sugerindo que ambos se preparem respirando juntos antes da conversa. Pode também sugerir um intervalo “para respirar”, tomar um café ou ir ao banheiro, caso sinta que o diálogo virou um debate.

Em minha empresa, às vezes também experimentamos uma escuta pouco empática. Para nossas reuniões, temos combinado que qualquer um de nós que perceber que o debate tomou conta da dinâmica pode fazer uso do Pinakari, uma palavra mágica que emprestamos de uma tribo de aborígenes australianos e que, se pronunciada, obriga a todos nós a silenciarmos e a fazermos juntos três respirações profundas. É impressionante como essa técnica simples consegue mudar a energia, reconduzindo-nos a uma escuta mais profunda e empática.

E se, de repente, você acha impossível promover esse tipo de escuta nas redes sociais, dê uma olhada – se ainda não deu – no que fez a comediante Sarah Silverman quando recebeu uma mensagem bastante ofensiva em seu twitter: https://awebic.com/humanidade/sarah-silverman-resposta/. Uma aula de empatia profunda na prática.

 

  1. Maturana, H. R. (2001). Emociones y Lenguaje en Educación y Política. Santiago: Dolemn Ensayo (Décima Edición)
  2. Aroles, S. (2007). L'Enigme des enfants-loup - Une certitude biologique mais un déni des archives, 1304-1954”. Paris: Publibook
  3. Harari, Y. N. (2014). Sapiens: Uma breve História da humanidade. Londres: Harvill Secker
  4. Scharmer, C. O. (2010). Teoria U – Como liderar pela percepção e realização do futuro emergente. São Paulo: Elsevier

 

- (Corall Consultoria/Corall Consultoria)