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Quem quer ser um consultor?

Em determinados momentos de suas carreiras, muitos dos meus amigos pensam em migrar de seus cargos executivos para o de consultor e me perguntam quais são os principais desafios desta transição. Esclareço que neste artigo, quando falo da profissão, me refiro a um consultor-empreendedor, independente ou em rede, aquele que trabalha sozinho ou em um pequeno grupo e que é responsável individual ou coletivamente por seu resultado – leia-se, não […] Leia mais

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Gestão Fora da Caixa

Publicado em 18 de julho de 2016 às, 15h25.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 07h34.

Em determinados momentos de suas carreiras, muitos dos meus amigos pensam em migrar de seus cargos executivos para o de consultor e me perguntam quais são os principais desafios desta transição. Esclareço que neste artigo, quando falo da profissão, me refiro a um consultor-empreendedor, independente ou em rede, aquele que trabalha sozinho ou em um pequeno grupo e que é responsável individual ou coletivamente por seu resultado – leia-se, não é empregado de consultoria e nem possui salário fixo.

Esta transição é o sonho de muitos executivos que almejam a liberdade, autonomia e maior autoria em seus trabalhos. Não ter chefe(s), não ter que se submeter a uma estrutura ou a regras da empresa, férias quando quiser… Parece um sonho de consumo! Entretanto, muitos se deparam com desafios que nunca imaginaram quando eram empregados de uma grande empresa.

A partir da minha própria experiência como consultor, quero compartilhar três competências críticas para o sucesso em seu empreendimento:

O senso de dono: Quando fiz a transição de um cargo executivo em uma multinacional responsável por uma área de Desenvolvimento Organizacional global para o trabalho em uma consultoria em Transformação Organizacional, um amigo me perguntou: “No fundo, você faz a mesma coisa que antes, não é?”.

Respondi que antes eu era apenas o cozinheiro de um restaurante estrelado e agora era seu dono e cozinheiro – tinha que ter várias perspectivas ao mesmo tempo. Além de cuidar para que o prato saísse com a mais alta qualidade, agora precisava me preocupar com o design e a limpeza do salão, a compra eficiente e a qualidade dos ingredientes, da marca, do marketing, das vendas e das áreas de suporte, como finanças, TI (onde está a pessoa que vem arrumar o meu computador quando esse quebra?) e RH, se houver alguém mais trabalhando comigo.

E é preciso fazer isso construindo redes de relacionamento. Tudo, sem abrir mão da boa cozinha, sem a qual um restaurante não resiste. Tudo ao mesmo tempo! Acredito que a maioria de nós tenha um certo senso de dono então é uma questão de aprender competências técnicas nas quais temos menos experiência ou facilidade e ser estratégico, intuindo no que dar foco a cada momento.

O foco no cliente: Eu acreditava que tinha esse foco na empresa, pois já tinha uma função de suporte e meus clientes estavam satisfeitos. Mas, percebi que o cliente interno na verdade tem pouca opção de não “contratar meu serviço” e que existe uma acomodação natural.

Ter foco no cliente externo quando se está no mercado aberto é algo completamente diferente. É realmente necessário possuir a escuta atenta, buscar compreender a real necessidade do outro, cultivar uma presença profunda, ser criativo na solução e engajar em diálogos constantes de evolução, pois o cliente realmente tem muitas opções e vota com sua escolha, momento a momento.

A gestão emocional (a mais desafiadora de todas): Sabe aquela sensação de estar concorrendo a um novo emprego e não ser escolhido? Pois bem, ser consultor é sentir isso constantemente. É ser chamado para um projeto urgente, trabalhar noites ou finais de semana para fazer sua melhor proposta e nunca receber uma resposta. É às vezes passar meses sem fechar um projeto, sem receber. É ter resiliência para sustentar a frustração em várias destas situações e outras.

Kevin Cashman, autor renomado de livros sobre liderança, me deu o seguinte conselho quando decidi fazer a transição: “Todo dia quando acordar lembre-se porque você escolheu ser consultor e da paixão que se tem simplesmente em fazer este trabalho e esqueça o resultado – este virá como fruto do bom trabalho”.

Para mim, é como me exercitar: tenho que focar no prazer de fazê-lo e confiar que os resultados virão, sem ficar obcecado com métricas a cada minuto. Há momentos de muita provação na profissão, mas a recompensa de perceber o impacto em outro ser humano ou na organização é gratificante. É fundamentalmente ter paixão pelo servir e ter fé na vida, além de querer ser desafiado constantemente.

É incrível como o cliente e o mercado respondem ao seu estado de espírito. Portanto, cultivar seu centramento, tranquilidade e energia positiva faz toda a diferença. E quando não der certo e você se sentir desanimado, angustiado e sem energia? Paciência e aceitação do seu momento são a solução. E atenção para o que se pode aprender a cada instante com a experiência de agora – tudo é útil. E saiba que isto vai passar, sempre passa!

Como qualquer empreendedor, é preciso plantar para depois colher, investir para depois se beneficiar. Johnson, outro amigo consultor americano, me contou que no seu caso e de muitas pessoas que conhece, os primeiros dois anos de qualquer empreendimento são os mais desafiadores. Segundo ele, parece que há um muro e às vezes uma simples dúvida se aquilo vai dar certo faz muitos desistem. São bem-sucedidos aqueles que conseguem ultrapassar esta barreira natural e continuar conectados a seu propósito de ajudar ao outro.

Então, você quer ser um consultor? Consultoria (ou empreendedorismo) não é uma alternativa a um emprego, mas sim uma vocação. Pergunte-se se este é o seu chamado da vida agora e, se for, cultive a mente de um aprendiz e você sentirá a força e a resiliência necessárias para ter sucesso.