Exame Logo

Da Escassez à Abundância

Você acha que o mundo está melhorando ou piorando? Ao assistir noticiários na mídia, somos levados a pensar que o Brasil e o planeta estão cada vez mais inseguros, violentos e com problemas cada vez maiores, os quais, para os mais fatalistas, poderão levar a situações de crise intensa ou mesmo colapso total. De fato, quando olhamos para algumas “comunidades” no grande planeta Terra, somos levados a reconhecer que alguns […] Leia mais

DR

Da Redação

Publicado em 21 de junho de 2016 às 12h35.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 07h36.

Você acha que o mundo está melhorando ou piorando? Ao assistir noticiários na mídia, somos levados a pensar que o Brasil e o planeta estão cada vez mais inseguros, violentos e com problemas cada vez maiores, os quais, para os mais fatalistas, poderão levar a situações de crise intensa ou mesmo colapso total. De fato, quando olhamos para algumas “comunidades” no grande planeta Terra, somos levados a reconhecer que alguns problemas podem aumentar em determinados ciclos. É inegável que em relação à situação política, econômica e social do Brasil, vivemos um momento delicado e de grande transformação.

Eu faço parte do grupo dos otimistas, daqueles que procuram ver o copo meio cheio e identificar os aspectos positivos que estão emergindo mesmo no caos. Vejo as crises como um chamado para um novo cenário que quer emergir, trazendo possibilidades para a construção de um futuro melhor. Recentemente vi um vídeo (TED com Peter Diamandis, chairman da Singularity University) que me tocou profundamente por seu otimismo relacionado ao que pode acontecer no mundo graças ao impacto da tecnologia em nossas vidas. Mas, antes de me aprofundar nisso, é importante colocar dois pontos em perspectiva.

O primeiro se refere ao fato de sermos continuamente bombardeados pela mídia com assuntos negativos. Claramente, os meios de comunicação tendem a veicular aquilo que tem mais apelo aos seus consumidores e é inegável que estes tópicos exercem atração em grande parte da população.

Uma teoria da neurociência indica que um dos principais fatores que despertam nosso interesse para temas “preocupantes” reside na amígdala, pequeno órgão localizado em nosso lóbulo temporal. Uma das principais funções da amígdala é detectar perigo. Graças ao seu funcionamento, nossos longínquos ancestrais puderam sobreviver a muitas adversidades. De todas as informações disponíveis ao nosso redor, ela estará em busca de qualquer coisa que possa nos ameaçar. E com tantas notícias negativas disponíveis na mídia não é de surpreender que sejamos levados a um tom mais pessimista, acreditando que o mundo está piorando.

O segundo ponto se refere a analisar de forma objetiva, com fatos e dados, o que está acontecendo no mundo numa perspectiva ampliada no tempo. Quando olhamos para indicadores associados à saúde e bem-estar, a evolução ocorrida no planeta durante o último século é simplesmente impressionante. A longevidade humana mais que dobrou, enquanto a mortalidade infantil caiu a menos de 10% do que apresentava há 100 anos. Além disso, as taxas de analfabetismo também despencaram em todo o mundo, enquanto o PIB per capita mundial triplicou e a própria definição do que é pobreza ser continuamente rediscutida dado o avanço econômico mundial. O renomado professor de Harvard Steve Pinker nos mostra com clareza como a violência tem de fato decrescido na humanidade, nesse artigo.

A aposta é que a tecnologia irá desempenhar um papel cada vez mais relevante no avanço da qualidade de vida mundial e nas dinâmicas sociais. Estamos vivendo o início de uma série de transformações que chegarão pelo desenvolvimento de áreas como computação nas nuvens, robótica, impressão 3D, nano tecnologia e inteligência artificial. Em minha perspectiva, há em especial duas evoluções que já têm e que terão cada vez mais impacto em toda esta dinâmica: o acesso à internet e o uso de instrumentos móveis, como os smartphones.

Em 2000, o acesso à internet estava restrito a apenas 6% da população mundial. Em 2010, este número pulou para 23% e a expectativa é que chegue a dois terços em 2020. Graças à projeção conhecida como lei de Moore, que vem sendo verificada desde a década de 60, a capacidade de processamento (número de transistores num circuito integrado) dobra a cada 2 anos e, por conta disso, nossos celulares são milhares de vezes mais rápidos e infinitamente mais baratos que os supercomputadores da década de 70. Esta combinação de aparelhos individuais cada vez mais potentes e rápidos somada com o acesso às informações e à comunicação pela internet tem revolucionado muitos setores.

Esta imensa rede vem proporcionando acesso à inteligência coletiva de milhões de pessoas que hoje podem contribuir para o avanço da humanidade. Um dos casos mais emblemáticos foi registrado na Universidade de Washington em Seattle. Depois de mais de uma década de tentativas frustradas na criação de um modelo preciso da enzima de um vírus similar ao HIV, cientistas desafiaram jogadores de FoldIt (jogo online) a fazerem o mesmo. O problema foi resolvido em três semanas. Sim, três semanas contra dez anos de tentativas infrutíferas! E o melhor jogador não era cientista ou estudante de renomada universidade, e sim uma assistente executiva de uma clínica de reabilitação em Manchester, na Inglaterra, que à noite, após seu expediente, se dedicava ao jogo. Agora, imagine o que será possível quando em poucos anos 66% da população mundial tiver o potencial de oferecer sua contribuição na rede!

Quando analisamos alguns dos grandes problemas da humanidade podemos facilmente associá-los à escassez de recursos. Por exemplo, milhões de pessoas, em especial crianças, ainda morrem pela ausência de acesso à agua de qualidade. Por outro lado, nosso planeta possui mais de 70% de sua superfície coberta por água. Somos um planeta azul visto do espaço. Tirando água salgada e gelo, no entanto, sobram menos de 0.5% para consumo. E parte crescente deste volume tem se tornado menos disponível devido à poluição.

Uma história interessante pode ser trazida como paralelo em relação ao tema. Há menos de 200 anos, o alumínio era considerado um metal muito mais valioso que a prata, ouro ou platina. Somente os mais ricos do mundo utilizavam utensílios feitos do material, já que mesmo sendo um dos metais mais abundantes na crosta da terra, não havia tecnologia para separá-lo de forma economicamente viável. A nano tecnologia não tardará a viabilizar que a água, salgada ou poluída, seja transformada em potável a um custo muito baixo, impactando milhões de pessoas.

Com isso, podemos olhar para a escassez como sendo contextual e para a tecnologia como uma grande força liberadora de recursos. E com todos os avanços tecnológicos que teremos ao longo das próximas décadas, com certeza é possível vislumbrar um mundo muito mais abundante de possibilidades.

Você acha que o mundo está melhorando ou piorando? Ao assistir noticiários na mídia, somos levados a pensar que o Brasil e o planeta estão cada vez mais inseguros, violentos e com problemas cada vez maiores, os quais, para os mais fatalistas, poderão levar a situações de crise intensa ou mesmo colapso total. De fato, quando olhamos para algumas “comunidades” no grande planeta Terra, somos levados a reconhecer que alguns problemas podem aumentar em determinados ciclos. É inegável que em relação à situação política, econômica e social do Brasil, vivemos um momento delicado e de grande transformação.

Eu faço parte do grupo dos otimistas, daqueles que procuram ver o copo meio cheio e identificar os aspectos positivos que estão emergindo mesmo no caos. Vejo as crises como um chamado para um novo cenário que quer emergir, trazendo possibilidades para a construção de um futuro melhor. Recentemente vi um vídeo (TED com Peter Diamandis, chairman da Singularity University) que me tocou profundamente por seu otimismo relacionado ao que pode acontecer no mundo graças ao impacto da tecnologia em nossas vidas. Mas, antes de me aprofundar nisso, é importante colocar dois pontos em perspectiva.

O primeiro se refere ao fato de sermos continuamente bombardeados pela mídia com assuntos negativos. Claramente, os meios de comunicação tendem a veicular aquilo que tem mais apelo aos seus consumidores e é inegável que estes tópicos exercem atração em grande parte da população.

Uma teoria da neurociência indica que um dos principais fatores que despertam nosso interesse para temas “preocupantes” reside na amígdala, pequeno órgão localizado em nosso lóbulo temporal. Uma das principais funções da amígdala é detectar perigo. Graças ao seu funcionamento, nossos longínquos ancestrais puderam sobreviver a muitas adversidades. De todas as informações disponíveis ao nosso redor, ela estará em busca de qualquer coisa que possa nos ameaçar. E com tantas notícias negativas disponíveis na mídia não é de surpreender que sejamos levados a um tom mais pessimista, acreditando que o mundo está piorando.

O segundo ponto se refere a analisar de forma objetiva, com fatos e dados, o que está acontecendo no mundo numa perspectiva ampliada no tempo. Quando olhamos para indicadores associados à saúde e bem-estar, a evolução ocorrida no planeta durante o último século é simplesmente impressionante. A longevidade humana mais que dobrou, enquanto a mortalidade infantil caiu a menos de 10% do que apresentava há 100 anos. Além disso, as taxas de analfabetismo também despencaram em todo o mundo, enquanto o PIB per capita mundial triplicou e a própria definição do que é pobreza ser continuamente rediscutida dado o avanço econômico mundial. O renomado professor de Harvard Steve Pinker nos mostra com clareza como a violência tem de fato decrescido na humanidade, nesse artigo.

A aposta é que a tecnologia irá desempenhar um papel cada vez mais relevante no avanço da qualidade de vida mundial e nas dinâmicas sociais. Estamos vivendo o início de uma série de transformações que chegarão pelo desenvolvimento de áreas como computação nas nuvens, robótica, impressão 3D, nano tecnologia e inteligência artificial. Em minha perspectiva, há em especial duas evoluções que já têm e que terão cada vez mais impacto em toda esta dinâmica: o acesso à internet e o uso de instrumentos móveis, como os smartphones.

Em 2000, o acesso à internet estava restrito a apenas 6% da população mundial. Em 2010, este número pulou para 23% e a expectativa é que chegue a dois terços em 2020. Graças à projeção conhecida como lei de Moore, que vem sendo verificada desde a década de 60, a capacidade de processamento (número de transistores num circuito integrado) dobra a cada 2 anos e, por conta disso, nossos celulares são milhares de vezes mais rápidos e infinitamente mais baratos que os supercomputadores da década de 70. Esta combinação de aparelhos individuais cada vez mais potentes e rápidos somada com o acesso às informações e à comunicação pela internet tem revolucionado muitos setores.

Esta imensa rede vem proporcionando acesso à inteligência coletiva de milhões de pessoas que hoje podem contribuir para o avanço da humanidade. Um dos casos mais emblemáticos foi registrado na Universidade de Washington em Seattle. Depois de mais de uma década de tentativas frustradas na criação de um modelo preciso da enzima de um vírus similar ao HIV, cientistas desafiaram jogadores de FoldIt (jogo online) a fazerem o mesmo. O problema foi resolvido em três semanas. Sim, três semanas contra dez anos de tentativas infrutíferas! E o melhor jogador não era cientista ou estudante de renomada universidade, e sim uma assistente executiva de uma clínica de reabilitação em Manchester, na Inglaterra, que à noite, após seu expediente, se dedicava ao jogo. Agora, imagine o que será possível quando em poucos anos 66% da população mundial tiver o potencial de oferecer sua contribuição na rede!

Quando analisamos alguns dos grandes problemas da humanidade podemos facilmente associá-los à escassez de recursos. Por exemplo, milhões de pessoas, em especial crianças, ainda morrem pela ausência de acesso à agua de qualidade. Por outro lado, nosso planeta possui mais de 70% de sua superfície coberta por água. Somos um planeta azul visto do espaço. Tirando água salgada e gelo, no entanto, sobram menos de 0.5% para consumo. E parte crescente deste volume tem se tornado menos disponível devido à poluição.

Uma história interessante pode ser trazida como paralelo em relação ao tema. Há menos de 200 anos, o alumínio era considerado um metal muito mais valioso que a prata, ouro ou platina. Somente os mais ricos do mundo utilizavam utensílios feitos do material, já que mesmo sendo um dos metais mais abundantes na crosta da terra, não havia tecnologia para separá-lo de forma economicamente viável. A nano tecnologia não tardará a viabilizar que a água, salgada ou poluída, seja transformada em potável a um custo muito baixo, impactando milhões de pessoas.

Com isso, podemos olhar para a escassez como sendo contextual e para a tecnologia como uma grande força liberadora de recursos. E com todos os avanços tecnológicos que teremos ao longo das próximas décadas, com certeza é possível vislumbrar um mundo muito mais abundante de possibilidades.

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se