O Brasil entra no mapa do nearshoring
Como a América Latina se torna uma nova fronteira para empresas globais e pode aumentar sua relevância no mandato de Trump
Publicado em 16 de dezembro de 2024 às, 12h43.
*Roberto Patiño
Nos últimos anos, a dinâmica das cadeias de fornecimento globais passou por transformações significativas, impulsionadas por uma série de fatores geopolíticos, econômicos e tecnológicos – da pandemia aos conflitos armados. Nesse mundo hiperestressado, uma das tendências que surgiram foi o nearshoring.
Trata-se de uma estratégia em que as empresas transferem suas operações de manufatura, serviços ou centros de distribuição para países mais próximos de seus mercados-alvo, em vez de optar pelo tradicional offshoring em países mais distantes. Essa alteração, que tem um cunho logístico evidente visando a mitigar vulnerabilidades, como as interrupções de fluxo, melhora a flexibilidade e a eficiência logística.
Nesse contexto, a América Latina, o Brasil em particular, tem se destacado como destino estratégico para empresas globais que buscam mais eficiência, redução de custos e resiliência nas cadeias de suprimentos.
De acordo com relatório da JLL sobre nearshoring, a proximidade com mercados-chave como os Estados Unidos, a qualidade da infraestrutura e a oferta de mão de obra qualificada fazem da região uma alternativa viável para companhias que buscam reduzir sua dependência de fornecedores distantes.
O Brasil ainda tem como vantagem um mercado local atrativo, com mais de 200 milhões de possíveis consumidores, e homogeneidade geopolítica. O estudo ainda aponta que São Paulo, mais precisamente, figura entre as “top 5” cidades em cinco dos sete critérios de performance de nearshoring: histórico de investimento estrangeiro, força de trabalho, mercado potencial, mercado imobiliário estruturado e performance logística.
Toda essa movimentação pode ajudar a impulsionar a indústria latino-americana como um todo, garantindo mais representatividade econômica global para a região. Nesse sentido, a eleição de Donald Trump pode acrescentar mais um impulso para o nearshoring.
Durante seu primeiro mandato, Trump implementou uma série de políticas voltadas para reduzir a dependência das cadeias de fornecimento asiáticas e reorientar a produção para países mais próximos dos EUA. Sua abordagem de America First promoveu uma agenda protecionista, que incentivou empresas a repatriar suas fábricas e centros de distribuição para os Estados Unidos ou para países próximos, como México – e o Brasil conseguiu aproveitar parte dessa onda.
Então, como deve ficar o nearshoring?
O cenário para o próximo ano, especialmente com as mudanças políticas que podem ocorrer nos EUA, será decisivo para o futuro do nearshoring na América Latina. Políticas de relocalização de produção e de fortalecimento da indústria doméstica continuarão a ser uma prioridade estratégica para os EUA, o que pode manter o Brasil e a América Latina no radar de empresas globais em busca de alternativas mais próximas.
Com a continuidade da tendência de diversificação das cadeias de suprimento e a necessidade de resiliência diante de crises globais, o Brasil tem a oportunidade de se consolidar como um hub importante para o nearshoring, especialmente em setores-chave como tecnologia, indústria automotiva, energia renovável e agronegócio. Para que aproveitemos esse potencial, será fundamental que o país continue a melhorar seu ambiente de negócios, permaneça investindo em infraestrutura e mantenha políticas voltadas para a atração do capital estrangeiro.
*diretor de Integrated Portfolio Solutions da JLL