Sem abertura comercial, o Brasil não inova — e vice-versa
A posição do Brasil nos rankings de inovação acompanha o baixo desempenho que o país já tem nos ranking de comércio
Publicado em 11 de outubro de 2018 às, 17h07.
Última atualização em 11 de outubro de 2018 às, 17h25.
Tanto no setor público, quanto no privado, o mundo do comércio internacional e o da ciência & tecnologia são, em geral, vistos como realidades bem separadas uma da outra. De um lado, estão negociadores de acordos comerciais, estrategistas de mercado e os operadores de aduanas. Do outro, cientistas, pesquisadores e engenheiros. Fato é, porém, que a distância é apenas aparente.
Como já abordado anteriormente nesta coluna, o Brasil é a 9ª maior economia no mundo, mas no ranking de participação no comércio mundial ocupa apenas 25ª posição. Dentre as dez maiores economias, somente o Brasil não figura entre as 15 primeiras posições desse ranking. Apesar do seu grande peso econômico na região e destaque entre os emergentes, os fluxos de importação e exportações do Brasil ainda têm tímida participação no mundo.
Há muitas razões pelas quais o Brasil ainda é coadjuvante global no comércio, entre as quais o alto nível de proteção e as históricas barreiras contra os produtos estrangeiros, o pouco apetite do empresário brasileiro à internacionalização, a infraestrutura debilitada e o complexo sistema tributário que agrava os efeitos negativos das variáveis anteriores. Há, todavia, uma outra razão – ainda pouco explorada – que é determinante para a estagnação do comércio internacional: as barreiras à inovação. O baixo investimento em tecnologia é um dos maiores limitadores do potencial de comércio do Brasil, hoje restrito a 24% do PIB.
A relação entre o mundo do comércio e o da inovação fica mais clara quando aprofundamos a leitura das estatísticas do comércio internacional do país. A maior parte dos produtos exportados pelo país ou são commodities ou, em geral, produtos de baixo valor agregado – com poucas exceções.
A posição do Brasil nos rankings de inovação acompanha, portanto, o baixo desempenho que o país já tem no ranking de comércio, apontando para uma forte relação entre os dois indicadores. Em 2018, o Brasil ficou classificado em 64ª lugar no Índice Global de Inovação, cinco posições acima dos últimos dois anos, mas 17 inferiores em relação a 2011, quando estávamos na 47ª.
Uma das maiores barreiras para a inovação no Brasil está na forma ineficiente como ecossistema está desenhado. É fraca a colaboração entre universidades e empresas. Segundo dados do Fórum Econômico Mundial, o Brasil está na 84ª posição no ranking que mensura essa interação. É fundamental uma mudança de paradigma na forma como esses atores se relacionam – sobretudo a universidade pública –, para que a pesquisa passe a ser direcionada à elevação do valor agregado dos produtos produzidos pelas diferentes indústrias em que o Brasil tem potencial.
Para tanto, o primeiro passo é garantir flexibilidade e liberdade nos modelos de negócio a serem estabelecidos entre essas partes, inclusive tomando-se como base experiências internacionais de sucesso como as do Japão e dos Estados Unidos. Nestes países, há um encorajamento para que universidades e empresas estejam alinhadas em todas as fases da pesquisa: desde a definição dos seus planos de investimento, até o rápido registro de patentes junto aos órgãos reguladores.
Esse último ponto é também um dos maiores gargalos que precisam ser enfrentados no Brasil. Leva, em média, 10 anos para que o INPI (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual) conceda patentes no país, tempo muito acima da média internacional. Esse é um dos maiores indicadores do atraso do país em relação às suas pretensões de se tornar um país desenvolvido. Sem a devida proteção, a indústria não possui incentivos para investir em inovação e continuará a fabricar produtos de baixo valor agregado, limitando a capacidade do Brasil no comércio internacional.
Pela sua vocação, o Brasil tem potencial para se tornar líder em diversas indústrias com alto grau de inovação, como biotecnologia, biocombustíveis, energias renováveis, além de escalar seu parque industrial para um patamar superior com as tecnologias da quarta revolução – a chamada Indústria 4.0. Mas para que esse potencial se torne realidade, é imprescindível que o país destrave o ecossistema de pesquisa, o que será possível apenas a partir de uma mudança completa de mentalidade na forma como poder público e iniciativa privada se relacionam.
De nada adiantará o Brasil se abrir ao mundo caso não seja capaz de exportar produtos e serviços de maior valor agregado. A inovação e o investimento em tecnologia de ponta são nossos passaportes para uma abertura comercial que traga competitividade, desenvolvimento e crescimento econômico.