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O despertar dos CEOs

Líderes empresariais do mundo todo passam a liderar um movimento pela reforma do capitalismo e por uma ação mais engajada em relação às políticas sociais. É o próprio planeta que está em risco, e estamos todos no mesmo barco

FLORESTA AMAZÔNICA: a confiança no papel dos líderes empresariais é maior (68%) que nos governos (58%) e na imprensa (58%). A maioria dos entrevistados acreditam que os CEOs têm condições de exercer um impacto significativo para gerar mudança positiva sobre problemas globais / iStock/Thinkstock
FLORESTA AMAZÔNICA: a confiança no papel dos líderes empresariais é maior (68%) que nos governos (58%) e na imprensa (58%). A maioria dos entrevistados acreditam que os CEOs têm condições de exercer um impacto significativo para gerar mudança positiva sobre problemas globais / iStock/Thinkstock
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Gabriel Petrus

Publicado em 7 de agosto de 2019 às, 14h40.

Em recente carta anual aos seus acionistas, Larry Fink, CEO da BlackRock (maior gestora de ativos financeiros do mundo), dedicou uma seção exclusiva do seu texto para afirmar que, diante das crescentes instabilidades enfrentadas pelo planeta, não é possível mais buscar o lucro sem pensar no propósito. “Lucro e propósito devem estar, a partir de agora, intrinsecamente ligados”, escreveu Fink.

É um sinal definitivo de que estamos em um momento alarmante, quando parte do setor financeiro – normalmente distanciado das questões sociais e políticas – passa a vocalizar não apenas uma reforma substancial do capitalismo, como também defender o engajamento dos líderes empresariais nos problemas de suas comunidades.

Jamie Dimon, CEO do JP Morgan & Chase, dirigiu-se aos acionistas do seu banco para afirmar que “os CEOs podem e devem se envolver para levar o advocacy para um novo nível”. Dimon ressaltou que a melhor estratégia para garantir um ambiente próspero para as empresas é por meio da participação na elaboração de políticas públicas que permitam mais pessoas se beneficiarem do crescimento econômico. Todos ganham, quando a prosperidade é compartilhada.

A gravidade do momento não se limita à emergência climática – com os novos patamares de temperatura condenando milhares de espécies a extinção –  e engloba, desde o tensionamento geopolítico crescente, ao aumento das desigualdades sociais, raiz da eleição de governos populistas que propõe substituir a ordem liberal (imperfeita) pelo caos institucional (imprevisível).

As decisões que tomarmos como sociedade a partir de hoje e nos próximos 30 anos – e, certamente, as empresas têm um imenso papel – pesarão como um divisor de águas para o futuro da civilização. Esse conceito é ecoado por Yuval Harari, no seu livro “21 Lições para o Século 21”: se não formos capazes de conter o aquecimento global e a proliferação das armas nucleares,  e não tornarmos os avanços da tecnologia – como a robótica e a engenharia genética – mais favoráveis que seus riscos, nossa espécie estará condenada à extinção.

Essa mudança de postura dos CEOs para o engajamento em campanhas transformacionais não é apenas necessária, como também desejada pela população.

O papel transformacional dos líderes foi revelado no ano passado pela pesquisa Edelman Trust Barometer, que mede a confiança da população nos principais agentes sociais. A maioria dos respondentes afirmaram que os CEOs devem tomar a liderança para a mudança das políticas, ao invés de apenas esperar que os governos ajam.

Segundo a pesquisa, a confiança no papel dos líderes empresariais é maior (68%) que nos governos (58%) e na imprensa (58%). A maioria dos entrevistados acreditam que os CEOs têm condições de exercer um impacto significativo para gerar mudança positiva sobre muitos dos problemas que têm diminuído o bem-estar da nossa sociedade.

Sem planeta, não há capitalismo. A hora é agora.