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Quem vai duvidar do Bill?

A internet ainda estava dando seus primeiros passos e a maioria dos sites se parecia com documentos de Word com um fundo cinza ou branco

Bill Gates deixa Microsoft durante investigação de relação extraconjugal (Lou Rocco / Colaborador/Getty Images)
Bill Gates deixa Microsoft durante investigação de relação extraconjugal (Lou Rocco / Colaborador/Getty Images)
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Frederico Pompeu

Publicado em 16 de junho de 2021 às, 10h39.

Última atualização em 16 de junho de 2021 às, 10h45.

Por Frederico Pompeu

O ano era 1995, ano que o William Henry Gates III, mais conhecido como Bill Gates, se tornou pela primeira vez o homem mais rico do mundo, com um patrimônio de USD 12,9 bilhões (hoje ele tem USD 126,7 bilhões segundo a Forbes, pelo menos antes da conclusão do seu divórcio). A internet ainda estava dando seus primeiros passos e a maioria dos sites se parecia com documentos de Word com um fundo cinza ou branco. Sei que vou acabar entregando um pouco da minha idade, mas nessa época, usar a internet era um grande luxo, algo bem menos popular do que hoje, até porque você precisava ter um computador para navegá-la e eles eram muito caros.

Em novembro daquele ano, o cofundador da Microsoft, então com 39 anos, foi ao programa de entrevistas do David Letterman na CBS para promover o seu recém lançado livro "A Estrada do Futuro", bem como o primeiro navegador online da Microsoft - o Internet Explorer - que curiosamente será descontinuado em Agosto de 2021.

Durante a entrevista, Letterman, que é um entrevistador extremamente habilidoso, pergunta pro Gates qual a real utilidade da Internet. Tomo a liberdade de transcrever alguns trechos da entrevista abaixo:

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“Mas o que diabos é [a internet] exatamente?” Letterman pergunta a Gates.

“Bem, é um lugar para as pessoas publicarem informações. Todo mundo pode ter a sua página pessoal, empresas estão lá compartilhando informação, muita cosia está acontecendo. Você pode enviar correio eletrônico às pessoas. É realmente a grande ‘novidade’.”, diz Gates.

Letterman, sempre irônico, pergunta então: “É fácil criticar algo que você não entende completamente, como é hoje a minha posição aqui, mas eu me lembro que há pouco tempo atrás houve um grande anúncio, que iriam transmitir um jogo de baseball, e que você iria poder ouvi-lo no seu computador e eu pensei comigo mesmo ‘será que eles nunca ouviram falar do rádio’?”

Gates disse que, ao contrário do rádio, a internet permitiria aos usuários assistirem a um jogo de beisebol quando quisessem, em vez de ao vivo. Quando então o entrevistador retruca: “Ah, OK, eu entendo. Mas, você já ouviu falar dos gravadores?”. Vira a página, vindo para o presente, espero que o Letterman não goste de futebol, mais especificamente da Copa Libertadores, onde alguns jogos são transmitidos hoje exclusivamente pela internet.

Esse diálogo, que atualmente pode parecer um tanto quanto inusitado, mostra não só o quanto Bill Gates já era um visionário, mas também o quanto subestimamos aquilo que ainda não conhecemos ou somos familiarizados. Quer mais exemplos? Você achava que o Uber iria revolucionar os transportes quando foi lançado em 2009? Lembrando que foi em 2009 também, que surgiu o Whatsapp, aplicativo mais popular entre os internautas brasileiros durante a pandemia, segundo pesquisa da ESPM em 2020. Ou mesmo que uma rede social de compartilhamento de fotos e vídeos como o Instagram, tivesse mais de 1 bilhão de usuários ativos por mês no mundo, apenas dez anos depois de seu lançamento em 2010?

A pergunta que deve ser feita agora é quais são os novos aplicativos, ou melhor, quais as novas tecnologias que, ainda que não tenhamos plena convicção da plenitude de sua usabilidade, com certeza mudarão a forma como a humanidade se portará ao longo dos próximos anos. Alguns dos meus palpites são: Inteligência Artificial, Cryptoativos, Realidade Virtual e Aumentada e Internet das Coisas (IoT).

Dentre as 4 listadas, a Inteligência Artificial é a que mais me encanta. E suas aplicações podem ser usadas nas mais diferentes áreas. No campo da saúde, as doenças são diagnosticadas com mais rapidez e precisão e a descoberta de medicamentos é acelerada e simplificada quando usamos IA. Já nas finanças, ela tem ajudado bancos e fintechs a serem cada vez mais assertivos nas decisões de crédito e no gerenciamento dos seus riscos. Mas ela também vem cada vez sendo mais usada no dia a dia das pessoas, com as “Alexas” e “Siris” da vida sendo cada vez mais acessadas para nos ajudar a marcar reuniões ou para pedir o refil das suas compras mensais, que elas sabem que estão acabando antes mesmo que você se dê conta.

Voltando ao nosso amigo bilionário, ele também costuma dizer que “Este é um momento fantástico para entrar no mundo dos negócios, porque os negócios vão mudar mais nos próximos 10 anos do que nos últimos 50.” Pessoalmente concordo com ele em gênero, número e grau. Também, depois dele ter acertado no Windows, de ter acreditado na forma como a Internet dominaria o mundo muito antes da maioria dos mortais e de ter previsto o risco de uma pandemia global já em 2015, quatro anos antes de sermos apresentados ao Covid-19, quem sou eu para duvidar do Bill? Você duvidaria?