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O Poder da Escuta
“Person of the Year”, premiação reúne grande parte do PIB brasileiro e é promovida pela Brazilian-American Chamber of Commerce desde 1970
Frederico Pompeu e Steve Wozniak, co-fundador da Apple
Frederico Pompeu
Publicado em 27 de maio de 2024 às, 12h46.
Como todo flamenguista expatriado, tenho o desafio de fazer minha filha de 6 anos torcer pelo “Mais Querido do Brasil”, quando a maior parte dos seus amiguinhos divide-se entre palmeirenses e corintianos na escola. Então com uma pipoca bem quentinha em mãos e uma promessa de um sorvete bem gostoso depois do jogo (podem me julgar rsrsrs), coloquei-a sentada ao meu lado para assistir a mais uma vitória do Mengão pela Copa do Brasil. Enquanto assistíamos ao jogo, ela comentou animada que começou a jogar futebol de salão na escola. Malandra que só, vendo o pai feliz de estar vendo o jogo com ela, mencionou que queria uma chuteira igual à do Pedro, atacante do Flamengo, que havia marcado o gol decisivo da partida. Fim de semana seguinte, fomos eu e Pietra buscar a sua nova chuteira. Comprei uma chuteira bem bonitinha e baratinha, mas semelhante à de seu ídolo. Para minha surpresa, Pietra ficou simplesmente encantada com o presente. Ela cuida da chuteira com um carinho improvável, limpando-a sempre depois que usa e querendo sair com ela para todos os lugares, até mesmo para ir ao shopping.
Semana retrasada fui para Nova York para participar de uma série de eventos que acontecem ao redor do prêmio “Person of the Year”. Esta premiação, que reúne grande parte do PIB brasileiro, é promovida pela Brazilian-American Chamber of Commerce desde 1970. Neste jantar de gala são homenageadas duas personalidades que se destacaram no ano, tanto do lado brasileiro como do americano. Desta vez, os escolhidos para receberem tão importante honraria foram os empresários Alexandre Birman (CEO da Arezzo&Co) e Wes Edens (CEO da Fortress Investment Group). Além do jantar de gala, uma série de eventos paralelos patrocinados por renomadas instituições e grandes bancos acontecem pela cidade, contribuindo para apelidar este período de “Semana Brasil " em Nova York.
Um dos eventos que mais gosto é o Tech Day, promovido pelo BTG Pactual. Neste ano, dentre vários palestrantes de renome como o Martin Escobari (Copresidente da General Atlantic) e o Shan Aggarwal (vice-presidente da Coinbase), tivemos como Keynote Speaker o Steve Wozniak (cofundador da Apple), que em um bate-papo franco com o Roberto Sallouti (CEO do BTG), compartilhou sua jornada, sua paixão e dedicação, bem como sua colaboração com o Steve Jobs na fundação e desenvolvimento da Apple. Wozniak destacou a importância de escutar e entender as necessidades dos outros, um conceito que ele sempre buscou aplicar ao desenvolver produtos inovadores que realmente atendem às expectativas dos usuários. Ele explicou que a verdadeira inovação surge da capacidade de ouvir com atenção e responder às demandas reais das pessoas.
Woz, como gosta de ser chamado, ressaltou que muitas vezes estamos tão focados em nossas próprias ideias e projetos que esquecemos de considerar as necessidades e desejos dos outros no desenvolvimento de um novo produto ou serviço. Essa falta de empatia pode impedir a criação de soluções que realmente façam a diferença, que é o que realmente o move. Perguntado sobre investimentos, ele reforçou esta tese com uma resposta intrigante: ”Eu não me considero um investidor, eu sou um criador. Comecei várias empresas porque acreditava que um produto poderia realmente ajudar a humanidade nessas ocasiões. Isso é diferente de investir! Mas se você considerar investir, o ato de eu me doar a mim mesmo quando acredito em um negócio, então sim, eu sou investidor com o que tenho de melhor, eu me dedico e me entrego, e isso é muito mais que qualquer dinheiro.”
Esperando meu voo de volta para SP, acabei me deparando com uma entrevista do William Ury, especialista em negociação de Harvard. Ury argumenta que o primeiro passo para uma negociação bem-sucedida é ouvir atentamente o outro lado. Segundo ele, a capacidade de escutar não apenas facilita a resolução de conflitos, mas também fortalece os relacionamentos ao criar um ambiente de compreensão mútua. Ele destaca ainda que, em negociações, estamos muitas vezes tão focados em defender nossa própria posição, que esquecemos de considerar as necessidades e desejos da outra parte. Isso pode levar a impasses e frustrações, enquanto uma abordagem mais empática pode abrir caminho para soluções criativas e satisfatórias para ambos os lados. Para Ury: “Negociadores bem-sucedidos costumam ouvir mais do que falar. Pensamos em negociação como se fossem conversas, mas sua essência principal é ouvir”.
A diferença entre a chuteira que eu comprei e a mega casa da Barbie que a avó presenteou a Pietra é notável. Embora ela ame brinquedos e adore a Barbie, ela nunca cuidou das bonecas com o mesmo zelo que demonstra pela sua nova chuteira laranja. Isso reforça a importância de escutarmos com atenção antes de atendermos aos desejos daqueles que amamos. A sabedoria de Steve Wozniak e os insights de William Ury nos lembram que a verdadeira compreensão vem de nos colocarmos no lugar do outro, algo que pode transformar tanto nossas relações pessoais quanto profissionais. Afinal, como diz o ditado popular: “Deus deu ao homem dois ouvidos, dois olhos e uma boca para vermos e ouvirmos duas vezes mais do que falamos”.