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As empresas e o imperativo da responsabilidade humana

As lideranças, do setor privado e do setor público, estão agindo à altura dos desafios da nossa década?

Liderança: Gestão dos tempos atuais podem contribuir para a formação de bons líderes (oatawa/iStockphoto)
Liderança: Gestão dos tempos atuais podem contribuir para a formação de bons líderes (oatawa/iStockphoto)
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Francine Lemos

Publicado em 30 de março de 2022 às, 16h40.

A sensação é que o mundo está colapsando. Disputas internacionais que colocam territórios e interesses comerciais acima do bem-estar social e da preservação do meio ambiente ou até mesmo da vida humana; eventos climáticos extremos; pandemia; enchentes históricas; ondas de calor; agravamento da desigualdade social e da insegurança alimentar etc. Dessa forma, países, regiões e populações com menos recursos financeiros estão sendo cada vez mais afetadas. E será que as lideranças, do setor privado e do setor público, estão agindo à altura dos desafios da nossa década?

Se não questionarmos qual o papel das empresas num mundo em crise e como podem protagonizar a transição econômica hoje, a sociedade como um todo vai sofrer as consequências. A problemática ainda recai sobre as gerações futuras.

Embora a sociedade moderna tenha se desenvolvido com base na relação utilitária de seres humanos para com outros seres vivos e natureza, uma ruptura nesse modelo econômico urge e será determinante para a mudança do modo de produção da nossa sociedade. O capitalismo que conhecemos nos trouxe até aqui e se dá através da exploração de recursos e populações, visando o lucro acima de tudo. Agora, novos paradigmas econômicos podem transformar esse cenário quando as empresas relativizarem o sucesso econômico e assumirem a responsabilidade pelo impacto que suas atividades econômicas têm no dia a dia e no futuro da humanidade.

Inclusive, é isso que a sociedade brasileira espera. Segundo a pesquisa “Mudanças climáticas na percepção dos brasileiros 2021”, realizada pelo Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio), 6 a cada 10 pessoas estão “muito preocupadas” com o meio ambiente atualmente. Além disso, 77% consideram mais importante proteger o meio ambiente, mesmo que isso signifique menos crescimento econômico e menos empregos, em oposição a apenas 13% que considera a geração de empregos prioritariamente, mesmo que isso prejudique o meio ambiente.

No ritmo de emissão de gases de efeito estufa atual, o funcionamento vigente do nosso sistema econômico vai elevar a temperatura da Terra em 2,7 graus em 2100, de acordo com dados divulgados no último relatório do Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Isso mostra que não podemos esperar 192 países entrarem em acordo para finalmente aderir aos novos modelos de negócio e governança. Por um lado, a mudança climática já está afetando populações mais pobres e em situação de vulnerabilidade, as pessoas estão em situação de insegurança alimentar, o mercado de trabalho continua desigual, entre outras coisas que mostram que agora precisamos assumir o compromisso e a responsabilidade de forma coletiva.

Do outro lado, ainda vemos que empresas resistentes a optar por políticas, medidas e ações de governança que apresentem qualquer barreira para obtenção de lucros das organizações, mesmo que sejam essenciais para redução do impacto negativo. Essa ainda é uma consequência do contexto do capitalismo tradicional que, com esse mindset, prejudica a busca por essa mudança sistêmica necessária.

Afinal, qual a responsabilidade das empresas diante de tudo isso? As pessoas estão mais exigentes na hora de fazer compras, não é à toa que 20% da população brasileira já boicota determinadas marcas e prefere consumir produtos e serviços mais responsáveis, como aponta a pesquisa da consultoria Walk The Talk by La Maison.

Esta é uma década que exige ação para mudar esse cenário, visto que já estamos a menos de 8 anos do marco da Agenda 2030 da ONU, que se baseia nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A partir de agora, a responsabilidade humana, a preocupação com a sustentabilidade do sistema e com as gerações futuras, bem como a solidariedade são princípios fundamentais para enfrentarmos esta crise.

Uma empresa, antes de tudo, é feita por pessoas. Aquela que senta na cadeira de CEO de uma corporação é uma pessoa como outra qualquer habitando esse planeta. No entanto, as suas decisões impactam a vida de muita gente. Se a sustentabilidade não for colocada no centro da estratégia dos negócios, teremos um grande problema. Essa reflexão nos leva ao imperativo da responsabilidade humana, uma vez que os desafios dessa década põem em xeque o futuro da humanidade e as nossas condições de vida na Terra.

O movimento das Empresas B está no caminho para boas soluções de impacto positivo e tem sido uma importante vitrine de melhores práticas. À medida que as empresas buscam apenas uma estratégia de sustentabilidade, as Empresas B moldam suas operações para beneficiar as pessoas e o planeta, a longo prazo - ao mesmo tempo em que geram lucro.

O que a sociedade espera das empresas nesse momento é mais respeito com as gerações futuras, maior humanização dos negócios, regeneração de ecossistemas e reparação social histórica. O Sistema B reconhece que essa é uma construção coletiva, mas precisamos de mobilização para resolver problemas do presente e desenhar soluções para nos adaptarmos ao futuro. Precisamos mudar e precisamos fazer isso agora.