A consolidação da economia B virá com as grandes marcas
Comprometimento de grandes marcas com movimento de Empresas B contribui para que as regras do jogo econômico sejam alteradas mais rapidamente
Publicado em 19 de março de 2021 às, 15h43.
Última atualização em 23 de março de 2021 às, 10h07.
Construir uma nova economia, em que a redefinição de sucesso coloca lucro e impacto socioambiental positivo lado a lado. Esse sempre foi o foco do B Lab, que aqui no Brasil é representado pelo Sistema B desde 2012. Para atingir esse objetivo, precisamos de parceiros importantes: os empresários e os executivos que fazem parte das decisões estratégicas das marcas e das organizações.
Sabemos que o Movimento B é majoritariamente constituído por pequenas e médias empresas. São elas que, com um DNA já alinhado à nova economia, desbravam novos setores, criam oportunidades e o futuro de maneira inovadora. Porém, a adesão de grandes empresas, marcas tradicionais e amplamente conhecidas pelo público consumidor nos ajuda a consolidar nosso movimento e enraizar os princípios da economia B em esferas mais amplas.
Precisamos, principalmente, de uma liderança que vai além do CEO, disposta a implementar um propósito verdadeiro, a vontade de não só diminuir o impacto negativo, mas entregar um impacto positivo e regenerar, tudo com uma prestação de contas extremamente transparente.
Ao estabelecer pontes com o que chamamos de mainstream corporativo, podemos ampliar, estimular e reconhecer a capacidade do setor privado de gerar impacto positivo. A adesão de grandes empresas à economia B é uma maneira de potencializar este movimento e, portanto, favorecer e acelerar as transformações sociais, pois essas corporações têm o potencial de conferir escala às transformações. Mais do que isso, algumas empresas têm como trabalhar em conjunto para mudarem as regras do jogo corporativo.
Em março, quando comemora-se "o mês das Empresas B" no mundo inteiro, temos a felicidade de anunciar a certificação B da operação brasileira da Danone. A Danone Brasil é a 33a. entidade da marca a conquistar o certificado. O objetivo é que toda a Danone esteja certificada até 2030. A Danone até 2018 tinha 30% do faturamento coberto por empresas B certificadas, o que mostra o comprometimento da empresa com a nossa filosofia, bem como atesta que ele é possível e funciona. Aqui no Brasil, ela se une à Natura, 1ª empresa de capital aberto brasileiro a se certificar e maior empresa B do mundo, além da Movida, outra representante B na B3.
No entanto, a certificação é só um dos caminhos possíveis para que grandes empresas se mostrem comprometidas com o movimento. O Sistema B tem uma atuação sistêmica pela construção de uma nova economia por meio de outras ações, como o B Movement Builders, uma coalizão de empresas multinacionais de capital aberto que visam transformar a economia global para contribuir com a valorização de longo prazo de todos os seus públicos. As B Movement Builders podem ter subsidiárias que são Empresas B, estar no processo de obter a Certificação B ou simplesmente usarem seus negócios para gerar impacto positivo.
O primeiro grupo de B Movement Builders, anunciado em 2020, tem empresas como Bonduelle, Gerdau, Givaudan e Magalu. A partir das suas experiências, os executivos discutem sobre a importância de repensar o modelo atual de capitalismo e endereçar de forma mais justa e sustentável as principais questões desse sistema econômico: a relação com funcionários e consumidores, a cadeia de suprimentos e o padrão de governança. São empresas que usam a força de seu capital para tentar promover mudanças reais.
Essas mudanças não chegam de maneira voluntária na velocidade que o mundo precisa. É preciso influenciar a mudança nas regras do jogo e institucionalizar uma nova forma de fazer negócios e causar impacto positivo, por meio do comprometimento com propósito, responsabilidade e transparência. Um exemplo: terminou agora em março a consulta pública da CVM referente à Instrução CVM 480, que trata do Formulário de Referência, documento obrigatório disponibilizado pelas companhias abertas ao mercado. O objetivo é que as empresas passem a incluir informações que reflitam aspectos sociais, ambientais e de governança corporativa.
Por meio do nosso Grupo Jurídico B, fizemos propostas e estamos acompanhando essa ação porque mexer em métricas, fortalecer a governança alinhadas com os interesses dos negócios com os interesses da sociedade e do planeta irá realmente acelerar essa mudança, uma vez que passa também a instrumentalizar a tomada de decisão de públicos como o investidor a curto prazo.
Esses exemplos nos mostram que é necessário que o meio corporativo se una e inspire seus pares. Mais do que nunca, precisamos trabalhar coletivamente e de forma interdependente em direção a um sistema que seja verdadeiramente inclusivo, equitativo e que capacite todas as pessoas. O mundo está conclamando as empresas líderes a agirem de maneiras significativas para enfrentar a desigualdade galopante e a crise climática que estão se tornando mais agudas e ameaçam o mais básico dos sistemas dos quais dependem todas as vidas e negócios - a natureza e a interdependência humana.