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Inteligência Artificial e a ameaça de extinção de empregos

CEO da Open AI, Sam Altman disse, em sua passagem pelo Brasil em maio, que muitos empregos podem desaparecer com a IA, mas não foi só isso que ele afirmou

Empregos em perigo: roteiristas de Hollywood protestam contra o uso de inteligência artificial no cinema (Frederic J. Brown/AFP/Getty Images)
Empregos em perigo: roteiristas de Hollywood protestam contra o uso de inteligência artificial no cinema (Frederic J. Brown/AFP/Getty Images)

Florian Hagenbuch, cofundador e presidente do Grupo Loft

Ainda que outros temas ganhem espaço na agenda, está cada vez mais difícil não falar sobre Inteligência Artificial – e já peço desculpas aqui por voltar nesse tema.

O "problema" é que a IA continua sendo uma fonte inesgotável de boas conversas, seja porque o assunto permite inúmeros recortes e análises, ou porque, como humanos, temos curiosidade sobre tudo o que ainda não dominamos.

Após ler e ouvir mais uma dezena de artigos e reportagens sobre o tópico em questão, escolhi compartilhar com vocês as perspectivas de alguns dos maiores investidores globais (e as minhas, claro) sobre o impacto dos Modelos de Linguagem de Grande Escala, ou LLMs na sigla em inglês, no mercado de trabalho.

O porquê dessa escolha? Uma pesquisa rápida sobre o tema no Google me trouxe mais de 70 mil resultados sobre os empregos que serão extintos por essa tecnologia. Tive a certeza de que o assunto era relevante para mais pessoas, que eu não era o único interessado no debate sobre o impacto socioeconômico da Inteligência Artificial.

De cara, preciso lembrar que o próprio CEO da Open AI, Sam Altman disse, em sua passagem pelo Brasil em maio, que muitos empregos podem desaparecer com a IA, mas não foi só isso que o líder da empresa que criou o ChatGPT falou.

Altman classificou seu modelo de linguagem como um "divisor de águas" para a criação de novas profissões e a extinção de outras. Fez questão de deixar claro, no entanto, que os humanos não podem ser substituídos pela Inteligência Artificial – pelo menos não em trabalhos que exigem criatividade e poder de decisão. Nada diferente do que vimos em outras transformações tecnológicas.

Como já compartilhei aqui antes, gosto de olhar para o passado para encontrar paralelos e tentar entender o mundo, desenhar cenários. Desconfio que o CEO da Open AI fez o mesmo.

Em minhas pesquisas, encontrei um artigo do Benedict Evans, ex-sócio da Andreessen Horowitz (a16z), que nos lembra que toda vez que há uma onda de automatização, diferentes classes de trabalho desaparecem. Ao mesmo tempo, novas profissões surgem. Passado um tempo, percebe-se que o número de vagas de emprego, na verdade, não diminui.

As crianças e adolescentes com um celular nas mãos hoje nem imaginam, mas houve um tempo em que era preciso pedir para a telefonista completar a sua ligação. A tecnologia acabou com o mercado de trabalho para os telefonistas, é verdade, mas criou outros tantos postos possíveis em telefonia. Talvez seja cíclico e um fato inevitável que os trabalhos repetitivos, que podem ser automatizados, estejam sempre em rota de extinção.

Ao dar sua perspectiva sobre o tema, Evans também lembra o paradoxo de Jevons e a falácia da escassez do trabalho, que vêm bem a calhar.

O paradoxo de Jevons, ou "efeito rebote", nos mostra que o número de empregos pode aumentar, e não diminuir, cada vez que descobrimos uma maneira mais eficiente de realizar uma tarefa. E o exemplo que Evans escolheu para ilustrar esse movimento, o Excel, é perfeito. Se antes era necessário caneta, régua e muito tempo para preparar uma planilha, com o Excel, podemos fazer isso em minutos. Isso diminuiu o número de pessoas que trabalham com planilhas? Pelo contrário, aumentou.

Já a falácia da escassez do trabalho é a crença equivocada de que há uma quantidade fixa de trabalho a ser feito e que, se algum trabalho for realizado por uma máquina, haverá menos trabalho para as pessoas.

Acontece que, se é mais barato usar uma máquina para fazer, por exemplo, um par de sapatos, os sapatos ficam mais baratos, mais pessoas podem comprar sapatos e, assim, dispõem de mais dinheiro para gastar em outras coisas. O ganho eficiente não se limita ao sapato: ele se espalha pela economia, criando prosperidade e novos empregos.

Claro que, hoje, não é possível saber quais serão os novos empregos que o LLM irá "criar", mas temos um modelo que nos diz que não apenas haverão novos empregos como também que isso é inerente ao processo.

Outro ponto importante, esse observado por Vivek Goyal, sócio da Altimeter, é o potencial da inteligência artificial de democratizar serviços que antes eram exclusivos para poucos privilegiados, tais como criadores de conteúdo e programadores – e esse recorte, sozinho, já renderia um outro texto.

A diferença entre essa transformação que acompanhamos agora e outras que já ocorreram talvez seja a rapidez com que ela está acontecendo. É possível que a adoção em massa dessa tecnologia ocorra não em décadas, mas em anos ou semanas. E essa rapidez vai exigir de nós – humanos – uma adaptação muito mais ágil.

Um outro artigo que li aqui na própria EXAME, assinado por Izabela Anholett, pontuou bem que talvez a preocupação não deva ser a nossa substituição por uma IA, mas sim a nossa substituição por um outro humano que domine essa ferramenta.

Concordo com a reflexão e acrescento: quando isso ocorrer, de qual lado você vai querer estar?