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Panerai, IWC e Jaeger-LeCoultre vão fechar suas lojas no Brasil

Grupo Richemont decide encerrar as operações das três marcas de alta relojoaria no país; boutiques funcionarão até dia 31 de dezembro

Manufatura da Panerai, em Neuchâtel, na Suíça: centro de excelência (Panerai/Divulgação)
Manufatura da Panerai, em Neuchâtel, na Suíça: centro de excelência (Panerai/Divulgação)
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Fila A

Publicado em 18 de dezembro de 2019 às, 12h13.

Última atualização em 18 de dezembro de 2019 às, 13h10.

Depois de muitos meses de especulação, é dado como certo o fechamento das boutiques das marcas de alta relojoaria Panerai, IWC Schaffhausen e Jaeger-LeCoultre no Brasil, todas no Shopping JK Iguatemi, em São Paulo. As lojas encerrarão as operações no dia 31 de dezembro.

As primeiras notícias sobre o fechamento das lojas surgiram em março. Os boatos então apontavam para meados de julho a data para o encerramento dos pontos de venda. Mas as lojas continuaram funcionando normalmente.

O grupo suíço Richemont, detentor das marcas, não se pronunciou – o silêncio é praxe no mercado de luxo em situações como essa. Os principais clientes, que chegavam a comprar 5 relógios ou mais por ano, estão sendo avisados em encontros privados por executivos das marcas. Nesta semana quem esteve por aqui foi Thomas Perini, diretor da IWC para América Latina e Caribe.

Os relógios dessas marcas continuarão sendo vendidos pelos grandes retailers no Brasil, como Frattina, Grifith e Sara Joias. Os trabalhos de marketing e relacionamento com clientes brasileiros, portanto, devem continuar.

A saída das grifes do grupo Richemont faz parte de um movimento maior de fuga das marcas de luxo do país. No segmento de relojoaria, Piaget e Vacheron Constantin, também do Richemont, fecharam em 2017 – ambas tinham lojas no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo. No mercado de moda, Kate Spade, Lanvin, Ralph Lauren e Versace também encerraram as operações por aqui. A Aston Martin se despediu do Brasil depois de vender apenas 2 carros.

Panerai, IWC e Jaeger chegaram ao Brasil em 2012, com a inauguração do JK Iguatemi. São marcas centenárias, reconhecidas pela alta qualidade e belo design, que produzem seus próprios movimentos e investem muito em ações de marketing, com celebridades como embaixadoras. Todas têm uma clientela bastante fiel, mesmo no Brasil. A carga tributária é apontada, nas conversas informais, para a razão do descontentamento do grupo com o país. No segmento, os impostos comem em média 60% do valor da venda final das peças. As marcas ficam então no impasse de arcar com parte do prejuízo para manter posição no país ou repassar pelo menos parte desse custo para o cliente.

Adriana Lima no SIHH, salão de alta relojoaria do grupo Richemont: embaixadora da IWC (Chris Jackson/Getty Images)

Quem acaba sofrendo mais com o custo Brasil são as marcas que decidem atuar por conta própria. Algumas grifes optam por parcerias com empresas locais. O Grupo JHSF, do Shopping Cidade Jardim, ajudou a trazer recentemente a Balmain e a Chloé. Hermès e Prada também chegaram com o grupo, e depois assumiram a operação.

O grupo Richemont, que possui 20 marcas, como Montblanc e Cartier, atua em quatro segmentos: joalheria, relógios, comércio eletrônico e acessórios de moda e couro. No ano passado, o conglomerado faturou 14 bilhões de euros, um aumento de 27% em relação ao período anterior. Joalherias respondem por mais da metade desse número. Já as relojoarias são responsáveis por 21% do faturamento. No total, a região das Américas é a que mais cresce – 41% sobre o ano passado. Mas em volume quem mais vende é a região da Ásia e Pacífico.

O mercado de luxo movimentou 26 bilhões de reais no Brasil no ano passado, segundo a consultoria Euromonitor. De 2013 a 2018, houve um crescimento de 26%. Parecem números animadores, porém um olhar mais atento aponta que mais da metade desse montante diz respeito a um só segmento, o automotivo. O mercado de carros de luxo costuma manter vendas constantes.

“Os últimos anos foram muito difíceis, e a maioria das marcas de luxo veio para o Brasil em um momento de otimismo na economia”, afirma Carlos Ferreirinha, diretor da MCF Consultoria e ex-diretor-geral do grupo LVMH no Brasil. “As grifes de relógios demandam consumo significativo para manter as operações. Outras marcas, de moda e acessórios, têm uma diversificação de portfólio, e em momentos de crise um segmento ajuda o outro. Em relojoaria não há essa variedade, o que demanda uma frequência de consumo maior.” Ferreirinha aponta ainda a violência como um fator restritivo. “Por aqui, as pessoas não usam joias e relógios no dia a dia, só em momentos de celebração. O uso fica muito limitado.”