Ilustração de galáxias encontradas ao lado da Via Láctea (REUTERS/ICRAR)
Colunista
Publicado em 9 de dezembro de 2025 às 01h48.
Nossas vidas têm se tornado cada vez mais atribuladas, especialmente com todas as tecnologias que temos a disposição, não é mesmo? Raros são os momentos nos quais nos dedicamos a não pensar em nada – simplesmente deixar o cérebro vagar livre, leve e solto. Gosto de olhar para o céu à noite e refletir sobre a imensidão do espaço sideral. As distâncias no universo e o tempo necessário para atravessá-las são dimensões que não cabem nas nossas mentes, programadas para os insignificantes padrões terrestres.
Se fosse possível uma nave viajar à velocidade da luz — algo como inconcebíveis 300 mil quilômetros por segundo — levaríamos apenas 1,3 segundo para chegar até a Lua, a cerca de 384 mil quilômetros da Terra. Até o Sol, um pouco mais distante, a viagem demoraria cerca de 8 minutos. Atravessar o Sistema Solar, de ponta a ponta, da órbita do Sol até Plutão, levaria entre 5 e 6 horas na velocidade da luz.
Agora, se a pretensão da nave for atravessar a nossa galáxia, a famosa Via Láctea, a conversa muda de figura. A Via Láctea é apenas uma entre bilhões de galáxias no universo observável, mas, para os padrões cósmicos, é o nosso “bairro”. Ainda assim, a quantidade de tempo necessário para atravessá-la desafia a imaginação. Seria preciso nada menos do que 100 mil anos — mesmo na velocidade da luz — para cruzá-la de um lado ao outro. A nossa minúscula casa, o planeta Terra, portanto, está para o Universo assim como um grão de areia está para o deserto. E isso não é apenas uma metáfora — é literal.
Para quem aprecia o tema, recomendo o filme Passengers (Passageiros), lançado em 2016 e que dá o título a este texto. Trata-se de um dos melhores filmes de ficção que já assisti. Uma nave espacial parte da Terra com centenas de pessoas rumo ao planeta Homestead II, que possui condições de vida semelhantes às nossas. A nave segue em piloto automático, pois todos os passageiros, e também a tripulação, precisam hibernar para sobreviver ao longo dos 120 anos do percurso.
O protagonista, Jim Preston (interpretado por Chris Pratt), acorda acidentalmente 90 anos antes da chegada. Não existe comunicação possível com a Terra; nada fará a nave mudar seu curso. Ele se vê, então, diante de um dilema angustiante: ou encontra uma forma de voltar a hibernar para acordar no novo planeta junto aos demais, ou está condenado a passar toda a sua existência ali, vagando sozinho naquela nave imensa — preso entre o passado e o futuro.
Bem, não darei mais spoiler. Passageiros é uma obra profunda, que certamente fará você refletir sobre solidão, ética, perdão, destino e amor. Porém, mais do que tudo, o filme coloca em perspectiva a insignificância da nossa existência frente à imensidão do tempo e do espaço. Ajuda-nos a enxergar o quão fugaz é a nossa jornada sobre a Terra. E, mais do que tudo, o quão importante é aproveitar esse tempo para estar próximo das pessoas de quem gostamos, cultivar vínculos verdadeiros e viver com propósito, contribuindo para um mundo melhor. Afinal de contas, não devemos esquecer de que, nesta vida, somos meros passageiros…