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O câncer e a corrupção: a destruição da integridade dos sistemas

A palavra câncer é usada para fazer referência a qualquer coisa que seja ruim, que cresce desordenadamente e que precisa ser extirpada

Palacio do congresso Nacional - Brasilia - DF Capital do Brasil - Politica Foto: Leandro Fonseca data: 16/08/2022 (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 26 de agosto de 2024 às 11h54.

Dia destes recebi uma mensagem de um amigo dizendo que a mulher havia sido diagnosticada com CA. Sim, muitas pessoas evitam escrever ou pronunciar a palavra por extenso. O câncer aterroriza as pessoas por inúmeros motivos. Mesmo com o avanço dos tratamentos para vários tipos da doença, ela ainda é associada à morte. Além disso, muitos tratamentos (cirurgia, radioterapia e quimioterapia) são intensos e podem causar efeitos colaterais severos. Enfim, por estes e outros fatores, o câncer é uma doença estigmatizante.

A palavra câncer também tem sido usada para fazer referência a qualquer coisa que seja ruim, que cresce desordenadamente e involuntariamente, que precisa ser extirpada. Embora eu entenda que a palavra câncer não deva ser usada em vão, a fim de não aumentar o seu estigma, gosto quando ela é usada para definir a corrupçāo.

Tal qual o câncer, a corrupção também é um processo destrutivo e que age de maneira insidiosa, destruindo a integridade dos sistemas. No caso do câncer, o corpo humano. No caso da corrupção, a sociedade.

Não há dúvidas de que a corrupção é um dos principais males da sociedade brasileira. Ela invade o tecido social e asfixia a capacidade de investimento dos governos. Independente de ideologia política, este câncer tem estado sempre presente. E se apresenta nas mais diversas formas. Desde uma obra acima do preço ou das milhares que são iniciadas e não terminadas, até o loteamento de cargos públicos, as famigeradas emendas parlamentares secretas ou mesmo um “simples” voo - fora do protocolo – num avião da FAB. Qualquer dinheiro desviado, benefício indevido ou gasto impróprio, deve ser considerado corrupção.

Costumo dizer que toda forma de corrupção deve ser alvo de indignação, denúncia e, quiçá, punição. Pois, os recursos desviados são os mesmos da merenda que não chega na escola; do saneamento que não despolui as favelas, ou da consulta e dos exames que chegam tarde demais para diagnosticar o câncer.

Infelizmente, conheço bem as agruras desta terrível doença. Há três anos fundei um projeto que busca achar a cura do tumor cerebral mais frequente em crianças, o Medulloblastoma. Sei bem o que é ver crianças perecerem com tipos de câncer que não têm cura por falta de investimentos em pesquisas, por tratamentos ineficientes os por diagnósticos tardios.

Se o câncer é tão assustador para a maioria dos leitores deste artigo, que teriam condições de ter um diagnóstico e tratamento rápido e eficiente, imagine a situação desesperadora de quem tem que esperar meses por uma simples consulta?

Portanto, da próxima vez que você vir ou ouvir falar sobre o uso irregular do dinheiro público, lembre-se: isso é corrupção. E, tal qual o câncer, ela mata.

Fernando Goldsztein é fundador do The Medulloblastoma Initiative e conselheiro da Childrens National Hospital

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Dia destes recebi uma mensagem de um amigo dizendo que a mulher havia sido diagnosticada com CA. Sim, muitas pessoas evitam escrever ou pronunciar a palavra por extenso. O câncer aterroriza as pessoas por inúmeros motivos. Mesmo com o avanço dos tratamentos para vários tipos da doença, ela ainda é associada à morte. Além disso, muitos tratamentos (cirurgia, radioterapia e quimioterapia) são intensos e podem causar efeitos colaterais severos. Enfim, por estes e outros fatores, o câncer é uma doença estigmatizante.

A palavra câncer também tem sido usada para fazer referência a qualquer coisa que seja ruim, que cresce desordenadamente e involuntariamente, que precisa ser extirpada. Embora eu entenda que a palavra câncer não deva ser usada em vão, a fim de não aumentar o seu estigma, gosto quando ela é usada para definir a corrupçāo.

Tal qual o câncer, a corrupção também é um processo destrutivo e que age de maneira insidiosa, destruindo a integridade dos sistemas. No caso do câncer, o corpo humano. No caso da corrupção, a sociedade.

Não há dúvidas de que a corrupção é um dos principais males da sociedade brasileira. Ela invade o tecido social e asfixia a capacidade de investimento dos governos. Independente de ideologia política, este câncer tem estado sempre presente. E se apresenta nas mais diversas formas. Desde uma obra acima do preço ou das milhares que são iniciadas e não terminadas, até o loteamento de cargos públicos, as famigeradas emendas parlamentares secretas ou mesmo um “simples” voo - fora do protocolo – num avião da FAB. Qualquer dinheiro desviado, benefício indevido ou gasto impróprio, deve ser considerado corrupção.

Costumo dizer que toda forma de corrupção deve ser alvo de indignação, denúncia e, quiçá, punição. Pois, os recursos desviados são os mesmos da merenda que não chega na escola; do saneamento que não despolui as favelas, ou da consulta e dos exames que chegam tarde demais para diagnosticar o câncer.

Infelizmente, conheço bem as agruras desta terrível doença. Há três anos fundei um projeto que busca achar a cura do tumor cerebral mais frequente em crianças, o Medulloblastoma. Sei bem o que é ver crianças perecerem com tipos de câncer que não têm cura por falta de investimentos em pesquisas, por tratamentos ineficientes os por diagnósticos tardios.

Se o câncer é tão assustador para a maioria dos leitores deste artigo, que teriam condições de ter um diagnóstico e tratamento rápido e eficiente, imagine a situação desesperadora de quem tem que esperar meses por uma simples consulta?

Portanto, da próxima vez que você vir ou ouvir falar sobre o uso irregular do dinheiro público, lembre-se: isso é corrupção. E, tal qual o câncer, ela mata.

Fernando Goldsztein é fundador do The Medulloblastoma Initiative e conselheiro da Childrens National Hospital

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