Colunistas

Mente trilionária: o estilo hardcore de Elon Musk

Biografia autorizada revela como o bilionário pensa, lidera e leva o risco ao limite para mudar o mundo

Elon Musk: o magnata construiu um império que mistura genialidade, obsessão e risco permanente (Chip Somodevilla/Getty Images)

Elon Musk: o magnata construiu um império que mistura genialidade, obsessão e risco permanente (Chip Somodevilla/Getty Images)

Publicado em 23 de dezembro de 2025 às 13h30.

Última atualização em 23 de dezembro de 2025 às 13h33.

Resolvi ler a biografia de Elon Musk — aquela autorizada e escrita por Walter Isaacson. O livro está disponível desde 2023, mas só decidi adquiri-lo agora. Meu interesse aumentou depois da controversa e polêmica participação de Musk no início do segundo mandato de Trump. E, mais recentemente, com o anúncio do pacote de bonificação que ele poderá receber da Tesla, caso atinja metas disruptivas. Serão 1 trilhão de dólares ao longo dos próximos dez anos.

Um número simplesmente inimaginável que, traduzido em “miúdos”, equivale a 274 milhões de dólares por dia (sim, por dia!) durante uma década inteira. Vale lembrar que, mesmo sem considerar essa quantia monumental, Musk já é hoje a pessoa mais rica do planeta.

Chegar ao patamar de bilionário é façanha para poucos. Na sua maioria, são capazes de desenvolver habilidade(s) extraordinária(s) e, a partir dela(s), oferecer produtos ou serviços que atraem milhares — às vezes milhões — de pessoas. Eles se caracterizam, em geral, por trabalho extremo, foco incansável, curiosidade constante, visão de longo prazo e resiliência.

Mas afinal, quais seriam as características de um trilionário? Como pensa? Como trabalha? Como vive? Foi em busca dessas respostas que enfrentei as 650 páginas do livro.

Para dar o tom, o autor já inicia a obra com uma citação de Musk, feita em 2021:

“A quem quer que eu tenha ofendido, só quero dizer que reinventei os carros elétricos e estou enviando pessoas a Marte num foguete espacial. Você acha que eu seria um cara tranquilo, normal?”

Ainda na faculdade, Musk já havia concebido os pilares da sua visão. Dizia, à época: “Pensei sobre coisas que realmente afetariam a humanidade. Cheguei a três: internet, energia sustentável e viagem espacial.”

Outra declaração marcante surgiu quando tentaram destituí-lo do cargo de CEO em uma de suas primeiras empresas: “Sou por natureza obsessivo-compulsivo. O que importa para mim é vencer — e isso não é pouco. Sabe lá Deus por quê… A raiz disso deve estar em alguma profundidade psicanalítica muito perturbadora ou em um curto-circuito neural.”

O livro percorre a vida de Musk e descreve, com riqueza de detalhes, suas incursões empresariais e familiares. Entre as empresas, destacam-se PayPal, SpaceX, Tesla, Starlink, Neuralink, SolarCity e X (antigo Twitter). Seus objetivos grandiosos — como salvar a humanidade substituindo a queima de carbono por carros elétricos ou colonizar Marte — quase sempre vêm acompanhados de modelos de negócios surpreendentemente pragmáticos.

Musk adota práticas de gestão bastante peculiares. Uma das principais é estabelecer prazos insanos e motivar — ou pressionar — as equipes a cumpri-los. O senso de urgência está no seu DNA; não o ter é pecado capital. Outra característica marcante é o questionamento sistemático das especificações técnicas. Para Musk, toda especificação pode — e deve — ser reduzida, ou até eliminada. “Simplifique (ou elimine), otimize, acelere e automatize” é seu mantra.

Em um dos inúmeros exemplos citados no livro, Musk questiona a necessidade de dois pregos — em vez de um — para prender os painéis solares da SolarCity nos telhados das casas. Os engenheiros argumentavam que isso garantiria melhor impermeabilização. Musk respondeu: “Não precisa ser tão impermeável quanto um submarino. Minha casa na Califórnia também tinha infiltrações. Algo entre uma peneira e um submarino deve funcionar.”

A palavra que melhor define o estilo de Musk é hardcore — radical, intenso, extremo. Ele é implacável com subordinados que não compartilham seu nível de comprometimento e senso de urgência. Diante de desafios críticos, não hesita em levar o travesseiro para a fábrica e passar dias seguidos ali até resolver o problema. Ao contrário de empreendedores tradicionais, que buscam mitigar riscos, Musk faz o oposto: amplia o risco e queima as pontes, de modo que não exista caminho de volta. E assim ele segue avançando em sua missão de “salvar a humanidade” enquanto coleciona empresas de sucesso.

Sua vida familiar também é, digamos, intensa. Musk tem — até agora — 14 filhos com três mulheres diferentes, alguns com nomes tão excêntricos quanto X Æ A-XII, Exa Dark Sideræl e Techno Mechanicus. Uma de suas ex-esposas o descreve assim:"Ele é determinado e poderoso como um urso.

Pode ser brincalhão, divertido e contar piadas, mas no fim das contas você ainda estará lidando com um urso.”

Não há dúvidas sobre a genialidade de Musk. As pessoas ao seu redor, no entanto, provavelmente prefeririam um Musk com mais controle sobre seus impulsos e explosões — que muitas vezes deixam um rastro de destroços por onde passam. Ainda assim, fica a pergunta: um Musk cheio de limites e verniz social teria conseguido fazer o que fez?

Isaacson encerra o livro com uma reflexão poderosa: “Às vezes, grandes inovadores são homens com jeito de criança, que gostam de correr riscos e resistem às convenções. Podem ser imprudentes, causar vergonha alheia e até serem tóxicos. Podem ser loucos também — loucos o suficiente para acreditar que podem mudar o mundo.”