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Brasil, o país dos invisíveis

Estima-se que 3 milhões de brasileiros não tenham certidão de nascimento. Como consequência, eles acabam não possuindo CPF, RG ou Carteira de Trabalho

Estima-se que 3 milhões de brasileiros não tenham certidão de nascimento. Como consequência, eles acabam não possuindo CPF, RG ou Carteira de Trabalho (Rafael Henrique/Getty Images)
Estima-se que 3 milhões de brasileiros não tenham certidão de nascimento. Como consequência, eles acabam não possuindo CPF, RG ou Carteira de Trabalho (Rafael Henrique/Getty Images)

O título deste texto tem servido para adjetivar os indivíduos que são desprovidos de documentação. Muitas vezes, a situação de fragilidade social da família faz com que os recém-nascidos não sejam registrados e, como consequência, acabem não possuindo CPF, RG ou Carteira de Trabalho. Não conseguem ter acesso a nada. Estima-se que 3 milhões de brasileiros não tenham certidão de nascimento.

Entretanto, existe um número muito maior - dezenas de milhões de brasileiros - que, não obstante estarem devidamente documentados, vivem outro tipo de invisibilidade. A realidade deles é inimaginável para a maioria dos leitores deste texto. Acreditem ou não, 100 milhões dos nossos compatriotas não têm acesso a rede de esgoto e, dentre estes, 30 milhões não têm sequer água encanada.

Eles compõem as ditas classes D e E. Trata-se da empregada doméstica, do porteiro do prédio, da faxineira da empresa, do gari, do servente de obra, do entregador de delivery e tantos outros. São pessoas que trabalham basicamente para subsistir

O Brasil é um dos países mais desiguais do planeta. E, o que é pior, não tem sido capaz de avançar muito nas últimas décadas. Nossos índices de educação e produtividade não dão esperança de mudança a curto ou médio prazos. A falta de planejamento dos governos para além dos seus mandatos, o desperdício do dinheiro público e a corrupção são alguns dos fatores que explicam a situação. Mas, isso é assunto para outro texto.

O que podemos fazer é escolher bem os nossos governantes e, na medida da disponibilidade de cada um, ajudar os mais vulneráveis. Porém, existe algo mais a ser feito para que esses brasileiros se sintam menos fragilizados, menos invisíveis. Trata-se da boa e velha saudação.

Sim, um harmonioso e simpático “bom dia”, “olá”, “tudo bem?”, “por favor” e “muito obrigado” não tira pedaço, não custa nada e, de quebra, ganha a atenção e simpatia das pessoas, deixando o dia a dia de todos mais prazeroso e produtivo.

Lembro de um episódio ocorrido há muitos anos no aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires. Eram 6 horas da manhã e eu, talvez ainda meio sonolento, não estava conseguindo localizar o caminho para o terminal de embarque. Ao ver um segurança junto a uma pilastra, questionei: “Poderia informar qual a direção do terminal B?” O homem me olhou e disse de forma contundente: Bom dia!! Somente depois de eu retribuir o “bom dia”, o que fiz sem pestanejar, foi que recebi as orientações. Aquele segurança do aeroporto nunca soube, mas me ensinou uma lição que levo para a vida. Nunca mais me dirigi a alguém sem antes fazer uma saudação.

Com cortesia, o mundo fica mais alegre, mais agradável, mais aconchegante.