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O fim da pornografia no OnlyFans: o que está por trás do pivô do site

Do dia para a noite (na verdade, até Outubro) a companhia provocou uma mudança radical em sua principal linha de negócio

OnlyFans logo is seen displayed on a phone screen in this illustration photo taken in Krakow, Poland on April 27, 2021. (Photo Illustration by Jakub Porzycki/NurPhoto via Getty Images) (Jakub Porzycki/NurPhoto/Getty Images)
OnlyFans logo is seen displayed on a phone screen in this illustration photo taken in Krakow, Poland on April 27, 2021. (Photo Illustration by Jakub Porzycki/NurPhoto via Getty Images) (Jakub Porzycki/NurPhoto/Getty Images)
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Fast Forward

Publicado em 27 de agosto de 2021 às, 08h36.

Por Felipe Collins

Neste mês, o site OnlyFans anunciou que irá banir toda e qualquer cena ou imagem envolvendo conteúdo de sexo explícito em sua rede. A notícia seria absolutamente comum no mercado digital, que tradicionalmente fecha as portas para a pornografia, mas neste caso chamou muita atenção.

O problema é o seguinte: a vasta maioria dos 130 milhões de usuários, 2 milhões de criadores de conteúdo e US$ 2 bilhões movimentados dentro da plataforma - que fica com 20% do montante - é diretamente ligada ao entretenimento adulto.

Ou seja: do dia para a noite (na verdade, até Outubro) a companhia provocou uma mudança radical em sua principal linha de negócio (mesmo que cenas de nudez ainda sejam permitidas, a extinção do conteúdo de sexo explícito, por si só, representa uma muidança brusca para a empresa).

No mundo das startups, chamamos isso de pivô: quando uma companhia abandona o produto ou modelo de negócio vigente em busca de outro com maior possibilidade de ganho e que atenda melhor a uma demanda do consumidor.

Pivôs são muito comuns no mercado de tecnologia, especialmente enquanto a empresa ainda não tem tanta musculatura. O Instagram começou como uma rede social de geolocalização chamada Burbn antes de perceber que o modelo ideal era foto-com-filtro. O Netflix, já mais estruturado e rodando, é outro caso famoso de sucesso, deixando de lado o business de entrega de DVDs por correio para partir para o streaming.

Em sua origem, o OnlyFans estava em busca de crescimento a partir de artistas e celebridades. Os criadores vendem uma assinatura do seu canal para os fãs, e em troca, postam uma série de conteúdo visível apenas para seus assinantes.

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Mas o site se popularizou mesmo a partir do conteúdo adulto, e encontrou ali o seu product market fit e sua avenida de crescimento. E o OnlyFans pivotou da ideia inicial e abraçou esse mercado para de fato expandir.

A pandemia só melhorou os negócios, quando o lockdown levou os olhos e atenção de todos para a tela do celular e computador, incluindo aí usuários e criadores de conteúdo adulto amadores ou profissionais. Mas o sucesso em um mercado tão “cinzento” entre o que é legal ou ilegal causou também um potencial risco enorme para o site: a BBC noticiou documentos vazados apontando prostituição, pornografia infantil e outros tipos de conteúdo extremo, que a moderação do OnlyFans falhou em detectar e banir. Em resposta, a startup disse que incrementaria em 200 pessoas o rol de “checadores”.

Dependência dos bancos

No caso do OnlyFans, o motivo da ruptura é financeiro. A startup avaliada em US$ 1 bilhão (segundo a Bloomberg) está com dificuldades com os meios de pagamento e provedoras de cartão de crédito que processam as assinaturas dentro do site.

O CEO Tim Stokely diz até que teve um tratamento “injusto” dos bancos. Para quem está pensando em crescer para fazer um IPO (oferta pública de ações), é um sinal pra lá de vermelho.

Instituições financeiras usualmente têm políticas contrárias ou restritivas a negócios dentro de temas polêmicos. A MindGeek, que controla sites de entretenimento adulto como o Pornhub, foi bloqueada por VISA e Mastercard em dezembro de 2020 por alegações de conteúdo impróprio. A resposta da empresa foi revisitar todos os processos de cadastro e limpar todos os vídeos postados por usuários sem verificação.

O mercado de cannabis, legalizado em muitos Estados dos EUA, também passa por esse dilema: a lei federal americana proíbe as operações financeiras envolvendo maconha, legalizada apenas em nível estadual. Isso faz com que bancos não aceitem empresas do setor, e cria um vácuo a ser preenchido.

A descentralização financeira e os criptoativos podem responder muito bem a essa demanda, uma vez que não seguem a mesma lógica regulatória. (Na verdade, nessa semana já até surgiu o OnlyCoins, que faz a mesma coisa que o OnlyFans, mas nichado para o entretenimento adulto e aceitando crypto como pagamento.)

A trajetória do OnlyFans, do momento em que abraçou o conteúdo adulto à decisão de diminuir a dependência dos conteúdos mais explícitos, é um bom exemplo dos desafios que enfrentam empresas inovadoras. Velocidade é fundamental para aproveitar o vácuo, seja com pivôs ou para endereçar novos mercados.