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O cliente com 14 milhões e devendo no cheque especial

Ter patrimônio não basta para se dizer rico. É preciso mais que isso.

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Etiqueta Financeira

Publicado em 26 de julho de 2017 às, 18h10.

Última atualização em 21 de agosto de 2017 às, 09h57.

Recentemente, recebi o contato de um cliente com um patrimônio de R$ 14 milhões e ainda assim “virado” no cheque especial. Não. Você não leu errado!

“Quero marcar uma consulta com o senhor”, ele disse em um tom de voz consternado. Já no primeiro contato, ele me explicou toda a situação em que se encontrava e me mandou a declaração do seu imposto de renda e seus últimos extratos bancários para avaliação.

A primeira questão que me chamou a atenção é que, mesmo tendo um patrimônio estimado em R$ 14 milhões em imóveis, a renda dele, nos últimos meses havia caído bastante, era o que revelava a sua movimentação bancária. Perguntei o que estava acontecendo e ele me explicou que exercia a profissão de advogado e estava tendo pouca demanda nos últimos tempos. Também observei que vários dos imóveis de seu patrimônio estavam desalugados e alguns ainda eram financiados, ou seja, não faziam parte do ativo efetivo.

Alertei que só o apartamento onde ele morava estava avaliado em cerca de R$ 7 milhões, ou seja, correspondia a 50% do patrimônio, que, por motivos óbvios, não estaria disponível para negociações.

Nesse cenário, expliquei que, dos R$ 14 milhões considerados por ele como patrimônio, apenas R$ 7 milhões tinham realmente potencial para gerar renda e ajudá-lo a superar essa fase difícil. Ponderando que quatro dos imóveis restantes ainda não haviam nem sequer sido entregues, apenas três poderiam ser realmente considerados nesse momento, o que totalizava um montante de R$ 2 milhões a R$ 2,3 milhões apenas.

Aí você pode dizer: “R$ 2,3 milhões apenas? Na verdade, é sensacional”. Porque mal ou bem, é possível conseguir pelo menos uns R$ 10 mil por mês em aluguel com esses imóveis. Ok. No entanto, as coisas não eram tão simples assim. Primeiro, porque o nível de vida dele era bem superior a R$ 10 mil. Ele gastava entre R$ 20 e 25 mil, todo santo mês! Outra questão é que, ao receber R$ 10 mil, somados a sua renda no escritório e a tributação, apenas R$ 7 mil iriam efetivamente para o seu bolso, ou seja, a conta continuava não fechando. Além disso, a utilização do cheque especial na ocasião era muita elevada. R$ 70 mil reais era o tamanho da dívida.

E como é que o nosso amigo saiu dessa situação? A priori, verificamos os imóveis que ainda não tinham sido entregues. Perguntei: “Você pode devolver?”, “Você é advogado, você consegue destratar?”, “Por quanto você consegue negociar?”, “Quanto que você vai perder?”. Embora tenhamos feito esse mapeamento, sabemos que tudo o que envolve imóveis no Brasil demora meses para acontecer, mesmo que seja uma devolução. Não é como comprar uma geladeira que demora um mês para devolver ou se você não gostou de uma blusa que comprou e quer trocar por outro modelo basta ir à loja. No caso do imóvel, se a venda for a opção, a demora para encontrar um comprador pode ser ainda maior que em uma devolução.

Após muito analisar, a alternativa escolhida foi a venda de um imóvel já quitado e desalugado. Nesse processo, posso dizer que o excelente network foi condição preponderante para a solução do problema. Decisão tomada, ele contou com uma pessoa de seu círculo, bastante influente no meio imobiliário, para apoiá-lo e, ao mesmo tempo, divulgou que estava aceitando ofertas para amigos e conhecidos. Nesse meio tempo, surgiram duas propostas muito agressivas e ele aceitou uma delas.

Com isso, ele saiu das dívidas e gerou um “colchãozinho” financeiro. Concomitantemente, o nosso ex-endividado seguiu com o plano de retomar a base clientes do escritório de advocacia e tentar alugar os imóveis que ainda permaneciam vazios. Nesse sentido, orientei que baixasse o preço da locação. Com todas essas medidas, passamos a “salvar dinheiro”, ou seja, entramos no orçamento a fundo e também cortamos despesas.

Ao final, pegamos aquele montante financeiro que sobrou e só então seguimos para o “turbinar”. Aqui lembro que muitas pessoas ficam fascinadas achando que investindo R$ 5 mil ou R$ 10 mil vão ficar milionárias em quatro, cinco anos, mas não! O turbinar é o último passo! Para equilibrar as contas efetivamente, é preciso criar os alicerces que são: o fazer, o antever e o salvar, para depois poder realmente turbinar as suas reservas.

Assim é o Método FAST

Veja também o vídeo relacionado a este texto:

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Mauro Calil é fundador da Academia do Dinheiro