Futebol feminino quebra recordes e paradigmas nos EUA
A final da Copa do Mundo de Futebol Feminino entre Japão e Estados Unidos disputada no último domingo (5), no Canadá, não significou “apenas” um tricampeonato da seleção norte-americana. O apito da árbitra que encerrou a partida pode ser traduzido como a consolidação de uma popularidade do futebol feminino norte-americana. O fato da capitã e ícone do time, Abby Wambach, correr até a arquibancada e beijar sua esposa – que também […] Leia mais
Publicado em 11 de julho de 2015 às, 16h01.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 08h00.
A final da Copa do Mundo de Futebol Feminino entre Japão e Estados Unidos disputada no último domingo (5), no Canadá, não significou “apenas” um tricampeonato da seleção norte-americana. O apito da árbitra que encerrou a partida pode ser traduzido como a consolidação de uma popularidade do futebol feminino norte-americana. O fato da capitã e ícone do time, Abby Wambach, correr até a arquibancada e beijar sua esposa – que também é jogadora de futebol – na mesma semana em que o casamento homossexual foi legalizado no país pode ser entendido como a confirmação de que os Estados Unidos, vitrine mundial, passa por um marcante momento histórico e que o esporte contribui e está diretamente ligado a esta discussão.
Do ponto de vista mercadológico, a final foi um sucesso. Quase 27 milhões de pessoas assistiram ao vivo à partida pela TV, somando a audiência da Fox (25,4 milhões) e Telemundo (1,3 milhão). O número deixou o jogo com o posto de mais visto da modalidade na história do país. E mais: os 5 a 2 das americanas deixou para trás os números da audiência dos jogos entre Golden State Warriors e Cleveland Cavaliers, finais da NBA em 2015. Segundo a Nielsen, empresa especializada no ramo de audiências, o máximo que uma das partidas atingiu foi de 23,2 milhões de telespectadores.
A final da Copa do Mundo de Futebol Masculino, realizada no Brasil em 2014, que envolveu a disputa entre Argentina e Alemanha também teve sua marca de audiência superada. O confronto que resultou no tetracampeonato alemão registrou 26,5 milhões de visualizações.
Para sacramentar uma tarde de quebras de protocolo, a mesma capitã, Wambach, se negou a apertar a mão da representante da FIFA, que foi assistir à final no Canadá no lugar de Joseph Blater, mandatório maior no órgão máximo do futebol. O gesto, pensado ou não, resgata a recente discussão sobre o cenário de corrupção exposto ao mundo através de investigações da polícia americana (FBI).
O futebol, que é chamado de soccer nos Estados Unidos, vive o seu auge. A Copa do Mundo realizada em 2014 teve os americanos como os segundos maiores compradores de ingressos, com 150 mil no total. É claro que um fator determinante para a grande visualização na TV se deve ao horário que coincidiu com o horário nobre da tv americana. Entretanto, a mudança é mais profunda e atinge camadas culturais, tornando o futebol como mais uma opção no leque esportivo à disposição. Segundo a Forbes, a Fox vai pagar 425 milhões de dólares para ter o direito de retransmitir as Copas de 2018 e 2022. O valor é bem distante da “pequena” quantia de 22 milhões de dólares que a ESPN desembolsou para exibir as partidas da Copa do Mundo da França em 1998.
A estrutura americana de ter e fazer o futebol/soccer no país também se regenerou. A liga que teve um boom de exposição na época do galáctico time do Cosmos de Pelé, Carlos Alberto Torres e Beckenbauer, entre outros nomes, voltou a ser um ninho de grandes nomes do mundo do futebol. Atualmente, tanto a MLS (Major League Soccer), quanto a NASL (North American Soccer League), promovem o fluxo de jogadores reconhecidos internacionalmente como Kaká, Pirlo, David Villa, Lampard, Gerrard e Raul (este último na NASL). Em paralelo a isso, uma preocupação com a base de atletas e a renovação da liga. Tanto é que, segundo levantamento do Esporte Executivo, 58,8% dos atletas da principal liga americana (MLS), considerando todos os 20 clubes, têm 26 anos de idade ou menos. O modelo de disputa tem como base a NFL, NBA e MLB, pela divisão dos times, porém, a reforma dos estádios, vendas de ingressos com antecedência e direitos de transmissão do campeonato na Europa faz da MLS um candidato forte no futebol mundial. Isso sem contar a seleção masculina dos Estados Unidos que confia seu sucesso ao trabalho de Jurgen Klinsmann, ícone do futebol alemão, que vem a frente da seleção desde 2011.
A vitória da seleção feminina, a campanha do selecionado masculino na Copa do Mundo do Brasil em 2014 que se classificou em um chamado “grupo da morte” que contava com Alemanha, Portugal e Gana, além da forma que o futebol vem tomando no país – até o próprio logo da MLS mudou para atual temporada – evidenciam que o futebol norte-americano vem para competir em alto nível no mercado internacional e abalar, definitivamente, a hegemonia Europa-América do Sul. Enquanto isso, o futebol feminino no Brasil resiste graças à garra de nossas jogadoras. Mas é pouco. E apenas uma resistência.
* Em coautoria com Gilmar Júnior