Conversa com Adriana Behar, futura CEO da Confederação Brasileira de Voleibol
Ex-jogadora e medalhista olímpica no vôlei de praia será a primeira mulher a assumir o cargo de diretora-executiva da CBV
Publicado em 11 de março de 2021 às, 11h26.
Última atualização em 11 de março de 2021 às, 11h39.
A busca por igualdade salarial e de oportunidades para homens e mulheres é um assunto muito debatido em diferentes áreas de atuação, inclusive e com enorme necessidade, o esporte. Recentemente o setor apresentou uma novidade interessante: Adriana Behar, ex-jogadora de vôlei, foi escolhida para assumir em breve o cargo de CEO da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV). Adriana começou sua vida no esporte longe das quadras. Sua primeira paixão foi a patinação, mas aos 16 anos descobriu o amor pelo voleibol. Chegou a jogar profissionalmente na Itália e seu auge chegou quando decidiu competir no vôlei de praia. Tendo as areias como palco, formou uma dupla histórica com Shelda em 1995. Juntas, conquistaram mais de mil vitórias e 114 títulos ao longo dos anos, incluindo duas medalhas de prata nos Jogos Olímpicos de Sidney (2000) e Atenas (2004).
Em 2008, decidiu encerrar a carreira e iniciar novos desafios. Após a aposentadoria, foi nomeada para o Volleyball Hall of Fame e entrou para a Comissão de Mulheres do Comitê Olímpico Internacional (COI) e, posteriormente, para a Comissão da Mulher no Esporte do COB, Comitê Olímpico do Brasil. Assim, Adriana se tornou uma das maiores representantes da classe feminina em cargos de gestão no esporte. Agora, será a primeira mulher a atuar como CEO da CBV, entidade que regulamenta os torneios oficiais de vôlei no Brasil. “Ser a primeira mulher a ocupar um cargo de CEO na CBV é mais um grande desafio na minha vida. É uma grande oportunidade de tentar fazer algo melhor para uma comunidade inteira. É a chance de fazer do voleibol e da Confederação um ambiente ainda melhor, com um mercado ainda mais próspero para que todos os envolvidos tenham melhores possibilidades, não só hoje, mas também no futuro”, ressalta Adriana.
Ela destacou também que sua trajetória profissional tornou possível essa chegada à CBV: “Minha vida foi sempre envolvida com esporte. Depois que encerrei minha carreira como atleta, eu já era formada em educação física e resolvi voltar para os estudos. Fiz primeiro uma pós-graduação em Gestão de Negócios e depois uma MBA, também na mesma área. Foram sete anos trabalhando no COB que me permitiram entender também o outro lado do ambiente esportivo. Então eu já vivenciei os dois lados do esporte, como atleta iniciante e atleta de alto rendimento em Jogos Olímpicos, mas também na área de gestão. Acho que isso me proporcionou mais experiência e conhecimento para poder encarar novos desafios na CBV”.
Ainda é pouco comum mulheres ocuparem altos cargos de gestão no esporte. Mas esta pode ser uma realidade que terá mudanças nos próximos anos. Cada vez mais vemos populações de diferentes países em busca de maior igualdade de gênero. “Acho que, historicamente, já houve um grande avanço mas ainda existem desafios para a mulher dentro da sociedade e do cenário profissional. Espero que esse meu caminho traga e abra oportunidades para mais mulheres. É uma luta que ainda existe e infelizmente percebo que ainda existe uma quantidade pequena de mulheres em níveis de liderança, então espero que a minha ou as oportunidades de outras mulheres sejam exemplos de inspiração para que outras venham e percebam que é possível sim chegarmos em posições estratégicas”, opina a profissional.
Behar analisa também o atual cenário de oportunidades e as mudanças que já são perceptíveis: “Hoje, no esporte de alto rendimento, existe uma equiparação, uma preocupação e um cuidado com a questão da equidade, em ter o mesmo número de homens e mulheres competindo, dentro de quadra, em delegações, a mesma premiação. No passado, já vivenciei situações em que o número de equipes femininas eram menores do que as masculinas, a premiação era menor. Era muito pior. A delegação brasileira, nos últimos Jogos Olímpicos, teve em sua composição 51% homens e 49% mulheres, praticamente um empate. A competência, a dedicação e o profissionalismo não estão atrelados ao sexo, e sim às habilidades de cada um. Isso já deveria estar muito ultrapassado e acho que o esporte é uma excelente ferramenta para esse tipo de desenvolvimento humano”.
Como destacou Adriana, dentro das quadras já é possível enxergar um equilíbrio maior em relação a campeonatos e premiações. Mas em cargos de comissões técnicas e de gestão o desafio de igualdade ainda é maior. Para mudar esse cenário, ela acredita que oferecer oportunidades de capacitação é o principal a se fazer: “Todos nós precisamos estar sempre bem preparados e prontos para aproveitar as oportunidades quando elas aparecerem. É muito importante oferecermos cursos de capacitação, estudo e preparação, para que cada vez mais mulheres se sintam prontas para assumirem funções do lado de fora das quadras”.