COB prioriza inclusão e atinge marca de 55% de funcionárias mulheres
Com gerentes, diretoras e executivas, Comitê Olímpico do Brasil busca protagonismo feminino em um ambiente historicamente machista
Publicado em 8 de março de 2021 às, 16h00.
Última atualização em 8 de março de 2021 às, 19h35.
São 137 dias para os Jogos Olímpicos de Tóquio (se confirmados) e no Dia Internacional da Mulher, o esporte olímpico brasileiro apresenta números que mostram o crescimento da influência feminina dentro e fora dos ginásios e arenas. No âmbito esportivo, as mulheres rompem barreiras e conquistam espaço em diversas modalidades, atingindo um aumento gradual no número de atletas nas delegações. Nos cargos administrativos, as dificuldades foram ainda maiores, tendo em vista que o COI (Comitê Olímpico Internacional) só as admitiu nos cargos de gerência do Movimento Olímpico no ano de 1981.
A evolução é nítida. Em 1998, o COI estabeleceu a meta de 20% de mulheres em postos de comando para o ano de 2005. Em território brasileiro, atualmente, o COB (Comitê Olímpico do Brasil) possui uma equipe de colaboradores majoritariamente feminina, que representa 55% do quadro geral de funcionários.
A bandeira da igualdade tem sido levantada, e o desenvolvimento tem sido evidente não só no COB, mas em todo o movimento olímpico nacional. Recentemente, Adriana Behar, ex-jogadora de vôlei, foi escolhida para assumir o cargo de CEO da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei). Ela se tornou a primeira ex-atleta a ocupar o principal cargo executivo de uma confederação pública do país.
Foram muitas adversidades enfrentadas na história do esporte, e o fato do COB ter mais mulheres do que homens é um marco no combate à desigualdade. Dos 12 gerentes e executivos da Confederação, sete são mulheres. Nas lideranças, o cargo de Diretora Administrativa Financeira e Diretora de Comunicação e Marketing são ocupados por Isabele Duran e Manoela Penna, respectivamente.
Sobre o atual cenário olímpico, Manoela citou a importância da busca por igualdade nas decisões da instituição. “É muito importante termos a presença feminina nas mais diversas áreas e escalões da nossa instituição, é uma diretriz prioritária dentro do COB e a tendência é torná-lo, progressivamente, um comitê mais justo e igualitário. Além da questão administrativa, o desempenho esportivo das atletas Brasileiras tem sido excelente. A cada competição disputada isso se torna mais evidente” contou a diretora, lembrando que nos Jogos Olímpicos de 2016, 209 atletas mulheres estiveram presentes, batendo o recorde de presença de brasileiras no maior evento esportivo mundial.
Ações inclusivas, com o objetivo de aumentar a representatividade feminina no esporte olímpico brasileiro, têm sido feitas com frequência pelo COB. O comitê foi finalista no prêmio “Mulheres e o Esporte (Women and Sport)” na edição de 2020, em homenagem realizada pelo COI. O evento tem a finalidade de condecorar organizações e indivíduos que realizaram, por meio de ações de empoderamento feminino, contribuições para o desenvolvimento, incentivo e apoio da participação de mulheres e meninas no esporte.
No ano passado, a entidade disponibilizou, por meio do Instituto Olímpico Brasileiro (IOB), um curso gratuito com o tema “Prevenção e Enfrentamento do Assédio e Abuso no Esporte”. O projeto foi oferecido em duas versões, adulto, voltado para atletas, treinadores, membros de organizações esportivas e todos os agentes envolvidos no esporte olímpico; e para jovens, atletas de 12 a 17 anos.
História dos Jogos Olímpicos e as conquistas femininas
Os Jogos Olímpicos da Era Moderna se iniciaram em 1896, em Atenas, na Grécia, com 245 atletas de 14 países, todos homens. Os registros apresentam a participação feminina apenas a partir de 1900, todavia, apenas em 1936 elas foram incluídas oficialmente como atletas olímpicas e passaram a receber medalhas. Na competição disputada em Atenas, no ano de 2004, pela primeira vez foi visto um número próximo à igualdade entre os atletas olímpicos: 40,7% dos participantes eram do gênero feminino. Na delegação brasileira, o número chegou a quase 50%, comprovando a evolução e o crescimento da presença feminina no esporte.
A primeira atleta brasileira a representar o Brasil na competição foi Maria Lenk, que competiu nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1932, se tornando a primeira sul-americana a participar de uma edição. Aos 17 anos, ela competiu pela natação e disputou três provas: 100m livre, 100m costas e 200m peito.
Analisando o contexto político nacional, as atletas enfrentaram obstáculos que tornam o prestígio feminino no campo olímpico digno de comemoração. Após os Jogos Olímpicos de 1936, em que a equipe nacional contou com quatro mulheres na delegação, o país enfrentou um momento político delicado, de proibições e movimentos segregatórios no esporte feminino brasileiro.
Dessa maneira, nos Jogos de Tóquio, em 1964, houve um retrocesso na delegação nacional, e só uma mulher representou o Brasil: Aida dos Santos. A atleta viajou sem técnico, tênis e uniforme, mas, mesmo assim, conseguiu o 4º lugar no salto em altura, atingindo o melhor resultado no esporte olímpico feminino brasileiro. A marca só foi superada anos depois, quando Jacqueline e Sandra conquistaram medalhas de ouro, e Mônica Rodrigues e Adriana Samuel ficaram com a prata no vôlei de praia, em 1996, em Atlanta. Dois ciclos olímpicos depois, em 2008, na cidade de Pequim, a judoca Ketleyn Quadros conquistou a primeira medalha individual feminina para o país, ficando com o bronze. Poucos dias depois, Maurren Maggi, no salto em distância, levou a primeira medalha de ouro olímpica individual das mulheres.
A reivindicação por igualdade e conscientização acerca do papel de protagonista desempenhado por mulheres na sociedade industrializada do final do século XIX e ao decorrer do século XX era também refletida no esporte.
Nos Jogos Olímpicos de 1996, 68 atletas mulheres representaram o Brasil. Em 2016, 20 anos depois, no Rio de Janeiro, houve um crescimento de 307% nesse número, com a classificação recorde de 209 brasileiras para a disputa. Neste mesmo período de duas décadas, elas conquistaram sete medalhas de ouro, sete de prata e 14 medalhas de bronze. Dos 13 bicampeões olímpicos pelo Brasil, seis são mulheres: Paula Pequeno, Jaqueline, Fabi, Thaisa, Sheilla e Fabiana, todas do vôlei.
Para os Jogos Olímpicos de Tóquio, adiado em um ano pela pandemia do Covid-19 e atualmente confirmado para o dia 23 de julho de 2021, a delegação brasileira já possui 180 atletas classificados. A lista qualificatória segue aberta e as vagas serão preenchidas nos próximos meses. A tendência é que, assim como nas edições anteriores, a quantidade de atletas do masculino e do feminino seja equivalente.