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Os eventos esportivos devem continuar em época de coronavírus?

O Esporte é um negócio bilionário. Mas chegamos a uma situação limite sobre a conituinidade ou não diante de um virús globalmente combatido.

Jogo sem torcida na Itália: medidas para conter o coronavírus levaram à paralisação de campeonatos pelo mundo (UEFA/Handout/Reuters)
Jogo sem torcida na Itália: medidas para conter o coronavírus levaram à paralisação de campeonatos pelo mundo (UEFA/Handout/Reuters)
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Vinicius Lordello — Esporte Executivo

Publicado em 11 de março de 2020 às, 08h49.

Última atualização em 11 de março de 2020 às, 10h10.

Há uma intensa discussão atualmente sobre a manutenção das competições esportivas mundo afora. Inicialmente se com ou sem a presença do pública. Na sequência, sobre sua continuidade em si. Vejamos o cenário para os Jogos Olímpicos de 2020. Embora o presidente da entidade, Thomas Bach, afirme que a possibilidade de adiamento do evento sequer tenha sido pelo Comitê Executivo do COI na última semana, o pensamento do Comitê local já parece caminhar em direção contrária.

Nesta terça-feira (10), Haruyuki Takahashi, membro da Tóquio 2020, defendeu em entrevista ao "Wall Street Journal" que caso Olimpíada seja adiada – ou seja, hipótese já oficialmente cogitada -, que seja para 2021 ou 2022. Garantiu ainda que o Comitê dos Jogos analisa medidas para debater na próxima reunião, no fim de março. O impacto da mudança é tamanha que reduziria crescimento anual do PIB do Japão em 1,4%, segundo estimativas.

Takahashi afirmou que o dano financeiro ao cancelar a Olimpíada ou promovê-la sem a presença de espectadores seria grande demais. O GloboEsporte trouxe, com base no relatório da "SMBC Nikko Securities Inc.", a estimativa de que a Olimpíada criaria demanda através do consumo de espectadores e da realização de eventos esportivos de um total de 29 bilhões de reais.

Mas, saindo do principal evento esportivo do ano, o que fazer com as competições tradicionais, que acontecem anualmente? O que fazer com as Ligas norte-americanas, como a global NBA? Com a Champions League? Os campeonatos das mais diversas modalidades nacionais? As competições italianas, agora suspensas, vinham sendo disputadas para ninguém em suas dependências.

A organização da NBA enviou uma cartilha para as franquias falando sobre a possibilidade da realização de jogos com seus ginásios permitindo a entrada apenas de pessoas imprescindíveis para a realização do jogo. Ou seja, sem o público. Os donos das franquias, em sua maioria, reagiram negativamente. Querem e precisam do público nos ginásios. Lebron James, ícone da modalidade, cravou que não vai jogar sem público: “Eu jogo pelos meus companheiros de equipe e pelos fãs. É disso que se trata. Se eu aparecer em uma arena e não houver fãs lá dentro, eu não vou jogar. Eles podem fazer o que quiserem”.

E é exatamente sobre isso que se trata. A roda gira e movimenta bilhões de dólares mundo esportivo afora. Mas para quem ela roda? Os negócios são importantíssimos e, claro, os fãs também estarão do outro lado da tela acompanhando o que acontece.  Mas esse é o esporte que queremos ver sendo jogado? Nesta semana, o comentarista da ESPN, Leonardo Bertozzi foi cirúrgico ao observar o tema: “saúde deve ser prioridade e os interesses comerciais não devem ser mais importantes que a saúde das pessoas". Não se trata de mocinho e vilão. Não se trata de ser purista em relação à sociedade. O fato é que o esporte é, em sua essência, entretenimento. Entretenimento que pode custar uma contaminação em massa, mesmo com a “baixa” taxa de letalidade de 3,4%, não é entretenimento. Esporte é um negócio, claro. Mas versa sobre vidas e inspiração, não sobre mortes e contaminação.