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Quando se olha o Brasil com uma visão positiva, dá vontade de empreender, diz fundador da Mondial

Giovanni Marins Cardoso construir uma marca do zero e torná-la líder no mercado brasileiro de eletroportáteis

Giovanni Marins Cardoso: quando se olha o Brasil com uma visão positiva, dá vontade de empreender
Cris Arcangeli

CEO da beuty'in

Publicado em 27 de fevereiro de 2024 às 13h30.

Hoje temos “O” tubarão, aquele que conseguiu construir uma marca do zero e torná-la líder no mercado brasileiro de eletroportáteis, com uma das maiores fábricas de eletroportáteis do mundo: a Mondial. Giovanni inspira todos os empreendedores que adoram conhecer histórias de sucesso de quem também começa do zero.

Quem é o Giovanni?

Sou fundador da Mondial Eletrodomésticos, grupo que hoje tem várias marcas. Nasci na cidade de Palmas, no Paraná. Pai comerciante, mãe professora. Trabalhei desde os 10 anos no comércio do meu pai, pagando fornecedores, atendendo clientes, o que me deu algum traquejo desde pequeno. Sempre tive vontade de mudar de cidade em busca de um curso superior; então, aos 16 anos fui fazer cursinho em Curitiba. Prestei vestibular para engenharia elétrica na Federal de Florianópolis e na Universidade Mackenzie, em São Paulo. Passei em ambas, mas escolhi São Paulo, pois tinha o sonho de estudar e trabalhar numa grande metrópole.

Depois da faculdade fiz um estágio na área de motores da Siemens e trabalhei numa empresa americana, que foi vendida para o grupo francês Molineux que, na época, estava entrando no Brasil. Fiz algumas viagens para a França, visitei fábricas, clientes e entendi como era o mercado internacional. Foi assim que aprendi a ver o Brasil pelo lado das oportunidades.

Meu DNA queria construir algo pelo Brasil. Desenvolvi meu projeto, convidei um conhecido, especialista na área financeira, Alberto Baggiani, que é meu sócio até hoje, para participar e assim começarmos.

De onde você tirou o nome Mondial?

O nome Mondial veio das minhas viagens para a França, onde vi vários estabelecimentos restaurantes, hotéis com o nome Mondial. Para mim era uma marca que impactava. No início contei com o meu conhecimento do pessoal do varejo, para colocar os produtos no mercado.

Eu nasci pequeno com cabeça de grande, fazendo tudo como precisava ser feito: um bom projeto, foco na qualidade, produtos bem desenhados, objetivos bem traçados. Apliquei todo o

meu conhecimento na empresa e fomos crescendo: começamos com um ventilador, depois veio um liquidificador, um espremedor de frutas e mais alguns produtos. Pagamos todas as contas e chegamos ao final do primeiro ano com um faturamento de 9 milhões. Hoje temos cerca de 40% de um mercado de 80 milhões de unidades. A base de tudo foi acreditar no Brasil, um país enorme, com muita gente, mercado e oportunidades.

Daí foi só crescimento, pelo jeito.

Mudamos a fábrica para a Bahia, os clientes continuaram a nos prestigiar, fomos trabalhando e crescendo por acreditar no Brasil. Hoje temos mais de 460 produtos e 5.400 funcionários. São mais de 30 mil pessoas envolvidas indiretamente e um faturamento anual de 5 bilhões de reais. Somos a maior empresa de portáteis do mundo, fora a China. A fábrica da Bahia tem 160 mil metros quadrados, empregamos 4.000 funcionários da cidade de Conceição do Jacuípe – que tem 7 mil pessoas ativas, ou seja, 57% dessa população. Nosso critério para escolher o terreno da fábrica foi justamente estarmos próximos a uma cidade pequena, que nós adotaríamos e seríamos adotados por ela. As pessoas se sentem parte do processo.

Sem dúvida o Brasil é um país de grandes oportunidades, que tem minério, petróleo, um agro incrível, um povo maravilhoso, uma indústria impressionante.

O Brasil tem hoje 214 milhões de pessoas, é maior que a Alemanha, a França e a Itália juntas. Vários países da Europa são menores que alguns estados brasileiros. Nos últimos 10 anos, foram construídas em nosso país 1.440.000 novas casas por ano, enquanto o Japão, por exemplo, fecha 200.000 casas por ano.

Essas casas brasileiras possuem muitas tomadas esperando eletrodomésticos. Por isso, temos que olhar o Brasil pela visão do copo meio cheio. Temos falta de infraestrutura, alta taxa de desemprego, baixo crescimento, mas também temos um número grande de habitantes, ampla extensão territorial, falamos um único idioma, 78 milhões de residências com energia elétrica, canais de distribuição de vendas e e-commerce, muita gente jovem crescendo e alimentando esse mercado.

Quando se olha para o Brasil com essa visão positiva, dá vontade de empreender, de fazer, de arriscar, pois o país tem muitas oportunidades. Mas é preciso trabalhar, fazer direito, ser focado no essencial, ter disciplina, ter boa gestão, ter seu core business com produtos bem desenvolvidos, qualificados, um bom design e vender bem.

Hoje a Mondial é considerada a melhor empresa do setor por nove entre 10 clientes e fazemos nosso trabalho com o coração desde o início. Recentemente olhei nosso primeiro catálogo, feito em janeiro do ano 2000 e ele é super atual, é o que continuamos praticando hoje. O foco, o serviço, são os mesmos desde quando o faturamento era de R$ 9 milhões, mesmo agora, quando faturamos R$ 5 bilhões. A nossa é uma empresa que vai da prática à teoria: nasceu do mercado para dentro e criou uma cultura para se adaptar ao varejo e aos clientes.

Fizemos um trabalho muito forte de desenvolvimento de marca a partir de 2018, quando estávamos no meio do ranking. Hoje somos top, número 1 no Brasil, graças a uma consistência muito forte em comunicação, com embaixadores conectados com a realidade, como o Rodrigo Hilbert na linha de cozinha, a Juliette na área de cuidados pessoais e, agora, a Sabrina Sato para a AIWA. Com isso os consumidores percebem que nossa intenção é realização.

Você colocou o Brasil no mapa, com a maior fábrica de portáteis fora da China.

Sim, temos mais de 5 mil colaboradores. Também compramos a fábrica da Sony, em Manaus, em 2021. A Sony praticamente nos escolheu para essa compra pelo nosso jeito de trabalhar. Toda a equipe ficou conosco: eram 222 funcionários, ficaram 218 e hoje são 700, ou seja, fizemos uma grande expansão da empresa. Atualmente produzimos, nessa moderna fábrica, os eletrônicos standard com a marca Mondial e eletrônicos premium com a marca AIWA.

Quantos pontos de venda você tem no total?

Temos mais de 40 mil, fora o e-commerce, marketplaces e outros. São mais de 250 promotores próprios e outros 200 temporárias nos pontos de venda levando nossa mensagem e fazendo treinamentos. Trabalhamos tanto o canal físico como o digital, que hoje representa 32% do nosso negócio. Mas o forte são as lojas físicas, porque o brasileiro é muito sinestésico.

Tem coisa melhor do que desenvolver um produto e ver as pessoas usando?

O Brasil tem 78 milhões de residência com eletricidade e nós temos, em média, quatro produtos por casa. É uma sensação fantástica: temos mais de 400 produtos em linha e participei do desenvolvimento de todos. Ao todo a Mondial tem 68 engenheiros no Brasil e mais de 10 na China, sempre focados na solução, porque todo mundo tem problemas e precisamos resolver todos, sempre com uma visão positiva do Brasil.

Você acha que quem ganha a guerra é a estratégia?

Desde que junto com a execução. Primeiro é preciso ter uma visão positiva que dê motivação; depois, a capacidade de entender os problemas, sintetizar, simplificar e implementar. Fábrica a gente manda fazer, máquina a gente compra, mas quem toca o trabalho são as pessoas, que precisam ter uma cultura da empresa, porque assim todo mundo vibra. Isso é básico, mas não é simplista, porque toda execução precisa ter um fundamento de conhecimento e uma estratégia, desde que com capacidade de execução e implementação. Não adianta começar e não terminar.

Alguma coisa deu errado e você aprendeu para não fazer mais?

Há 10 anos lancei uma linha de secadores de cabelos para profissionais, com toda uma expectativa. Só que o profissional precisa de um outro tipo de trabalho: não bastava colocar em pontos de varejo tradicionais. Para conquistar a categoria teria que implementar venda porta a porta, montar uma escola de cabelereiros, por exemplo. Pensei até em ir para esse lado, mas concluí que iria gastar muito para ganhar pouco. Fui e voltei. Hoje só entro onde sei que consigo ir e tudo o que fazemos precisa ter pay back.

Qual é o próximo produto da vez?

Vamos lançar duas linhas de produtos com as quais ainda não trabalhamos, mas ainda é cedo para falar, até por uma questão estratégica. Também estamos ampliando as linhas atuais, como o lançamento da Air Fryer Oven a primeira feita no Brasil e essa é uma categoria que vai crescer muito.

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Hoje temos “O” tubarão, aquele que conseguiu construir uma marca do zero e torná-la líder no mercado brasileiro de eletroportáteis, com uma das maiores fábricas de eletroportáteis do mundo: a Mondial. Giovanni inspira todos os empreendedores que adoram conhecer histórias de sucesso de quem também começa do zero.

Quem é o Giovanni?

Sou fundador da Mondial Eletrodomésticos, grupo que hoje tem várias marcas. Nasci na cidade de Palmas, no Paraná. Pai comerciante, mãe professora. Trabalhei desde os 10 anos no comércio do meu pai, pagando fornecedores, atendendo clientes, o que me deu algum traquejo desde pequeno. Sempre tive vontade de mudar de cidade em busca de um curso superior; então, aos 16 anos fui fazer cursinho em Curitiba. Prestei vestibular para engenharia elétrica na Federal de Florianópolis e na Universidade Mackenzie, em São Paulo. Passei em ambas, mas escolhi São Paulo, pois tinha o sonho de estudar e trabalhar numa grande metrópole.

Depois da faculdade fiz um estágio na área de motores da Siemens e trabalhei numa empresa americana, que foi vendida para o grupo francês Molineux que, na época, estava entrando no Brasil. Fiz algumas viagens para a França, visitei fábricas, clientes e entendi como era o mercado internacional. Foi assim que aprendi a ver o Brasil pelo lado das oportunidades.

Meu DNA queria construir algo pelo Brasil. Desenvolvi meu projeto, convidei um conhecido, especialista na área financeira, Alberto Baggiani, que é meu sócio até hoje, para participar e assim começarmos.

De onde você tirou o nome Mondial?

O nome Mondial veio das minhas viagens para a França, onde vi vários estabelecimentos restaurantes, hotéis com o nome Mondial. Para mim era uma marca que impactava. No início contei com o meu conhecimento do pessoal do varejo, para colocar os produtos no mercado.

Eu nasci pequeno com cabeça de grande, fazendo tudo como precisava ser feito: um bom projeto, foco na qualidade, produtos bem desenhados, objetivos bem traçados. Apliquei todo o

meu conhecimento na empresa e fomos crescendo: começamos com um ventilador, depois veio um liquidificador, um espremedor de frutas e mais alguns produtos. Pagamos todas as contas e chegamos ao final do primeiro ano com um faturamento de 9 milhões. Hoje temos cerca de 40% de um mercado de 80 milhões de unidades. A base de tudo foi acreditar no Brasil, um país enorme, com muita gente, mercado e oportunidades.

Daí foi só crescimento, pelo jeito.

Mudamos a fábrica para a Bahia, os clientes continuaram a nos prestigiar, fomos trabalhando e crescendo por acreditar no Brasil. Hoje temos mais de 460 produtos e 5.400 funcionários. São mais de 30 mil pessoas envolvidas indiretamente e um faturamento anual de 5 bilhões de reais. Somos a maior empresa de portáteis do mundo, fora a China. A fábrica da Bahia tem 160 mil metros quadrados, empregamos 4.000 funcionários da cidade de Conceição do Jacuípe – que tem 7 mil pessoas ativas, ou seja, 57% dessa população. Nosso critério para escolher o terreno da fábrica foi justamente estarmos próximos a uma cidade pequena, que nós adotaríamos e seríamos adotados por ela. As pessoas se sentem parte do processo.

Sem dúvida o Brasil é um país de grandes oportunidades, que tem minério, petróleo, um agro incrível, um povo maravilhoso, uma indústria impressionante.

O Brasil tem hoje 214 milhões de pessoas, é maior que a Alemanha, a França e a Itália juntas. Vários países da Europa são menores que alguns estados brasileiros. Nos últimos 10 anos, foram construídas em nosso país 1.440.000 novas casas por ano, enquanto o Japão, por exemplo, fecha 200.000 casas por ano.

Essas casas brasileiras possuem muitas tomadas esperando eletrodomésticos. Por isso, temos que olhar o Brasil pela visão do copo meio cheio. Temos falta de infraestrutura, alta taxa de desemprego, baixo crescimento, mas também temos um número grande de habitantes, ampla extensão territorial, falamos um único idioma, 78 milhões de residências com energia elétrica, canais de distribuição de vendas e e-commerce, muita gente jovem crescendo e alimentando esse mercado.

Quando se olha para o Brasil com essa visão positiva, dá vontade de empreender, de fazer, de arriscar, pois o país tem muitas oportunidades. Mas é preciso trabalhar, fazer direito, ser focado no essencial, ter disciplina, ter boa gestão, ter seu core business com produtos bem desenvolvidos, qualificados, um bom design e vender bem.

Hoje a Mondial é considerada a melhor empresa do setor por nove entre 10 clientes e fazemos nosso trabalho com o coração desde o início. Recentemente olhei nosso primeiro catálogo, feito em janeiro do ano 2000 e ele é super atual, é o que continuamos praticando hoje. O foco, o serviço, são os mesmos desde quando o faturamento era de R$ 9 milhões, mesmo agora, quando faturamos R$ 5 bilhões. A nossa é uma empresa que vai da prática à teoria: nasceu do mercado para dentro e criou uma cultura para se adaptar ao varejo e aos clientes.

Fizemos um trabalho muito forte de desenvolvimento de marca a partir de 2018, quando estávamos no meio do ranking. Hoje somos top, número 1 no Brasil, graças a uma consistência muito forte em comunicação, com embaixadores conectados com a realidade, como o Rodrigo Hilbert na linha de cozinha, a Juliette na área de cuidados pessoais e, agora, a Sabrina Sato para a AIWA. Com isso os consumidores percebem que nossa intenção é realização.

Você colocou o Brasil no mapa, com a maior fábrica de portáteis fora da China.

Sim, temos mais de 5 mil colaboradores. Também compramos a fábrica da Sony, em Manaus, em 2021. A Sony praticamente nos escolheu para essa compra pelo nosso jeito de trabalhar. Toda a equipe ficou conosco: eram 222 funcionários, ficaram 218 e hoje são 700, ou seja, fizemos uma grande expansão da empresa. Atualmente produzimos, nessa moderna fábrica, os eletrônicos standard com a marca Mondial e eletrônicos premium com a marca AIWA.

Quantos pontos de venda você tem no total?

Temos mais de 40 mil, fora o e-commerce, marketplaces e outros. São mais de 250 promotores próprios e outros 200 temporárias nos pontos de venda levando nossa mensagem e fazendo treinamentos. Trabalhamos tanto o canal físico como o digital, que hoje representa 32% do nosso negócio. Mas o forte são as lojas físicas, porque o brasileiro é muito sinestésico.

Tem coisa melhor do que desenvolver um produto e ver as pessoas usando?

O Brasil tem 78 milhões de residência com eletricidade e nós temos, em média, quatro produtos por casa. É uma sensação fantástica: temos mais de 400 produtos em linha e participei do desenvolvimento de todos. Ao todo a Mondial tem 68 engenheiros no Brasil e mais de 10 na China, sempre focados na solução, porque todo mundo tem problemas e precisamos resolver todos, sempre com uma visão positiva do Brasil.

Você acha que quem ganha a guerra é a estratégia?

Desde que junto com a execução. Primeiro é preciso ter uma visão positiva que dê motivação; depois, a capacidade de entender os problemas, sintetizar, simplificar e implementar. Fábrica a gente manda fazer, máquina a gente compra, mas quem toca o trabalho são as pessoas, que precisam ter uma cultura da empresa, porque assim todo mundo vibra. Isso é básico, mas não é simplista, porque toda execução precisa ter um fundamento de conhecimento e uma estratégia, desde que com capacidade de execução e implementação. Não adianta começar e não terminar.

Alguma coisa deu errado e você aprendeu para não fazer mais?

Há 10 anos lancei uma linha de secadores de cabelos para profissionais, com toda uma expectativa. Só que o profissional precisa de um outro tipo de trabalho: não bastava colocar em pontos de varejo tradicionais. Para conquistar a categoria teria que implementar venda porta a porta, montar uma escola de cabelereiros, por exemplo. Pensei até em ir para esse lado, mas concluí que iria gastar muito para ganhar pouco. Fui e voltei. Hoje só entro onde sei que consigo ir e tudo o que fazemos precisa ter pay back.

Qual é o próximo produto da vez?

Vamos lançar duas linhas de produtos com as quais ainda não trabalhamos, mas ainda é cedo para falar, até por uma questão estratégica. Também estamos ampliando as linhas atuais, como o lançamento da Air Fryer Oven a primeira feita no Brasil e essa é uma categoria que vai crescer muito.

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