Não é só o que você sabe que muda sua vida, é quem você conhece
Filipe Trindade é CEO do @Knowhow_club, um dos maiores clubes de empreendedores do Brasil
CEO da beuty'in
Publicado em 1 de setembro de 2023 às 11h28.
Este Papo de Tubarões traz uma pessoa muito especial, um amigo que fiz em 2019 e que tem um network incrível. Em 2015, ele ganhou um prêmio como Jovem Empreendedor. Filipe Trindade é CEO do @Knowhow_club, um dos maiores clubes de empreendedores do Brasil e também foi o primeiro jurado brasileiro no reality show da Sony International, o “Meet the Drapers”, no qual tive o prazer de fazer uma participação especial durante o Web Summit Rio.
Quem é o Filipe?
Para começar, eu sempre fui o pior aluno da escola, fiquei de recuperação da primeira série até a faculdade, porque não me encaixava naquele modelo padrão de ir para a escola e fazer uma faculdade. Para mim não fazia sentido. A sociedade pressiona a termos uma formação, mas eu não me adaptava, sentia que deveria existir algo a mais. Acredito que as coisas só fazem sentido quando vemos a necessidade delas. Outro ponto foi o diagnóstico de TDAH, que tive bem cedo na vida. Juntou tudo: não ter a clareza, quando jovem, do que queria fazer, mas querendo fazer algo grande e me encontrar durante esse processo. Não queria fazer concurso público, meu pai teve uma empresa e me encorajou muito, foi meu grande mentor e me dizia para fazer o que eu quisesse, que me encontrasse. Em 2011, com 22 anos, me encontrei no empreendedorismo, mas a primeira experiência foi uma tragedia: comprei um restaurante falido, dei meu carro e uma diferença em dinheiro, terminei de quebrar dois anos depois. O negócio deu errado porque eu não tinha a mentalidade certa, achava que ser dono é ficar atrás do balcão e esperar o cliente chegar, não precisava ter habilidade técnica, nem ir atrás, fuçar. Empreender sem conhecimento de gestão, sem a mentalidade certa, sem pessoas certas para incentivar a ser melhor e poder agregar valor, é quebra na certa.
Conversei com meu pai, ele me incentivou a seguir em frente e fui entrando em vários negócios que também não deram certo. Quando levei um fora de uma namorada um pouco mais velha, que já era médica, entendi que eu era inseguro, fazia besteiras e que não queria mais aquele tipo de vida, precisava me desenvolver. Troquei de amizades, saí de Campo Grande, onde a vida era mais pacata, sem tanta competição, segui o exemplo de um amigo e vim para São Paulo em 2015. Daí comecei a fazer outros negócios e acabei criando a Redetvbox Franchising, que atua no segmento digital indoor e me fez entender o poder das parcerias, de fazer permutas, trocas, uma coisa que faço bem hoje. Essa empresa foi ampliada para 35 cidades e foi assim que ganhei o prêmio de jovem empreendedor.
Foi aí que você acertou?
Acertei, mas não foi o que me fez explodir para o mundo. Na época da Tvbox, eu queria aumentar o funil de vendas e pensei em fazer jantares com palestrantes. Você tem muito a ver com isso, Cris. Em 2017, quando começou o Shark Tank, eu estava com meu pai em Campo Grande e decidi que vocês precisavam me conhecer, eu precisava fazer alguma coisa em relação a isso, tinha que dar um jeito de conhecer vocês. Fiquei agoniado, num sentido positivo, e tive a ideia de fazer um evento com a presença de algum dos Shark, você ou o Robinson Shiba, do China in Box. Coincidentemente, o filho de um dos meus sócios estudou no Canadá com o filho do Shiba em 2009. Retomei contato com ele, entrei em contato com o filho do Shiba, que nos incentivou a ir em frente e sugeri que ele falasse para o pai fazer Meu Shark Minha Vida. Começamos com 5 mil reais, cada sócio deu 1.250 de aporte, fomos pagando parcelado, vendemos convites, dizendo que estávamos levando o mundo para Campo Grande, levantando patrocínios e, em 54 dias, fizemos um evento com mil pessoas tendo o Shiba como âncora e assim começamos a descobrir o mercado, como se faziam eventos, parcerias. Tivemos muitos patrocinadores e adquirimos uma habilidade que pouca gente tem, até em nível mundial, de como triangular interesses, trazer patrocinadores para projetos. Posso dizer que o nosso know -how foi começar sem dinheiro.
Daí o projeto tomou corpo e começamos a desenvolver o negócio. Em 2017 fui para o Vale do Silício, onde havia feito o high school, visitei empresas, aceleradoras e, em 2018, cheguei à Draper, do magnata Tim Draper, um dos sócios investidores do Elon Musk e cuja família criou o Vale do Silício e inventou o capitalismo de risco, com a família Rockfeller.
Você me apresentou o Tim Draper num evento seu no Rio de Janeiro. Eu já conheci muita gente, distribuí 28 marcas internacionais, conheci os donos de todas elas, mas nunca encontrei alguém tão simpático, humilde e de boa como ele.
Acredito muito em energia, a gente tende a atrair pessoas com campo sistêmico similar ao nosso. Foi no Vale do Silício que começou realmente a minha jornada: quando vi o Tim Draper num reality da Sony International, mandei um e-mail, me receberam como se eu fosse um aluno da própria Draper University e decidi que um dia iria estudar lá. Aí eu soube que a Draper estava expandindo para o mundo inteiro e contei que tinha um evento no Brasil. Ou seja, entendi a necessidade, tinha meu evento, acreditei nele, tinha o material, a habilidade certa de comunicação, o timing certo, fora a vantagem de falar o idioma deles. Acredito que a gente tem que fazer, independente de saber se vai dar certo ou não. Naquela época também fiz uma reflexão que me acompanhou para sempre: eu não teria meus pais para sempre; meu pai, inclusive, faleceu em 2021. As pessoas vivem no automático, sem ter consciência da finitude da vida. Meu senso de urgência aumentou. Tudo o que faço hoje é com mais intensidade e mais gana.
No evento de 2019 a Draper me colocou em contato com a Gina Kloes, investidora anjo, advogada, grande empresária de real state na Califórnia e trainer da equipe do Tony Robbins. Fizemos uma reunião on line, ela veio participar do nosso projeto em Campo Grande, gostou do modelo de negócios do Clube de Empreendedorismo e disse que tínhamos que ir para o Vale do Silício. Veio a pandemia, parou tudo, perdi meu pai, retomei em 2021, falei com a Gina - que hoje é minha madrinha -, ela me disse que a vida precisa seguir e contou que eu havia ganhado uma bolsa para estudar na Draper University. Fui para os EUA quando o país estava abrindo na pandemia, morei lá de junho a novembro e convivi com o Tim. Muta gente me pergunta como se faz para criar relacionamentos e eu cito a Fórmula da Amizade, criada por um ex-agente do FBI, Jack Schafer, que é um dos autores do livro “Manual da Persuasão”. Ele diz que essa fórmula depende de frequência, duração, doação e intensidade. Quando você entende essa mecânica de gerar valor para as pessoas, atendê-las, saber escutar, a coisa flui, porque cria uma habilidade de comunicação, de se relacionar.
Foi o que aconteceu. Convivi com o Tim, entendi todo o ecossistema do Vale do Silício, vi como tudo funciona, quem são os big players e quem está num processo de expansão. E procurei mostrar que sou a pessoa certa para gerar valor para eles. Tive que abrir caminhos, porque muitos brasileiros foram lá, prometeram muito e não fizeram nada.
Infelizmente existem muitos brasileiros que atrapalham o caminho e isso gera um pouco de preconceito.
Quando você vive nos Estados Unidos, sabe. Mas precisamos cumprir nosso papel para reverter essa fama ruim. Já existem muitos brasileiros trabalhando bem e sendo reconhecidos.
Nesse processo todo, fiz um pitch em inglês para o Tim Draper diante de vários investidores sem ele saber, inclusive, que eu tinha na parede do meu escritório um grafite dele junto com o Elon Musk, o Steve Jobs e a Gina. Foi com essa imagem que finalizei meu pitch e por conta disso, ele viu em mim uma energia diferente e decidiu vir para Campo Grande. Começamos então a estreitar relações, desenvolver várias iniciativas e gerar valor. No ano passado, antes de vir para o Brasil, ele foi visitar o presidente do Chile e, dois dias antes do evento em que seria o palestrante âncora, caiu de um cavalo e quebrou uma costela. Ficou 20 dias internado num hospital do Chile e descobriu um tumor que não sabia que existia. Então, se não fosse a vinda para o Brasil e o cavalo, provavelmente ele não estaria entre nós. E ele é muito grato a isso.
Mais tarde voltei para os Estados Unidos e ele me nomeou como jurado e conselheiro brasileiro no Meet the Drapers, um reality show mundial transmitido pela Sony International para 100 países. Gravei o programa em maio e minha vida mudou. Comecei a viajar com ele pelo mundo, a gravar os programas e, de repente, entrei no networking dos bilionários mundiais, de políticos e líderes. É uma loucura!
Essas experiências servem para expandir ainda mais a mente, não é?
Sim. Convivendo com esses caras, percebi que eu estava a uma pessoa do homem mais rico do mundo, o Elon Musk. Uma loucura. Aprendi muito e entendi que essas pessoas são extremamente generosas, querem servir, ajudar. O problema do Tim não é dinheiro ou parecer rico, porque é rico de verdade. Ele quer servir, porque já tem tudo o que queria.
É louco quando você olha para ele, com seu terno mal cortado, um sapato surrado, uma mala de mão toda amarrada com cordas, a rodinha quebrada. Uma pessoa que se você vir na rua, não dá 5 reais. Aí às vezes você vai para alguns lugares em que os caras andam de Porsche, esnobando, mas não têm um real na conta bancária. Quem tem dinheiro de verdade não precisa mostrar que tem. Lembra do Antônio Ermírio de Moraes?
Isso é uma coisa que aprendi com ele. Convivendo com essas pessoas em nível mundial, vi que são muito simples e aprendo cada vez mais com a maneira deles pensarem, agirem. Afinal, tubarão anda com tubarão. Para mim é uma honra conviver com uma pessoa dessas e ainda ter a oportunidade de aprender.
Eu gosto de uma frase que o Steve Jobs falou quando estava doente: que todos os dias, quando acordava, se olhava no espelho e pensava: se eu fosse morrer hoje ou amanhã, faria o que vou fazer hoje? Esse pensamento mexe muito com a gente, porque percebemos que existem coisas que não gostamos, não precisamos, não deveríamos ou que talvez não valem a pena fazer, que são uma perda de tempo, uma coisa preciosa que não volta.
Vou te dar um insight: pessoas que têm essa visão operam num grau de consciência diferente. Poderoso. Muitas pessoas nem têm consciência disso, simplesmente vivem. Mas à medida em que você vai tendo experiências na vida, boas ou ruins, começa a operar num outro grau de consciência. É difícil uma pessoa que não ganha dinheiro entender o que estamos falando agora, porque ela acha que vai resolver todos os problemas se ganhar dinheiro. Não vai. Dinheiro ajuda muito, melhora muito algumas coisas, mas outras não. Não compra saúde, paz. Quanta gente ganha um mundo de dinheiro e não dorme? Eu cheguei a perguntar ao Tim o que realmente importava para alguém como ele, que tem todo dinheiro do mundo e ele respondeu: Servir. O jato em que ele viaja não é vaidade, é instrumento de trabalho. E ele serve, gosta de servir, opera num grau de consciência diferente. Faz parte pensar em status, poder, reconhecimento, mas é uma fase até você começar a entender a importância de outros valores como, por exemplo, família. O reality Meet de Drapers é isso, tem o pai dele, a irmã, às vezes chama a filha. É um programa incrível e mostra a importância de poder investir em empresas, ajudar empreendedores. Isso é muito nobre.
Quantas pessoas você impacta por ano nos seus eventos?
Este ano vai dar umas 50, 60 mil. E agora estamos entrando num processo de escala internacional: ano que vem vamos fazer eventos no Vale do Silício, em Santiago, no México. Se alguém falasse isso para mim há alguns anos eu diria que era impossível, mas acabei entendendo o que é o negócio. De um ponto de vista sistêmico, tenho vários pontos de similaridade com todas as pessoas mundo com quem tenho afinidade. Por exemplo, gravei em Los Angeles com o Anderson Silva e descobri que ele é extremamente espiritualizado. Com o tempo a gente começa a entender padrões de pessoas com quem tem afinidade a partir de uma mesma energia. Nós, empreendedores, agregamos valor compartilhando com pessoas e quando temos contato com grandes celebridades, empreendedores, vemos que são seres humanos. É importante entender que não estamos aqui para sempre, é o propósito é realizar.
Como é esse networking internacional? O que agregou, o que você vai fazer?
Já ouvi falar que habilidade de vendas e comunicação em geral são as principais habilidades de um empreendedor. Concordo e vou mais além: quando você entende o networking, para que serve, como fazer, é uma questão de tempo para chegar onde quer, seja lá qual for seu target. Entendi que o networking vai me trazer os sócios certos, os colaboradores certos, a esposa certa, o investidor certo. Nossa rede de relacionamentos influencia tudo na nossa vida, nosso nível de prosperidade, de felicidade, tudo. Tem um livro muito legal chamado “O Poder da Conexões”, de um psicólogo de Harvard chamado Nicholas Christakis, que mostra como as conexões influenciam dinheiro, relacionamentos, energia e explica o mecanismo de que você está a seis pessoas, ou até menos, da pessoa mais rica, mais poderosa ou mais influente do mundo. Precisamos entender essa dinâmica e nos questionar o que fazer com isso.
O ponto é: como vou servir as pessoas com o que sei hoje? Agora entrei num processo de globalizar meu negócio e vou fazer isso, custe o que custar. Não só por dinheiro, mas para poder servir muita gente, porque posso me conectar com qualquer pessoa do mundo. Além disso, conectar, fazer negócios, criar confiança por parte das pessoas também é divertimento, porque quando nos conectamos, aprendemos muito. Eu quero ser feliz. Se chegar a ser bilionário, ótimo, mas quero ser feliz. É um estado de plenitude. A maioria das pessoas fica pensando no futuro, quando chegar vou ser feliz, quando ganhar dinheiro vou ser feliz. Eu já fui assim, até que percebi o tanto de coisas que aconteceram na minha vida, as oportunidades mundiais que tive e tenho e comecei a curtir, viver o presente. A felicidade de cada um é viver a vida nos seus termos, não nos dos outros.
E que mensagem você deixa para nossos tubarões?
Tenho uma tese baseada no que estou vivendo, na minha experiência: não é só o que você sabe que muda sua vida, é quem você conhece. Isso tem ficado latente diante de tudo que está acontecendo comigo. É óbvio que sei fazer outras coisas, sou um bom vendedor, mas quando você cria consciência sobre as relações e o quanto isso vai impactar na sua vida, vira uma chave. Quanto tempo a gente gasta com pessoas que não querem o que queremos e não temos consciência do que o tempo é finito? Olhem para as pessoas com quem estão se relacionando hoje vejam e se faz sentido continuar com essas pessoas, se elas vão te levar até onde você quer.
Este Papo de Tubarões traz uma pessoa muito especial, um amigo que fiz em 2019 e que tem um network incrível. Em 2015, ele ganhou um prêmio como Jovem Empreendedor. Filipe Trindade é CEO do @Knowhow_club, um dos maiores clubes de empreendedores do Brasil e também foi o primeiro jurado brasileiro no reality show da Sony International, o “Meet the Drapers”, no qual tive o prazer de fazer uma participação especial durante o Web Summit Rio.
Quem é o Filipe?
Para começar, eu sempre fui o pior aluno da escola, fiquei de recuperação da primeira série até a faculdade, porque não me encaixava naquele modelo padrão de ir para a escola e fazer uma faculdade. Para mim não fazia sentido. A sociedade pressiona a termos uma formação, mas eu não me adaptava, sentia que deveria existir algo a mais. Acredito que as coisas só fazem sentido quando vemos a necessidade delas. Outro ponto foi o diagnóstico de TDAH, que tive bem cedo na vida. Juntou tudo: não ter a clareza, quando jovem, do que queria fazer, mas querendo fazer algo grande e me encontrar durante esse processo. Não queria fazer concurso público, meu pai teve uma empresa e me encorajou muito, foi meu grande mentor e me dizia para fazer o que eu quisesse, que me encontrasse. Em 2011, com 22 anos, me encontrei no empreendedorismo, mas a primeira experiência foi uma tragedia: comprei um restaurante falido, dei meu carro e uma diferença em dinheiro, terminei de quebrar dois anos depois. O negócio deu errado porque eu não tinha a mentalidade certa, achava que ser dono é ficar atrás do balcão e esperar o cliente chegar, não precisava ter habilidade técnica, nem ir atrás, fuçar. Empreender sem conhecimento de gestão, sem a mentalidade certa, sem pessoas certas para incentivar a ser melhor e poder agregar valor, é quebra na certa.
Conversei com meu pai, ele me incentivou a seguir em frente e fui entrando em vários negócios que também não deram certo. Quando levei um fora de uma namorada um pouco mais velha, que já era médica, entendi que eu era inseguro, fazia besteiras e que não queria mais aquele tipo de vida, precisava me desenvolver. Troquei de amizades, saí de Campo Grande, onde a vida era mais pacata, sem tanta competição, segui o exemplo de um amigo e vim para São Paulo em 2015. Daí comecei a fazer outros negócios e acabei criando a Redetvbox Franchising, que atua no segmento digital indoor e me fez entender o poder das parcerias, de fazer permutas, trocas, uma coisa que faço bem hoje. Essa empresa foi ampliada para 35 cidades e foi assim que ganhei o prêmio de jovem empreendedor.
Foi aí que você acertou?
Acertei, mas não foi o que me fez explodir para o mundo. Na época da Tvbox, eu queria aumentar o funil de vendas e pensei em fazer jantares com palestrantes. Você tem muito a ver com isso, Cris. Em 2017, quando começou o Shark Tank, eu estava com meu pai em Campo Grande e decidi que vocês precisavam me conhecer, eu precisava fazer alguma coisa em relação a isso, tinha que dar um jeito de conhecer vocês. Fiquei agoniado, num sentido positivo, e tive a ideia de fazer um evento com a presença de algum dos Shark, você ou o Robinson Shiba, do China in Box. Coincidentemente, o filho de um dos meus sócios estudou no Canadá com o filho do Shiba em 2009. Retomei contato com ele, entrei em contato com o filho do Shiba, que nos incentivou a ir em frente e sugeri que ele falasse para o pai fazer Meu Shark Minha Vida. Começamos com 5 mil reais, cada sócio deu 1.250 de aporte, fomos pagando parcelado, vendemos convites, dizendo que estávamos levando o mundo para Campo Grande, levantando patrocínios e, em 54 dias, fizemos um evento com mil pessoas tendo o Shiba como âncora e assim começamos a descobrir o mercado, como se faziam eventos, parcerias. Tivemos muitos patrocinadores e adquirimos uma habilidade que pouca gente tem, até em nível mundial, de como triangular interesses, trazer patrocinadores para projetos. Posso dizer que o nosso know -how foi começar sem dinheiro.
Daí o projeto tomou corpo e começamos a desenvolver o negócio. Em 2017 fui para o Vale do Silício, onde havia feito o high school, visitei empresas, aceleradoras e, em 2018, cheguei à Draper, do magnata Tim Draper, um dos sócios investidores do Elon Musk e cuja família criou o Vale do Silício e inventou o capitalismo de risco, com a família Rockfeller.
Você me apresentou o Tim Draper num evento seu no Rio de Janeiro. Eu já conheci muita gente, distribuí 28 marcas internacionais, conheci os donos de todas elas, mas nunca encontrei alguém tão simpático, humilde e de boa como ele.
Acredito muito em energia, a gente tende a atrair pessoas com campo sistêmico similar ao nosso. Foi no Vale do Silício que começou realmente a minha jornada: quando vi o Tim Draper num reality da Sony International, mandei um e-mail, me receberam como se eu fosse um aluno da própria Draper University e decidi que um dia iria estudar lá. Aí eu soube que a Draper estava expandindo para o mundo inteiro e contei que tinha um evento no Brasil. Ou seja, entendi a necessidade, tinha meu evento, acreditei nele, tinha o material, a habilidade certa de comunicação, o timing certo, fora a vantagem de falar o idioma deles. Acredito que a gente tem que fazer, independente de saber se vai dar certo ou não. Naquela época também fiz uma reflexão que me acompanhou para sempre: eu não teria meus pais para sempre; meu pai, inclusive, faleceu em 2021. As pessoas vivem no automático, sem ter consciência da finitude da vida. Meu senso de urgência aumentou. Tudo o que faço hoje é com mais intensidade e mais gana.
No evento de 2019 a Draper me colocou em contato com a Gina Kloes, investidora anjo, advogada, grande empresária de real state na Califórnia e trainer da equipe do Tony Robbins. Fizemos uma reunião on line, ela veio participar do nosso projeto em Campo Grande, gostou do modelo de negócios do Clube de Empreendedorismo e disse que tínhamos que ir para o Vale do Silício. Veio a pandemia, parou tudo, perdi meu pai, retomei em 2021, falei com a Gina - que hoje é minha madrinha -, ela me disse que a vida precisa seguir e contou que eu havia ganhado uma bolsa para estudar na Draper University. Fui para os EUA quando o país estava abrindo na pandemia, morei lá de junho a novembro e convivi com o Tim. Muta gente me pergunta como se faz para criar relacionamentos e eu cito a Fórmula da Amizade, criada por um ex-agente do FBI, Jack Schafer, que é um dos autores do livro “Manual da Persuasão”. Ele diz que essa fórmula depende de frequência, duração, doação e intensidade. Quando você entende essa mecânica de gerar valor para as pessoas, atendê-las, saber escutar, a coisa flui, porque cria uma habilidade de comunicação, de se relacionar.
Foi o que aconteceu. Convivi com o Tim, entendi todo o ecossistema do Vale do Silício, vi como tudo funciona, quem são os big players e quem está num processo de expansão. E procurei mostrar que sou a pessoa certa para gerar valor para eles. Tive que abrir caminhos, porque muitos brasileiros foram lá, prometeram muito e não fizeram nada.
Infelizmente existem muitos brasileiros que atrapalham o caminho e isso gera um pouco de preconceito.
Quando você vive nos Estados Unidos, sabe. Mas precisamos cumprir nosso papel para reverter essa fama ruim. Já existem muitos brasileiros trabalhando bem e sendo reconhecidos.
Nesse processo todo, fiz um pitch em inglês para o Tim Draper diante de vários investidores sem ele saber, inclusive, que eu tinha na parede do meu escritório um grafite dele junto com o Elon Musk, o Steve Jobs e a Gina. Foi com essa imagem que finalizei meu pitch e por conta disso, ele viu em mim uma energia diferente e decidiu vir para Campo Grande. Começamos então a estreitar relações, desenvolver várias iniciativas e gerar valor. No ano passado, antes de vir para o Brasil, ele foi visitar o presidente do Chile e, dois dias antes do evento em que seria o palestrante âncora, caiu de um cavalo e quebrou uma costela. Ficou 20 dias internado num hospital do Chile e descobriu um tumor que não sabia que existia. Então, se não fosse a vinda para o Brasil e o cavalo, provavelmente ele não estaria entre nós. E ele é muito grato a isso.
Mais tarde voltei para os Estados Unidos e ele me nomeou como jurado e conselheiro brasileiro no Meet the Drapers, um reality show mundial transmitido pela Sony International para 100 países. Gravei o programa em maio e minha vida mudou. Comecei a viajar com ele pelo mundo, a gravar os programas e, de repente, entrei no networking dos bilionários mundiais, de políticos e líderes. É uma loucura!
Essas experiências servem para expandir ainda mais a mente, não é?
Sim. Convivendo com esses caras, percebi que eu estava a uma pessoa do homem mais rico do mundo, o Elon Musk. Uma loucura. Aprendi muito e entendi que essas pessoas são extremamente generosas, querem servir, ajudar. O problema do Tim não é dinheiro ou parecer rico, porque é rico de verdade. Ele quer servir, porque já tem tudo o que queria.
É louco quando você olha para ele, com seu terno mal cortado, um sapato surrado, uma mala de mão toda amarrada com cordas, a rodinha quebrada. Uma pessoa que se você vir na rua, não dá 5 reais. Aí às vezes você vai para alguns lugares em que os caras andam de Porsche, esnobando, mas não têm um real na conta bancária. Quem tem dinheiro de verdade não precisa mostrar que tem. Lembra do Antônio Ermírio de Moraes?
Isso é uma coisa que aprendi com ele. Convivendo com essas pessoas em nível mundial, vi que são muito simples e aprendo cada vez mais com a maneira deles pensarem, agirem. Afinal, tubarão anda com tubarão. Para mim é uma honra conviver com uma pessoa dessas e ainda ter a oportunidade de aprender.
Eu gosto de uma frase que o Steve Jobs falou quando estava doente: que todos os dias, quando acordava, se olhava no espelho e pensava: se eu fosse morrer hoje ou amanhã, faria o que vou fazer hoje? Esse pensamento mexe muito com a gente, porque percebemos que existem coisas que não gostamos, não precisamos, não deveríamos ou que talvez não valem a pena fazer, que são uma perda de tempo, uma coisa preciosa que não volta.
Vou te dar um insight: pessoas que têm essa visão operam num grau de consciência diferente. Poderoso. Muitas pessoas nem têm consciência disso, simplesmente vivem. Mas à medida em que você vai tendo experiências na vida, boas ou ruins, começa a operar num outro grau de consciência. É difícil uma pessoa que não ganha dinheiro entender o que estamos falando agora, porque ela acha que vai resolver todos os problemas se ganhar dinheiro. Não vai. Dinheiro ajuda muito, melhora muito algumas coisas, mas outras não. Não compra saúde, paz. Quanta gente ganha um mundo de dinheiro e não dorme? Eu cheguei a perguntar ao Tim o que realmente importava para alguém como ele, que tem todo dinheiro do mundo e ele respondeu: Servir. O jato em que ele viaja não é vaidade, é instrumento de trabalho. E ele serve, gosta de servir, opera num grau de consciência diferente. Faz parte pensar em status, poder, reconhecimento, mas é uma fase até você começar a entender a importância de outros valores como, por exemplo, família. O reality Meet de Drapers é isso, tem o pai dele, a irmã, às vezes chama a filha. É um programa incrível e mostra a importância de poder investir em empresas, ajudar empreendedores. Isso é muito nobre.
Quantas pessoas você impacta por ano nos seus eventos?
Este ano vai dar umas 50, 60 mil. E agora estamos entrando num processo de escala internacional: ano que vem vamos fazer eventos no Vale do Silício, em Santiago, no México. Se alguém falasse isso para mim há alguns anos eu diria que era impossível, mas acabei entendendo o que é o negócio. De um ponto de vista sistêmico, tenho vários pontos de similaridade com todas as pessoas mundo com quem tenho afinidade. Por exemplo, gravei em Los Angeles com o Anderson Silva e descobri que ele é extremamente espiritualizado. Com o tempo a gente começa a entender padrões de pessoas com quem tem afinidade a partir de uma mesma energia. Nós, empreendedores, agregamos valor compartilhando com pessoas e quando temos contato com grandes celebridades, empreendedores, vemos que são seres humanos. É importante entender que não estamos aqui para sempre, é o propósito é realizar.
Como é esse networking internacional? O que agregou, o que você vai fazer?
Já ouvi falar que habilidade de vendas e comunicação em geral são as principais habilidades de um empreendedor. Concordo e vou mais além: quando você entende o networking, para que serve, como fazer, é uma questão de tempo para chegar onde quer, seja lá qual for seu target. Entendi que o networking vai me trazer os sócios certos, os colaboradores certos, a esposa certa, o investidor certo. Nossa rede de relacionamentos influencia tudo na nossa vida, nosso nível de prosperidade, de felicidade, tudo. Tem um livro muito legal chamado “O Poder da Conexões”, de um psicólogo de Harvard chamado Nicholas Christakis, que mostra como as conexões influenciam dinheiro, relacionamentos, energia e explica o mecanismo de que você está a seis pessoas, ou até menos, da pessoa mais rica, mais poderosa ou mais influente do mundo. Precisamos entender essa dinâmica e nos questionar o que fazer com isso.
O ponto é: como vou servir as pessoas com o que sei hoje? Agora entrei num processo de globalizar meu negócio e vou fazer isso, custe o que custar. Não só por dinheiro, mas para poder servir muita gente, porque posso me conectar com qualquer pessoa do mundo. Além disso, conectar, fazer negócios, criar confiança por parte das pessoas também é divertimento, porque quando nos conectamos, aprendemos muito. Eu quero ser feliz. Se chegar a ser bilionário, ótimo, mas quero ser feliz. É um estado de plenitude. A maioria das pessoas fica pensando no futuro, quando chegar vou ser feliz, quando ganhar dinheiro vou ser feliz. Eu já fui assim, até que percebi o tanto de coisas que aconteceram na minha vida, as oportunidades mundiais que tive e tenho e comecei a curtir, viver o presente. A felicidade de cada um é viver a vida nos seus termos, não nos dos outros.
E que mensagem você deixa para nossos tubarões?
Tenho uma tese baseada no que estou vivendo, na minha experiência: não é só o que você sabe que muda sua vida, é quem você conhece. Isso tem ficado latente diante de tudo que está acontecendo comigo. É óbvio que sei fazer outras coisas, sou um bom vendedor, mas quando você cria consciência sobre as relações e o quanto isso vai impactar na sua vida, vira uma chave. Quanto tempo a gente gasta com pessoas que não querem o que queremos e não temos consciência do que o tempo é finito? Olhem para as pessoas com quem estão se relacionando hoje vejam e se faz sentido continuar com essas pessoas, se elas vão te levar até onde você quer.