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Daniel Faccini Castanho: Educação não tem que ser prioridade de um país. Tem que ser premissa

Esta semana conversei no Podcast Papo de Tubarões com Daniel Castanho, um tubarão que transforma mercados por meio da Educação

Daniel Castanho, fundador e presidente do Conselho de Administração da Ânima Educação (Divulgação/Divulgação)
Cris Arcangeli

CEO da beuty'in

Publicado em 12 de julho de 2023 às 15h19.

Esta semana conversei no Podcast Papo de Tubarões com Daniel Castanho, um tubarão que transforma mercados por meio da Educação, pela qual ele diz ter uma paixão ardente, por poder impulsionar o mundo e abrir portas para o futuro. Ele é fundador e presidente do Conselho de Administração da Ânima Educação, o maior ecossistema de educação de qualidade no Brasil, que tem foco contínuo na excelência acadêmica, implementa metodologias avançadas de ensino, tecnologias educacionais de ponta e também realiza parcerias estratégicas às necessidades dos alunos do século XXI.

Falar com Daniel Castanho é uma verdadeira lição de vida. A gente adora falar sobre Educação, porque é disso que o Brasil precisa.

Daniel, você acredita que podemos mudar o país com Educação?

Eu sou suspeito para falar. Entendo que para um país, a Educação não deve ser prioridade, tem que ser premissa! Somente a partir da educação poderemos construir um país completamente diferente. Acredito que somos consequência de tudo o que aprendemos na vida. Estamos aqui para que possamos aprender e evoluir pelas experiências que temos, crescer com o que vivemos todos os dias, inclusive com os fracassos, porque se aprendermos com eles, são fracassos bem-sucedidos. Se a pessoa não aprende nada, aí sim, é realmente um fracasso.

Na Ânima, nós somos educadores e trabalhamos com a coisa mais nobre do ser humano, que é a capacidade de sonhar, de realizar alguma coisa e fazer diferença na vida das pessoas.

Quem é Daniel Castanho?

Sou uma pessoa apaixonada, inconformada em relação a transformar a Educação no Brasil e tento, de alguma maneira, ser competente no que faço. Sou fruto de todas as experiências e vivências que passei na vida. Meu propósito de vida é transformar o Brasil pela Educação e transformar a Educação do Brasil.

Nasci em Sorocaba, meu pai é diretor da escola e cresci participando de conversas sobre Educação.  Num determinado momento, resolvi empreender em outras áreas, morei fora, mas também como professor dava aula de Matemática, Estatística, Física e Química.

Em 2000, criamos algumas empresas pontocom e, em 2002, quando a primeira bolha da internet estourou, tivemos que fechar as 13 empresas que tínhamos criado. Ao fecharmos essas empresas, 10 pessoas totalmente diferenciadas continuaram conosco e nos acompanharam em um sonho coletivo. Em 2003, compramos um Centro Universitário, em Belo Horizonte, a Una, que estava praticamente quebrada. Nós assumimos a Una para fazer o máximo que pudéssemos. Nunca demos menos que o máximo e foi assim, com muito trabalho e um pouco de sorte, que reestruturamos a Una. A instituição começou a crescer. Na sequência, em 2006, compramos a Unimonte, em Santos, que estava na mesma situação e, em 2009, foi a vez do UniBH, em Belo Horizonte.

Reestruturamos essas instituições e continuamos crescendo. Abrimos capital em 2013 e hoje temos uma comunidade composta por 400 mil alunos e 18 mil pessoas trabalhando no Brasil inteiro. Sou uma pessoa totalmente envolvida com Educação, e o que me define é ser uma pessoa que quer impactar mais, ajudar mais, transformar mais, ajudar a fazer com que o mundo seja diferente. Acredito que a gente não é o que junta, mas o que espalha.

Se eu pensar, de maneira profunda, se mudaria alguma coisa na minha vida, eu diria que não mudaria nada, porque se mudasse alguma coisa não seria quem sou hoje.  Essa é a grande beleza da vida.

Eu vejo uma diferença entre empresário e empreendedor. O empresário arrisca seu dinheiro, seu capital. O empreendedor trabalha por uma causa, por um propósito, em querer fazer diferente. Tem empresário que não é empreendedor. Tem empreendedor que não é empresário, que arrisca o capital do outro. Na Ânima, não temos funcionários, somos 18 mil empreendedores. Quando abrimos o capital, doamos ações para todos eles.

Quando olhamos para os mercados em geral, a Educação parece que está mudando, repensando matérias, inclusive algumas escolas até estão dando aulas de empreendedorismo, o que é maravilhoso. Como é essa transformação?

A Educação de hoje foi baseada na estrutura criada a partir da queda do Império Romano, com escolas dogmáticas, que ensinavam o que os detentores do poder achavam que o aluno precisava saber. Isso resultou nas escolas tradicionais, que colocam os alunos em fila, sentam em filas, o sinal bate para sair e voltar. Até os termos como grade curricular, disciplina, lembra um presídio. Esse modelo, em que todo mundo fica de maneira passiva, vai destruindo a criatividade, porque a Educação foi moldada para que todo mundo saia sabendo a mesma coisa, oferece o mesmo conteúdo para todo mundo, na mesma velocidade.  Não existe a personalização.

Os professores transmitem conteúdo e cobram provas que têm respostas certas, tem gabarito. Se tem gabarito, cabe no algoritmo e, portanto, poderia ser substituído pela Inteligência Artificial, que faz melhor o que é padronizado. Ou seja, o grande problema é que a escola prepara o aluno para caber no algoritmo. Precisamos repensar esse modelo escolar. Digo que estamos no momento de maior disrupção da história da Educação dos últimos 500 anos. A grande mudança, hoje, é termos a possibilidade de oferecer uma Educação personalizada para muitos. Precisamos usar tecnologia para uma disrupção, nada a ver com aulas on-line ou presenciais. A proposta de valor da escola não é entregar conteúdo, cobrar uma prova e dar um certificado.  A proposta de valor atual da escola é ajudar o aluno a descobrir quem ele é, é a mentoria, é fazer com que cada aluno descubra o seu Ikigai.

Quando o Yuval Harari veio ao Brasil, ele disse que a escola deveria fazer três coisas: despertar a curiosidade, o desejo de aprender, trazer coisas que o aluno não sabe, até chegar no estágio em que ele nem sabe que sabe, despertar essa incrível curiosidade;  ensinar a lidar com o erro, porque muitas vezes o erro trava; e, também, ensinar as pessoas  a terem equilíbrio emocional em situações não familiares. Resumindo, tudo na escola tem que fazer com que o aluno desenvolva equilíbrio emocional e flexibilidade mental.

Como as redes sociais fazem parte de uma onda que é a evolução dos algoritmos do e-commerce, elas trabalham com a mesma lógica de otimização da venda. Se eu der um like em um conteúdo, é estabelecida uma propensão maior de mostrar conteúdos que sejam parecidos àquele para mim e a todos que curtiram aquele material. Isso faz com que as pessoas pensem de maneira igual e sejam menos tolerantes ao lidar com o diferente. O papel da escola é incentivar o conflito de ideias, que é a única maneira de evitar o confronto de pessoas. Os alunos precisam trabalhar por projetos, por desafios, para dar significado ao que aprendem. Acredito que em pouco tempo os alunos não vão escolher uma carreira específica, mas vão definindo o percurso formativo durante o tempo que estiver na Universidade. Vai começar a entender quem é, desenvolver o autoconhecimento, o que aumentará sua autoestima e não terá medo de arriscar, de ousar e de ser protagonista da própria história.

Penso que a escola não tem que trabalhar por disciplinas, mas por projetos, onde cada um possa definir suas competências de maneira holística, escolhendo o que quer fazer a partir de um curso básico que desperte a curiosidade, porque quanto mais experiência o aluno tiver, melhor vai ser. Ele poderá entender o que mais gosta, quem é, com o que tem mais afinidade e aí, sim, conseguirá afunilar e ser muito bom em uma coisa e ser generalista por outro lado.

E a questão de idade? Você vê a Educação Infantil como um ponto de partida?

O ensino infantil é muito mais importante do que se imagina, porque é momento que amplia os horizontes das crianças, é quando explodem as sinapses. Quanto mais experiências diversificadas a criança tiver, melhor. A escola não tem que ensinar só matemática, tem que ensinar através da matemática, não deve ensinar somente história, mas através da história. Quando a criança consegue fazer uma correlação, fica muito mais interessante entender a história, por exemplo, e compreender alguns movimentos que estão acontecendo hoje. A escola precisa usar o conteúdo dando a ele um significado, tem que gerar necessidades para surgir o desejo de aprender.

Mais tarde, na Universidade, é importante que tudo esteja integrado, a escola, o mercado de trabalho e as empresas, para que o aluno dê significado ao que está aprendendo.

As pessoas passam mais da metade da vida estudando. Se não estiverem felizes, é sinal que está tudo errado?

A escola tem o papel de fazer a coisa mais nobre do ser humano: fazer dele o que ele vai ser. O professor precisa fazer com que todo mundo se apaixone por descobrir o que quer ser. A escola se constrói pela relação do professor e aluno e isso tem que ser um momento mágico, incrível. Cada aluno é uma pedra a ser lapidada, cada uma tem sua preciosidade, algumas têm que ser mais lapidadas que outras. O professor, assim como um bom líder, precisa inspirar e provocar os alunos para que acreditem nele, ampliem seu repertório, vejam o que é o mundo, façam novas conexões, despertem a curiosidade e vejam o fracasso como algo que o desafie.

Para trabalhar, as pessoas têm que ser inconformadas, têm que ter a ambição de querer e assim vamos desenvolvendo empreendedores que descubram o que vieram fazer neste mundo para, de alguma maneira mudar o país. Uma vez escutei que todo ser humano tem duas vidas e a segunda começa quando você descobre que tem uma só.

Por isso, sempre dizemos que o que procuramos na Ânima são pessoas apaixonadas, inconformadas e competentes e que tenham em mente que o mais importante é fazer do que ter. Então, hoje se temos o propósito de transformar o país pela educação, nós temos a intenção de contribuir pra que outras instituições de ensino possam se reinventarem, fazer parte de um grande  ecossistema de transformação do país. As pessoas precisam sonhar, ter a gana de querer aprender, evoluir. As pessoas precisam ter o desejo de impactar mais a vida das pessoas positivamente.

Eu percebi, falando com você, que sempre fui uma pessoa inquieta, nunca aceitei o status quo de nada. É isso o que importa?

Eu acredito que o oposto de pertencer é se encaixar.  Não tem que vestir a camisa da empresa, tem que trazer a sua e ela tem que ornar com o resto. A gente nada mais é que um grande mosaico que vai aprendendo com todo mundo. Pertencer de verdade é ser quem você é e não abrir mão de si mesmo, se afastar da própria essência. Para isso, precisa aprender também a ouvir, escutar alguém que pensa diferente e refletir sobre aquilo.  Tem gente que ouve e tem quem só espera a própria vez de falar. Numa reunião, se todo mundo pensa da mesma maneira, não precisa de todo mundo, nem de reunião. É preciso provocar reflexão do outro lado, para concordar, discordar ou dar uma outra opinião. Criar pontes em vez de muros. Nas minhas reuniões mais difíceis, por exemplo, eu só faço perguntas.

As empresas também precisam criar um ambiente que fomente a inovação. Sempre digo que cargo não entra em reunião. Quem define tem que ser quem sabe mais sobre o assunto. É muito legar refletir sobre ter a humildade de entender que isso não tem a ver com cargo, tem a ver com experiência de vida.

Você acha que está mais difícil contratar pessoas que estejam realmente comprometidas? Eu vejo muita gente que não tem aquele entusiasmo com o negócio, que tem muita pressa de fazer as coisas, imediatistas demais.

Estamos passando por mudanças grandes. O sucesso para nossos pais era entrar numa empresa e depois de 30, 40 anos se aposentar, ou se fosse empreendedor, ficar a vida inteira naquele negócio. Hoje, as pessoas trabalham um tempo num lugar, depois no outro. O pessoal mais jovem vai trabalhar por projetos que tenham significado com começo, meio e fim. Enquanto você estiver fazendo um trabalho, que ele seja apaixonante, incrível, que você esteja no melhor lugar em que puder estar, com os recursos que tiver naquele momento. Se mudar, aprender outras coisas, não tem problema, porque a vida é esse conjunto de ciclos. Tem que ser divertido, gostoso. Para mim uma das coisas mais preciosas e valiosas do ser humano é a liberdade, o tempo. Muitas vezes você acha que tem liberdade financeira, cognitiva, de mobilidade, intelectual, mas é refém do seu ego. Muita gente só tem dinheiro, é refém de algo que construiu. A pessoa tem que entender quem é, a essência e quanto mais próxima estiver dela, mais feliz vai ser. Felicidade não é algo externo. A vida é um aprendizado para crescer, evoluir, ser cada vez melhor para se tornar quem você é efetivamente.

Como se faz isso no dia a dia?

A vida consome e quando você vê, acaba no automático. O cérebro é igual ao estômago. Se você ficar 7 dias sem comer, não vai dar para comer 7 refeições de uma vez só, porque não cabe. Se ficar 7 dias sem aprender, não vai aprender muita coisa no oitavo dia.  Por isso, temos que nos desafiar o tempo todo, mesmo tendo que resolver problemas, coisas do cotidiano, como se estivéssemos às vezes andando de lado. Mas é só dar um passinho de cada vez. Tem muita gente que pode estar diante de um negócio incrível, mas só enxerga aquela coisinha pequena em que está focada. Você tem que ampliar a sua capacidade de enxergar, de observar.

A música, a pintura, a arte desenvolve a sensibilidade que é a capacidade de enxergar o que não foi escrito ou está explícito. Esta talvez seja a característica mais profunda do ser humano, que nos diferencia dos outros animais.

Se a escola hoje está formatando todo mundo para ser mais robôs, vamos enfrentar isso desenvolvendo a sensibilidade, a criatividade, usando as artes, fazendo com que as pessoas não tenham medo de conflitar, de viver num mundo diverso. Temos que adorar a diversidade, não só tolerar ou aceitar. Quando se tem o desejo, a curiosidade pelo novo, pelo diferente, pelo desconhecido, nos tornamos pessoas muito mais interessantes.

Uma pessoa, para crescer na vida, tem que ter curiosidade sobre as coisas. Eu sempre disse que sou movido a desafio, mas descobri também que sou movido pela curiosidade de saber como funciona, como fazer diferente, impactar de forma diferente.

Preste atenção e comece a observar outras coisas. Temos que pensar em coisas que podem quebrar o que estamos fazendo hoje. Precisamos ter uma mentalidade de estarmos abertos, entender e repensar qual o nosso propósito sem estarmos presos a dogmas, Ser autêntico e genuíno no que se propôs e fazer algo diferente que você se orgulhe.

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Falar com Daniel Castanho é uma verdadeira lição de vida. A gente adora falar sobre Educação, porque é disso que o Brasil precisa.

Daniel, você acredita que podemos mudar o país com Educação?

Eu sou suspeito para falar. Entendo que para um país, a Educação não deve ser prioridade, tem que ser premissa! Somente a partir da educação poderemos construir um país completamente diferente. Acredito que somos consequência de tudo o que aprendemos na vida. Estamos aqui para que possamos aprender e evoluir pelas experiências que temos, crescer com o que vivemos todos os dias, inclusive com os fracassos, porque se aprendermos com eles, são fracassos bem-sucedidos. Se a pessoa não aprende nada, aí sim, é realmente um fracasso.

Na Ânima, nós somos educadores e trabalhamos com a coisa mais nobre do ser humano, que é a capacidade de sonhar, de realizar alguma coisa e fazer diferença na vida das pessoas.

Quem é Daniel Castanho?

Sou uma pessoa apaixonada, inconformada em relação a transformar a Educação no Brasil e tento, de alguma maneira, ser competente no que faço. Sou fruto de todas as experiências e vivências que passei na vida. Meu propósito de vida é transformar o Brasil pela Educação e transformar a Educação do Brasil.

Nasci em Sorocaba, meu pai é diretor da escola e cresci participando de conversas sobre Educação.  Num determinado momento, resolvi empreender em outras áreas, morei fora, mas também como professor dava aula de Matemática, Estatística, Física e Química.

Em 2000, criamos algumas empresas pontocom e, em 2002, quando a primeira bolha da internet estourou, tivemos que fechar as 13 empresas que tínhamos criado. Ao fecharmos essas empresas, 10 pessoas totalmente diferenciadas continuaram conosco e nos acompanharam em um sonho coletivo. Em 2003, compramos um Centro Universitário, em Belo Horizonte, a Una, que estava praticamente quebrada. Nós assumimos a Una para fazer o máximo que pudéssemos. Nunca demos menos que o máximo e foi assim, com muito trabalho e um pouco de sorte, que reestruturamos a Una. A instituição começou a crescer. Na sequência, em 2006, compramos a Unimonte, em Santos, que estava na mesma situação e, em 2009, foi a vez do UniBH, em Belo Horizonte.

Reestruturamos essas instituições e continuamos crescendo. Abrimos capital em 2013 e hoje temos uma comunidade composta por 400 mil alunos e 18 mil pessoas trabalhando no Brasil inteiro. Sou uma pessoa totalmente envolvida com Educação, e o que me define é ser uma pessoa que quer impactar mais, ajudar mais, transformar mais, ajudar a fazer com que o mundo seja diferente. Acredito que a gente não é o que junta, mas o que espalha.

Se eu pensar, de maneira profunda, se mudaria alguma coisa na minha vida, eu diria que não mudaria nada, porque se mudasse alguma coisa não seria quem sou hoje.  Essa é a grande beleza da vida.

Eu vejo uma diferença entre empresário e empreendedor. O empresário arrisca seu dinheiro, seu capital. O empreendedor trabalha por uma causa, por um propósito, em querer fazer diferente. Tem empresário que não é empreendedor. Tem empreendedor que não é empresário, que arrisca o capital do outro. Na Ânima, não temos funcionários, somos 18 mil empreendedores. Quando abrimos o capital, doamos ações para todos eles.

Quando olhamos para os mercados em geral, a Educação parece que está mudando, repensando matérias, inclusive algumas escolas até estão dando aulas de empreendedorismo, o que é maravilhoso. Como é essa transformação?

A Educação de hoje foi baseada na estrutura criada a partir da queda do Império Romano, com escolas dogmáticas, que ensinavam o que os detentores do poder achavam que o aluno precisava saber. Isso resultou nas escolas tradicionais, que colocam os alunos em fila, sentam em filas, o sinal bate para sair e voltar. Até os termos como grade curricular, disciplina, lembra um presídio. Esse modelo, em que todo mundo fica de maneira passiva, vai destruindo a criatividade, porque a Educação foi moldada para que todo mundo saia sabendo a mesma coisa, oferece o mesmo conteúdo para todo mundo, na mesma velocidade.  Não existe a personalização.

Os professores transmitem conteúdo e cobram provas que têm respostas certas, tem gabarito. Se tem gabarito, cabe no algoritmo e, portanto, poderia ser substituído pela Inteligência Artificial, que faz melhor o que é padronizado. Ou seja, o grande problema é que a escola prepara o aluno para caber no algoritmo. Precisamos repensar esse modelo escolar. Digo que estamos no momento de maior disrupção da história da Educação dos últimos 500 anos. A grande mudança, hoje, é termos a possibilidade de oferecer uma Educação personalizada para muitos. Precisamos usar tecnologia para uma disrupção, nada a ver com aulas on-line ou presenciais. A proposta de valor da escola não é entregar conteúdo, cobrar uma prova e dar um certificado.  A proposta de valor atual da escola é ajudar o aluno a descobrir quem ele é, é a mentoria, é fazer com que cada aluno descubra o seu Ikigai.

Quando o Yuval Harari veio ao Brasil, ele disse que a escola deveria fazer três coisas: despertar a curiosidade, o desejo de aprender, trazer coisas que o aluno não sabe, até chegar no estágio em que ele nem sabe que sabe, despertar essa incrível curiosidade;  ensinar a lidar com o erro, porque muitas vezes o erro trava; e, também, ensinar as pessoas  a terem equilíbrio emocional em situações não familiares. Resumindo, tudo na escola tem que fazer com que o aluno desenvolva equilíbrio emocional e flexibilidade mental.

Como as redes sociais fazem parte de uma onda que é a evolução dos algoritmos do e-commerce, elas trabalham com a mesma lógica de otimização da venda. Se eu der um like em um conteúdo, é estabelecida uma propensão maior de mostrar conteúdos que sejam parecidos àquele para mim e a todos que curtiram aquele material. Isso faz com que as pessoas pensem de maneira igual e sejam menos tolerantes ao lidar com o diferente. O papel da escola é incentivar o conflito de ideias, que é a única maneira de evitar o confronto de pessoas. Os alunos precisam trabalhar por projetos, por desafios, para dar significado ao que aprendem. Acredito que em pouco tempo os alunos não vão escolher uma carreira específica, mas vão definindo o percurso formativo durante o tempo que estiver na Universidade. Vai começar a entender quem é, desenvolver o autoconhecimento, o que aumentará sua autoestima e não terá medo de arriscar, de ousar e de ser protagonista da própria história.

Penso que a escola não tem que trabalhar por disciplinas, mas por projetos, onde cada um possa definir suas competências de maneira holística, escolhendo o que quer fazer a partir de um curso básico que desperte a curiosidade, porque quanto mais experiência o aluno tiver, melhor vai ser. Ele poderá entender o que mais gosta, quem é, com o que tem mais afinidade e aí, sim, conseguirá afunilar e ser muito bom em uma coisa e ser generalista por outro lado.

E a questão de idade? Você vê a Educação Infantil como um ponto de partida?

O ensino infantil é muito mais importante do que se imagina, porque é momento que amplia os horizontes das crianças, é quando explodem as sinapses. Quanto mais experiências diversificadas a criança tiver, melhor. A escola não tem que ensinar só matemática, tem que ensinar através da matemática, não deve ensinar somente história, mas através da história. Quando a criança consegue fazer uma correlação, fica muito mais interessante entender a história, por exemplo, e compreender alguns movimentos que estão acontecendo hoje. A escola precisa usar o conteúdo dando a ele um significado, tem que gerar necessidades para surgir o desejo de aprender.

Mais tarde, na Universidade, é importante que tudo esteja integrado, a escola, o mercado de trabalho e as empresas, para que o aluno dê significado ao que está aprendendo.

As pessoas passam mais da metade da vida estudando. Se não estiverem felizes, é sinal que está tudo errado?

A escola tem o papel de fazer a coisa mais nobre do ser humano: fazer dele o que ele vai ser. O professor precisa fazer com que todo mundo se apaixone por descobrir o que quer ser. A escola se constrói pela relação do professor e aluno e isso tem que ser um momento mágico, incrível. Cada aluno é uma pedra a ser lapidada, cada uma tem sua preciosidade, algumas têm que ser mais lapidadas que outras. O professor, assim como um bom líder, precisa inspirar e provocar os alunos para que acreditem nele, ampliem seu repertório, vejam o que é o mundo, façam novas conexões, despertem a curiosidade e vejam o fracasso como algo que o desafie.

Para trabalhar, as pessoas têm que ser inconformadas, têm que ter a ambição de querer e assim vamos desenvolvendo empreendedores que descubram o que vieram fazer neste mundo para, de alguma maneira mudar o país. Uma vez escutei que todo ser humano tem duas vidas e a segunda começa quando você descobre que tem uma só.

Por isso, sempre dizemos que o que procuramos na Ânima são pessoas apaixonadas, inconformadas e competentes e que tenham em mente que o mais importante é fazer do que ter. Então, hoje se temos o propósito de transformar o país pela educação, nós temos a intenção de contribuir pra que outras instituições de ensino possam se reinventarem, fazer parte de um grande  ecossistema de transformação do país. As pessoas precisam sonhar, ter a gana de querer aprender, evoluir. As pessoas precisam ter o desejo de impactar mais a vida das pessoas positivamente.

Eu percebi, falando com você, que sempre fui uma pessoa inquieta, nunca aceitei o status quo de nada. É isso o que importa?

Eu acredito que o oposto de pertencer é se encaixar.  Não tem que vestir a camisa da empresa, tem que trazer a sua e ela tem que ornar com o resto. A gente nada mais é que um grande mosaico que vai aprendendo com todo mundo. Pertencer de verdade é ser quem você é e não abrir mão de si mesmo, se afastar da própria essência. Para isso, precisa aprender também a ouvir, escutar alguém que pensa diferente e refletir sobre aquilo.  Tem gente que ouve e tem quem só espera a própria vez de falar. Numa reunião, se todo mundo pensa da mesma maneira, não precisa de todo mundo, nem de reunião. É preciso provocar reflexão do outro lado, para concordar, discordar ou dar uma outra opinião. Criar pontes em vez de muros. Nas minhas reuniões mais difíceis, por exemplo, eu só faço perguntas.

As empresas também precisam criar um ambiente que fomente a inovação. Sempre digo que cargo não entra em reunião. Quem define tem que ser quem sabe mais sobre o assunto. É muito legar refletir sobre ter a humildade de entender que isso não tem a ver com cargo, tem a ver com experiência de vida.

Você acha que está mais difícil contratar pessoas que estejam realmente comprometidas? Eu vejo muita gente que não tem aquele entusiasmo com o negócio, que tem muita pressa de fazer as coisas, imediatistas demais.

Estamos passando por mudanças grandes. O sucesso para nossos pais era entrar numa empresa e depois de 30, 40 anos se aposentar, ou se fosse empreendedor, ficar a vida inteira naquele negócio. Hoje, as pessoas trabalham um tempo num lugar, depois no outro. O pessoal mais jovem vai trabalhar por projetos que tenham significado com começo, meio e fim. Enquanto você estiver fazendo um trabalho, que ele seja apaixonante, incrível, que você esteja no melhor lugar em que puder estar, com os recursos que tiver naquele momento. Se mudar, aprender outras coisas, não tem problema, porque a vida é esse conjunto de ciclos. Tem que ser divertido, gostoso. Para mim uma das coisas mais preciosas e valiosas do ser humano é a liberdade, o tempo. Muitas vezes você acha que tem liberdade financeira, cognitiva, de mobilidade, intelectual, mas é refém do seu ego. Muita gente só tem dinheiro, é refém de algo que construiu. A pessoa tem que entender quem é, a essência e quanto mais próxima estiver dela, mais feliz vai ser. Felicidade não é algo externo. A vida é um aprendizado para crescer, evoluir, ser cada vez melhor para se tornar quem você é efetivamente.

Como se faz isso no dia a dia?

A vida consome e quando você vê, acaba no automático. O cérebro é igual ao estômago. Se você ficar 7 dias sem comer, não vai dar para comer 7 refeições de uma vez só, porque não cabe. Se ficar 7 dias sem aprender, não vai aprender muita coisa no oitavo dia.  Por isso, temos que nos desafiar o tempo todo, mesmo tendo que resolver problemas, coisas do cotidiano, como se estivéssemos às vezes andando de lado. Mas é só dar um passinho de cada vez. Tem muita gente que pode estar diante de um negócio incrível, mas só enxerga aquela coisinha pequena em que está focada. Você tem que ampliar a sua capacidade de enxergar, de observar.

A música, a pintura, a arte desenvolve a sensibilidade que é a capacidade de enxergar o que não foi escrito ou está explícito. Esta talvez seja a característica mais profunda do ser humano, que nos diferencia dos outros animais.

Se a escola hoje está formatando todo mundo para ser mais robôs, vamos enfrentar isso desenvolvendo a sensibilidade, a criatividade, usando as artes, fazendo com que as pessoas não tenham medo de conflitar, de viver num mundo diverso. Temos que adorar a diversidade, não só tolerar ou aceitar. Quando se tem o desejo, a curiosidade pelo novo, pelo diferente, pelo desconhecido, nos tornamos pessoas muito mais interessantes.

Uma pessoa, para crescer na vida, tem que ter curiosidade sobre as coisas. Eu sempre disse que sou movido a desafio, mas descobri também que sou movido pela curiosidade de saber como funciona, como fazer diferente, impactar de forma diferente.

Preste atenção e comece a observar outras coisas. Temos que pensar em coisas que podem quebrar o que estamos fazendo hoje. Precisamos ter uma mentalidade de estarmos abertos, entender e repensar qual o nosso propósito sem estarmos presos a dogmas, Ser autêntico e genuíno no que se propôs e fazer algo diferente que você se orgulhe.

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