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Da inquietude para o maior e-commerce de vinhos do mundo

Rogério Salume fundou a Estação do Vinho em 2003, o primeiro e-commerce de vinhos do Brasil, negócio precursor à Wine, criada em 2018

 (Reprodução/Reprodução)
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Cris Arcangeli — Empreender Liberta

Publicado em 30 de março de 2023 às, 09h00.

Nosso entrevistado, Rogério Salume, se define como vendedor e “inquieto”. Gosta de ler e estudar, principalmente para conhecer o produto, saber vender, treinar equipes para terem um diferencial, conhecer o ambiente e o mercado.  Em 2003 fundou a Estação do Vinho, o primeiro e-commerce de vinhos do Brasil, negócio precursor à Wine, (wine.com.br) criada em 2018 e que hoje está entre os top 3 e-commerce de vinhos do mundo, com um faturamento de R$ 930 milhões em 2022 e deve ultrapassar R$ 1 bilhão até o final deste ano.

Rogério, conte um pouco sobre a história da Wine até chegar a esta potência que é hoje.

Eu sempre trabalhei com vendas: comecei com guloseimas e, no final da década de 90, comecei a atuar com vinhos. Minha jornada como vendedor ensinou que eu precisava estudar e foi assim que entrei no mundo do vinho: comecei a ler sobre o assunto, a estudar e gostei. Com a abertura das importações durante o governo Collor, no início dos anos 1990, o vinho se tornou mais fácil de vender. Até então, no Brasil havia somente seis importadores que comercializavam as grandes marcas internacionais. Com a abertura, a pessoas começaram a se interessar pelo vinho, que era considerado uma bebida chique, elitista e que dava uma sensação de poder. Naquela época, o consumo era de menos de 400 ml per capita por ano. Muito pouco.

Infelizmente a empresa em que eu trabalhava quebrou. Ao mesmo tempo, minha vida mudou: fui estudar. Fiz Comunicação Social, MBA em Marketing na GV, Finanças no IBMEC. Também conheci o Adolar Elo Hermann, fundador da Decanter de Blumenau, que me deu um crédito, representação e distribuição dos vinhos da empresa. Essa operação deu certo, comecei a entender mais sobre o assunto, frequentava confrarias, vendia e promovia eventos, como jantares harmonizados.

Quando as vendas pela internet começaram a surgir, pesquisei o assunto e lancei um site simples, chamado Estação do Vinho, o primeiro site de venda de vinhos no Brasil e único por vários anos. Multipliquei por 10 as vendas no Espírito Santo, comecei a receber pedidos de outros estados e resolvi mudar para São Paulo, em busca de um mercado de profissionais especializados em Internet. No final de 2003 recebi um aporte de quatro investidores anjos e montei a estrutura de e-commerce maior em São Paulo, num mercado até então dominado por importadores que faziam uma pressão bem forte.

Em quatro anos passei do zero a um faturamento de R$ 16 milhões, e vendi a operação em 2008. No mesmo ano lancei a Wine, com o objetivo de montar um negócio mais estruturado, tendo em vista que acreditava demais no mercado e queria investir no segmento.

Foi neste momento que surgiu a Wine?

Exato. Acreditei no meu projeto e, em 2008, nasceu a Wine, com investidores mais estruturados, que tinham tanta paixão pelo vinho como eu. O e-commerce entrou no ar no dia 9 de novembro daquele ano. Deu tão certo que nosso primeiro ano foi maior o último faturamento da Estação do Vinho.  A Wine nasceu como e-commerce e, em 2010, lancei o Clube de Vinhos; em 2014, a plataforma B2B para restaurantes e revendedores; em 2016, a venda direta com o We Wine. Hoje somos o maior e-commerce de vinhos na América Latina, estamos no México, somos o maior Clube de Vinhos do mundo e a maior importadora de vinhos do Brasil.

Até 2019 estive à frente da Wine como CEO, liderando um time de 450 colaboradores diretos. Em 2018, depois de 17 anos como CEO, entendi que era hora de mudar e, em 2019, decidi sair da função executiva para ser acionista e conselheiro da empresa. Hoje sou só acionista. Confesso que passei por um momento muito duro de março a julho daquele ano, porque resolvi que só iria ao escritório um dia por semana, para não atrapalhar o processo. É complicado entender que as pessoas fazem as coisas de maneira diferente, agem diferente, cada um tem seu perfil e que o mais importante é mirar e atingir o resultado proposto e manter a cultura sólida e forte.

Ao mesmo tempo posso dizer que esse também foi um momento de grande aprendizado, de saber controlar emoções. Mas como a decisão foi minha, consegui controlar melhor. E então veio a pandemia, que levou todo mundo para o home office. Aproveitei para estudar mais e me envolvi em projetos como o União ES, que tem movimentado todo o estado. Agora faço parte de mais 7 outros negócios, nas áreas de dark kitchens, bebidas urbanas, produtos agro mineral alcalinos, investimentos e tenho feito palestras e dado mentorias. Tudo está muito bem.

A Wine está consolidada como uma empresa omnichannel de verdade, pois temos uma tecnologia única, muito avançada e feita em casa, que une loja, b2b, b2c, aplicativo, eventos, tudo numa única plataforma, que gera a mesma experiência em qualquer ponto de contato.

Em que momento você entendeu que o futuro está nas mãos de quem se antecipa em tendências com uma mentalidade futurista e transformou essa percepção em negócio, na fundação da Wine?

O futuro acontece hoje e muda radicalmente a rotina das pessoas. Sempre fui inquieto, gosto de estudar, de ler, de me relacionar, de conversar com pessoas mais experientes. Sempre me interessei pelo futuro, em saber o que vai acontecer lá na frente. Quando começou a Estação do Vinho, eu já tinha como perspectiva uma empresa com muita gente trabalhando, feliz e eu podendo dividir resultados com  todos. Uma empresa que levasse experiências diferentes para os clientes, em qualquer plataforma que estivesse disponível. Para mim, futuro é entregar hoje alguma coisa que as pessoas não estão esperando, mas têm expectativa. Quando você entrega o futuro, ele vira presente.

E a tecnologia, qual o seu papel como ferramenta para o desenvolvimento de novos mercados, voltados à solução de problemas, à sustentabilidade e à ampliação de oportunidades de conhecimento, de trabalho e à construção de uma sociedade mais justa?

A tecnologia está aí para ajudar a gerar experiências, para entregar momentos de prazer, dar às pessoas a possibilidade de ter mais tempo para suas atividades prediletas. A tecnologia torna o trabalho mais rápido, eficiente, produtivo, capacita as pessoas a pensar, em vez de só executar. A tecnologia sempre provoca um pensar diferente, a ação mais rápida e deve ser usada em prol da melhora de qualidade de vida, para que ninguém fique se repetindo, pois não dá para retroagir, Só evoluir.

Eu vivo a tecnologia como usuário, embora tenha liderado por muitos anos uma empresa fundada em tecnologia. Para isso precisei contar com profissionais, pessoas competentes. Podemos ter a melhor tecnologia, mas a diferença sempre vai estar nas pessoas. Porque mesmo que faça o trabalho mais rápido, eficiente e produtivo, não dá para trocar pessoas por máquinas. Essa é minha crença inegociável.

E qual a importância de compartilhar conhecimentos e experiências com novos empreendedores, como acontecerá no Imersão Centurion?

Em 2003, quando comecei, não havia networking. Cada um ficava na sua, tentava conseguir informações para aplicar no negócio e era muito difícil. Se, naquela época, houvesse a disponibilidade de networking que temos hoje, as coisas seriam diferentes, até mesmo na redução do tempo de aprendizado. Quantas empresas, ideias, empreendedores incríveis não conseguiram dar o próximo passo porque faltou orientação, faltou alguém para dar uma mão.

Hoje em dia isso está tudo disponível. Uma das grandes ferramentas de sucesso de um empreendimento são as relações, os contatos, as pessoas que podem falar a verdade que muitas vezes você não quer ouvir, que mostrem os caminhos que você pode ou não deixar de percorrer. Essas informações estão na arena. Cada um decide o que vai fazer ou não. E se você acredita que tem um diferencial, que vai mudar o ponteiro de sua empresa, vá em frente.